Terrorismo em França: sete detidos este mês e turismo em queda livre

Alvo de vários atentados do Estado Islâmico desde o início do ano passado, a França começa a sentir o impacto do terrorismo a vários níveis, desde o político ao económico, com o turismo a ser fortemente abalado
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O impacto dos atentados terroristas em território francês começa a fazer-se sentir a vários níveis, do político ao económico. Ontem foi anunciado que o número de turistas na região de Paris caiu 6,4% durante o primeiro semestre e que o setor, especialmente o hoteleiro, exige ajuda do governo.

Segundo os dados que foram ontem apresentados pelo Comité Regional de Turismo (CRT) e divulgados pela France Info, as descidas mais relevantes foram registadas nos turistas estrangeiros (9,9%), embora tenha sido mais moderada entre os visitantes franceses (3,5%). Entre os que mais reduziram a estada na região de Paris estão os cidadãos oriundos do Japão (46,2%), da Rússia (35%), de Itália (27,7%) e dos Estados Unidos (19,6%).

De acordo com o CRT, não havia uma queda tão acentuada de turistas desde o ano 2010. A descida maior foi ao nível das dormidas, registada nos 8,5%. A redução do fluxo de turistas refletiu-se também numa menor presença em monumentos e museus, como o Arco do Triunfo e o Palácio de Versalhes. Esta situação resultou numa quebra das receitas das empresas do setor turístico, que encolheu 749,7 milhões de euros. Por isso, algumas vozes se ergueram já para reclamar medidas do governo.

"É altura de admitir que o setor do turismo está a atravessar um verdadeiro desastre", disse ontem em comunicado o presidente do CRT, Frederic Valletoux. "Os hotéis já estão a dispensar pessoal apesar de não o admitirem. Esta indústria está de joelhos e precisa de medidas de ajuda agora. São necessárias armas para contra-atacar", disse à Reuters Georges Panayotis, presidente do grupo especializado em indústria hoteleira MKG.

Desde janeiro de 2015 a França foi palco de sangrentos atentados terroristas levados a cabo por simpatizantes do Estado Islâmico (grupo terrorista sunita que domina vastas partes dos territórios da Síria e do Iraque). Em novembro, ataques ao Bataclan e a esplanadas de vários bares e restaurantes fizeram um total de 130 mortos. No dia 14 de julho, feriado nacional, um camionista tunisino atropelou mortalmente 86 pessoas em Nice.

"O ataque de Nice acabou com as esperanças de recuperação. É uma situação dramática e haverá cortes de empregos no setor se as coisas não melhorarem até ao final deste ano", declarou, por seu lado, Christian Navet, líder da federação hoteleira da região de Paris-Ile-de-France UMIH. "Já não é altura de campanhas de comunicação, mas de um plano de ajuda", frisou o presidente do CRT.

Em reação a estes dados, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, anunciou ontem, através do Twitter, que iria acrescentar 500 mil euros ao milhão de euros que já estava previsto no Orçamento do Estado para o setor do turismo, num investimento total de 2,5 milhões. O governante garantiu ainda que "a França continuará a ser o primeiro destino turístico mundial com 80 milhões de turistas estrangeiros". O objetivo do governo, sublinhou, é chegar aos 100 milhões de turistas estrangeiros em 2020.

No mesmo dia, um outro ministro francês, o do Interior, fez um balanço da luta antiterrorista. Bernard Cazeneuve anunciou que este mês foram detidos em França sete suspeitos de terrorismo, "pelo menos três deles tinham projetos de atentados formados". Numa conferência de imprensa juntamente com o seu homólogo alemão, Thomas de Maizière, o governante frisou que "o número de indivíduos com ligações a redes terroristas interpelados nos primeiros seis meses deste ano em França é o equivalente à totalidade de 2015". Este ano já foram detidas 165 pessoas por suspeitas de terrorismo, lembrou o Le Monde.

Os ataques reivindicados pelos terroristas do Estado Islâmico vieram também pôr em causa o clima de unidade que existia entre os políticos franceses. Especialmente depois do que se passou em Nice no Dia da Bastilha. A líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, não tem cessado de reclamar a demissão do ministro do Interior. "Em qualquer outro país no mundo, um ministro com um balanço de mortalidade tão horrendo como o de Bernard Cazeneuve - 250 mortos em 18 meses - ter-se-ia demitido", declarou Le Pen em julho.

O ex-presidente e ex-ministro do Interior Nicolas Sarkozy, que agora anunciou em livro a sua candidatura às presidenciais de 2017, também não poupou em palavras. "Sei que o risco zero não existe. Estamos em guerra. Em guerra total. Os nossos inimigos não têm tabus, não conhecem fronteiras, nem têm quaisquer princípios. Por isso, quero usar palavras fortes: seremos nós ou eles", disse, em julho, na TF1, garantindo que é possível pôr em marcha "uma outra política".

Com os atentados, as greves, as manifestações e o Euro 2016 as forças de segurança estão no limite. "É preciso melhorar as condições de trabalho dos nossos polícias", escreveu em carta ao presidente François Hollande o presidente da região de Provence-Alpes-Côte d"Azur Christian Estrosi. A missiva foi enviada a 13 de julho, véspera do ataque de Nice.

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