Testes à vacina Oxford/AstraZeneca já tinham sido suspensos em julho

Há cerca de dois meses, os testes da vacina pararam porque um dos voluntários foi diagnosticado com esclerose múltipla, mas concluiu-se que a doença neurológica não estava relacionada com o fármaco que está a ser desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford.
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Os ensaios clínicos da vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca e Universidade Oxford estão suspensos, soube-se esta terça-feira, mas a situação não é nova. Os testes já tinham sido interrompidos em julho quando foi detetada uma possível reação adversa, que acabou por não se verificar.

Esta terça-feira, o mundo ficou a saber que os testes da vacina que é considerada uma das mais promissoras do mundo estão parados, o que para o primeiro-ministro, António Costa, é uma "má notícia" e um fator de "incerteza". Mas esta não é a primeira vez que os testes são interrompidos.

A informação foi revelada durante uma videoconferência entre Pascal Soriot, diretor executivo da multinacional AstraZeneca, e investidores. O site especializado em notícias de saúde Stat News teve acesso ao conteúdo da videoconferência através de três investidores que estiveram presentes na reunião. Soriot afirmou que em julho os testes pararam porque um voluntário começou a apresentar sintomas neurológicos, tendo sido diagnosticado com esclerose múltipla, mas verificou-se que não estava relacionada com a potencial vacina contra a covid-19.

Na videoconferência, escreve ainda a Stat News, o diretor executivo da farmacêutica refere que esta nova paragem nos ensaios clínicos está relacionada com uma mulher, voluntária no Reino Unido, que apresentou sintomas neurológicos consistentes com uma doença inflamatória da espinal medula, a mielite transversa, mas fez saber que a doença ainda não diagnosticada.

De referir que a mielite transversa pode manifestar-se por fraqueza muscular, dor e até paralisia. A Stat News indica que, em casos raros, as vacinas podem desencadear casos de mielite transversa, embora também possa ser causada por infeções virais.

Pascol Soriot disse que o estado da saúde da mulher está a melhorar e que deveria ter alta esta quarta-feira. Acrescentou que à voluntária foi-lhe administrada a potencial vacina contra a covid-19 e não um placebo.

Os ensaios clínicos em larga escala da fase 3, a mais avançada e a que antecede a aprovação das autoridades regulatórias, está suspensa "para permitir uma revisão dos dados de segurança" da vacina, referiu a farmacêutica.

A AstraZeneca referiu que se trata de "uma ação de rotina", que ocorre "sempre que há uma potencial doença inexplicável durante um ensaio, para que possa ser investigado, assegurando a integridade dos ensaios".

"Em testes de larga escala, as doenças acontecem por acaso, mas devem ser revistas de forma independente para que sejam verificadas com cuidado. Estamos a trabalhar para acelerar a revisão de um único evento para minimizar qualquer impacto potencial no cronograma do teste. Estamos comprometidos com a segurança de nossos participantes e os mais altos padrões de conduta nos nossos testes", refere o comunicado da AstraZeneca enviado à CNN.

Ainda não se sabe quanto tempo vai durar a suspensão dos testes clínicos que estavam a ser realizados em larga escala em diversos locais nos EUA e no Reino Unido, onde a reação adversa ao fármaco foi reportada. No entanto, num comunicado divulgado esta quarta-feira pela farmacêutica é referido que uma comissão de peritos independentes vão ajudar a determinar quando é que a suspensão dos ensaios clínicos pode ser levantada.

Os ensaios da fase 3 da vacina da AstraZeneca começaram no final de agosto nos EUA. Já os testes de fase 2/3 foram iniciados anteriormente no Reino Unido, no Brasil e na África do Sul.

"Através do contrato, todos os Estados membros poderão adquirir 300 milhões de doses da vacina AstraZeneca, com uma opção para mais cem milhões de doses, a serem distribuídas numa base proporcional à população", destacou, na altura, a instituição.

De acordo com os resultados dos primeiros ensaios clínicos, divulgados em julho passado, esta possível vacina "parece segura e gera anticorpos", mostrando então resultados promissores no que diz respeito a segurança e imunidade.

A Organização Mundial da Saúde considerou a vacina da AstraZeneca uma das mais promissoras do mundo. Noventa por cento dos 1077 voluntários (entre os 18 e os 55 anos) que participaram na primeira fase do ensaio clínico da "vacina de Oxford", como é conhecida, desenvolveram anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2.

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