A conclusão de Hugo Carneiro, vice-presidente da bancada social-democrata, é simples e matemática: “Eles [BE, PCP e Chega] são mais parecidos do que nós pensamos. Há mais comunismo e bloquismo no Chega do que poderíamos pensar”..A aprovação final do Orçamento do Estado para 2025, revelou, nas contas dos partidos, “entendimentos” na viabilização de propostas, que para o deputado do PSD “não são inéditos”, mas que “demonstram que no momento da verdade as palavras não condizem com os atos”..Os dados mais relevantes indicam que o Chega - que classificou o OE2025 de “frágil, frouxo e fofinho” - viabilizou “80% das propostas do BE e 87% das do PCP”. Em sentido inverso, o Bloco de Esquerda permitiu a viabilização de “78% das medidas” do partido de André Ventura, enquanto o PCP “viabilizou 71%”..“O que é caricato”, diz Hugo Carneiro, “é que o Chega diz querer limpar o socialismo e a esquerda de Portugal e depois são eles quem mais aprovam propostas do BE e PCP”..Fonte parlamentar do PS, ao DN, considera “existir [nestes partidos] uma menor preocupação da dimensão orçamental” que pode levar a tão elevadas aprovações “percentualmente”, mas também sublinha que num documento com “centenas e centenas de propostas” que “nem deviam fazer parte de um Orçamento do Estado” surjam “tantas aprovações”. .Nas contas gerais, segundo os dados revelados ao DN, o partido de André Ventura “viabilizou com o voto a favor ou a abstenção 66% das propostas da esquerda”. O PS nesta contabilidade parlamentar registou a aprovação de 3 medidas do Chega, o que se traduz em 1%. .Os socialistas que, nas palavras de Pedro Nuno Santos recusam ser “suporte deste Governo” de Luís Montenegro e Nuno Melo que é “profundamente incompetente”, estiveram, no entanto, mais próximos da Aliança Democrática e do PAN do que dos partidos da antiga geringonça. .O PS viabilizou, pelos dados revelados, 48% das propostas da AD, 26% do PAN, 18% do Livre, 14% do BE, 7% do PCP e ainda 1% das propostas da Iniciativa Liberal. .Os sociais-democratas e os centristas, em percentagens mais baixas, deram principalmente apoio, através do voto favorável ou da abstenção, a socialistas, liberais e ao PAN. A AD viabilizou, assim, 17% das medidas do PS, 13% da IL, 10% do PAN, 5% do Chega, 4% do Livre e 3% das propostas de BE e PCP..No ranking orçamental das medidas, a AD conseguiu ver aprovadas 59 propostas, o PAN somou 46, o PCP 35, o Livre 29, o BE 27, o Chega 26, o PS 19 e IL 6. .E “muitas”, dizem ao DN fontes parlamentares de PS e PSD, “não fazem sentido nenhum, em nenhum Orçamento”. .Exemplos? A proposta do PCP para que “em 2025 o Governo adota as medidas de apoio à CP, inclusive no plano diplomático, para que esta possa retomar a parceria com a RENFE para as ligações internacionais noturnas a Madrid e Hendaia, e estudar a possibilidade de lançar um serviço noturno a Barcelona”; a proposta do Livre para que o Governo aprove “um novo ciclo da Estratégia Nacional Anticorrupção, dotando-a de um plano de ação específico para assegurar a sua implementação e monitorização”; e ainda, “entre muitas”, a proposta do PAN para que “o Governo leva a cabo os estudos e diligências necessárias à criação de uma via rápida destinada a transportes coletivos sobre a A5, em articulação com a empresa concessionária desta Auto-Estrada, a Infraestruturas de Portugal, S. A., e os municípios de Cascais, de Oeiras e de Lisboa”. .O aviso de Montenegro.“Este é um Orçamento do Governo, é um Orçamento dos dois partidos que o suportam na Assembleia da República, mas é um Orçamento que tem a corresponsabilidade do Partido Socialista e do Chega - o maior partido da oposição e o segundo maior partido da oposição -, porque várias das decisões que foram tomadas foram tomadas com o apoio desses partidos, mesmo aquelas que foram tomadas contra a vontade do Governo”..A frase do primeiro-ministro surge depois de Hugo Carneiro, vice-presidente do PSD, ter acusado PS e Chega de “coligações negativas” que aumentaram a despesa do Estado em mais de mil milhões de euros “considerando a redução de IRS diferente da proposta pelo Governo, a redução do IVA da eletricidade, a eliminação de portagens, a aprovação do aumento de 1,25 pontos percentuais das pensões e de todas as cerca de 100 medidas aprovadas na especialidade contra a AD”..E depois um aviso: “Faremos tudo para manter a nossa meta de crescimento da economia e o desiderato de ter contas públicas equilibradas (…) Contudo, não venham depois chorar lágrimas de crocodilo se os mil milhões aprovados por essa oposição oportunista ditar a impossibilidade de cumprir qualquer outro compromisso, ou nos fizer ficar aquém dos nossos objetivos de crescimento económico ou de equilíbrio financeiro, em virtude, por exemplo, de alguma alteração da conjuntura internacional”..Minutos depois, Montenegro repetia a mesma argumentação dizendo que “a visão que o Governo tinha programado” foi alterada pelo que “os dois principais partidos da oposição decidiram”. .Pedro Nuno Santos recusou de imediato a “corresponsabilidade” que lhe é atribuída alegando que “em nenhum momento o PS passa a ser suporte deste Governo. Não é, não deve ser e não vai ser, até porque à medida que o tempo passa vamos constatando todos que estamos perante um Governo que é profundamente incompetente”..O secretário-geral do PS justifica a viabilização com “razões de Estado” e não por, como disse, concordar com "o seu conteúdo”..E o futuro? ”Faremos um combate às políticas deste Governo”.