O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, demitiu-se esta quarta-feira do cargo, respeitando assim o ultimato que recebera do seu partido, o ANC..Numa declaração de 30 minutos na televisão sul-africana, Zuma afirmou que sai sob protesto, afirmando-se em total desacordo com a forma como foi levado à saída após a eleição de Cyril Ramaphosa como presidente do partido, em dezembro.."Decidi demitir-me do cargo de Presidente da República com efeitos imediatos, apesar de discordar da direção do meu partido", afirmou Zuma, numa declaração transmitida pela televisão..A declaração foi feita horas depois de, numa entrevista, Zuma ter recusado ceder à exigência do partido, que na segunda-feira lhe deu 48 horas para se demitir, e afirmado que aceitaria contudo a decisão do parlamento, que tem previsto votar na quinta-feira uma moção de censura..Zuma deixa um legado contrário aos ideais do movimento que lutou décadas contra o "apartheid" e ficará na História sul-africana como o "Presidente corrupto"..A um ano do final do segundo mandato presidencial, Zuma, 75 anos, não resistiu à ambição política do novo líder do Congresso Nacional Africano (ANC) e seu vice-presidente na chefia do Estado, Cyril Ramaphosa, tendo como pano de fundo as eleições presidenciais de 2019..Para tal, necessita de recuperar o eleitorado do ANC, descrente, pelo que o afastamento de Zuma, a pouco mais de um ano da votação, dar-lhe-ia tempo para voltar a convencer a maioria negra de que o ANC é o melhor para a África do Sul..No entanto, noutro sentido, Zuma foi também vítima das suas próprias ações empresariais, em que, desde 2005, são muitas as acusações de corrupção e de subornos envolvendo todas as áreas de interesse económico do país, sobretudo as ligadas a uma das famílias empresariais mais poderosas da África do Sul, a dos três irmãos Gupta, e exploradas intensamente pelos dirigentes do ANC pró-Ramaphosa..Por estas razões, e tal como o seu antecessor, o agora ex-Presidente não chega a cumprir o segundo mandato, provando, paralelamente, um pouco do "veneno" que instilou na Presidência de Thabo Mbeki e que, após um ano de transição, o levou à chefia do Estado, em 2009, sucedendo ao Presidente interino Kgalema Motlanthe (2008/09)..Natural de Inkandla, na província do Kwazulu-Natal (antiga Zululândia), onde nasceu a 12 de abril de 1942 (75 anos), Jacob Gedleyihlekisa Zuma, também conhecido pelas suas iniciais, JZ e pelo nome do clã, o Msholozi, tem tido uma vivência política polémica sobretudo desde 2005, quando, já na qualidade de vice-presidente da África do Sul, foi acusado de estupro, num processo em que acabou absolvido, tendo estado também envolvido numa longa batalha judicial, de que saiu ileso, após o seu então assessor financeiro ter sido condenado por corrupção e fraude..Os processos judiciais não o impediram, porém, ainda como vice-Presidente sul-africano, de subir à liderança do ANC, em dezembro de 2017 (deixou-a precisamente 10 anos depois)..Filho de um agente da polícia, Zuma aderiu ao ANC em 1959, aos 17 anos, e, com a ilegalização do partido, em 1961, juntou-se em 1963 depois ao Partido Comunista Sul-africano (SACP, na sigla em inglês), tendo pouco depois sido detido, juntamente com um grupo de 45 recrutas, e condenado a 10 anos de prisão por "conspirar para derrubar o Governo", período cumprido na prisão da ilha de Robben, ao largo da Cidade do Cabo, onde conheceu Nelson Mandela, Motlanthe e outros dirigentes do ANC..Após a prisão, Zuma exilou-se, primeiro, na Suazilândia e, depois, em Moçambique, onde chegou a vice-representante principal do ANC até à assinatura dos Acordos de Nkomati, que repôs as relações entre o país lusófono e a África do Sul, tendo sido obrigado a abandonar o país, por imposição do regime de PW Botha, seguindo, então, para a Zâmbia..Em 1990, logo após o acordo que pôs fim à ilegalização do ANC, assinado entre Mandela e Frederic de Klerk, Zuma é dos primeiros a regressar à África do Sul, estando ligado às negociações do partido com o Inkhata Freedom Party, liderado por Mangosuthu Buthelezi, pondo-se assim cobro à violência entre os dois movimentos. Com Lusa