Vírus de Wuhan pode ter sido transmitido a humanos por cobras

Análise genética sugere que o novo tipo de coronavírus que surgiu na China pode ter tido origem em morcegos e sofrido uma mutação em cobras, o provável agente transmissor para os humanos.
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O novo tipo de coronavírus que surgiu na China e já matou oficialmente 18 pessoas (infetando mais de 600, segundo os dados mais recentes) poderá ter tido origem em morcegos e encontrado em cobras o seu agente modificador e responsável pela transmissão a humanos, revelou uma análise genética do vírus.

Um estudo, publicado terça-feira na revista Science China Life Sciences, patrocinada pela Academia Chinesa de Ciências, analisou as relações entre o novo coronavírus e outros vírus anteriores da mesma família, como o SARS e o MERS. Tal como naqueles dois casos, é provável que os morcegos tenham sido a origem deste coronavírus. "Os morcegos como o habitat natural do coronavírus de Wuhan são um raciocínio lógico e conveniente, embora seja provável que exista um intermediário para a transmissão de morcegos para humanos", escrevem os investigadores.

Se no caso do SARS o agente transmissor para o humano foram os civetas de palmeira mascarada (um mamífero existente em África e na Ásia) e no caso do MERS os camelos, em relação a este novo coronavírus de Wuhan o mais provável é terem sido cobras o "transmissor intermediário".

É o que diz um outro estudo publicado nesta quarta-feira no Journal of Medical Virology identifica as cobras como possíveis transmissores. "Para procurar um potencial reservatório de vírus, realizámos várias análises e fizemos comparações. Os resultados sugerem que as cobras são o reservatório mais provável", diz o artigo.

Os investigadores, porém, alertam que as suas conclusões requerem uma "validação adicional por estudos experimentais em modelos animais", pois nenhum estudo explicou como o vírus poderá ter sido transmitido de animais para humanos.

Os investigadores chineses compararam a sequência genética deste novo vírus 2019-nCoV com outras espécies conhecidas de coronavírus. A análise inicial descobriu que o vírus é uma mistura entre um coronavírus originário de morcegos e outro coronavírus cuja origem do hospedeiro é desconhecida. Essa mistura foi comparada com a de outros animais e permitiu concluir que o hospedeiro natural mais provável do vírus é uma cobra, animal muito apreciado e vendido na China para alimentos e medicamentos alternativos.

Ora, geralmente os vírus não cruzam espécies, mas mutações ou recombinações podem dar origem a uma nova cepa do vírus com capacidade para atravessar essa barreira das espécies.

Os emparelhamentos genéticos observados no 2019-nCoV, escreveram os pesquisadores chineses, "podem ter contribuído para a transmissão cruzada de espécies, de serpentes para humanos".

Refira-se que o mercado de alimentos onde o vírus emergiu tinha uma grande variedade de animais exóticos à venda, incluindo raposas vivas, crocodilos, lobos bebés, salamandras gigantes, cobras, ratos, pavões, porcos-espinhos, carne de camelo e outros animais de caça.

O diretor do centro chinês de controlo e prevenção de doenças, Gao Fu, disse na quarta-feira que as autoridades acreditam que o vírus provavelmente teve origem em "animais selvagens do mercado".

A Comissão Nacional de Saúde da China encerrou estações de comboios e aeroportos da cidade de Wuhan, onde o surto emergiu no final de 2019, há menos de um mês, e apelou a que ninguém viaje de ou para a cidade. Está ainda montado um sistema de vigilância nos aeroportos, estações de comboios e autocarros, com monitorização da temperatura para identificar possíveis doentes.

De acordo com a Comissão Nacional de Saúde da China, o período de incubação do vírus pode estender-se até 14 dias.

A Comissão Nacional de Saúde da China tinha já alertado que este novo tipo de coronavírus, uma espécie de vírus que causa infeções respiratórias em seres humanos e animais, "pode sofrer mutações e espalhar-se mais facilmente".

Fora da China continental, foram confirmados casos da doença em Macau, Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Tailândia e Estados Unidos.

Os primeiros casos do vírus "2019 -- nCoV" apareceram em meados de dezembro na cidade chinesa de Wuhan, capital da província central de Hubei, quando começaram a chegar aos hospitais pessoas com uma pneumonia viral.

Em todos os casos, os doentes trabalhavam ou visitavam com frequência o mercado de marisco e carnes de Wuhan. As autoridades desconhecem ainda a origem exata da infeção, mas vários indícios apontam para animais infetados, que são comercializados vivos, a transmitir a doença aos seres humanos.

Os sintomas destes coronavírus são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, incluindo falta de ar.

O surto surge numa altura em que milhões de chineses viajam, por ocasião do Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais. Segundo o Ministério dos Transportes chinês, o país deve registar um total de três mil milhões de viagens internas durante os próximos 40 dias.

Os casos alimentaram receios sobre uma potencial epidemia, semelhante à da pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou 650 pessoas na China continental e em Hong Kong.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu já esta quinta-feira, após reunião do Comité de Emergência, não declarar ainda emergência de saúde pública internacional este novo surto de um coronavírus na China.

[atualizado às 19.00]

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