Sviatlana Tsikhanouskaya: "Todos os países tiveram o seu caminho para a democracia e este é o nosso"
A líder da oposição democrática da Bielorrússia, Sviatlana Tsikhanouskaya, mostrou-se esta quarta-feira (16 de dezembro) confiante na vitória do movimento pacífico contra Alexander Lukashenko, que está há mais de 26 anos no poder e cuja vitória nas presidenciais de agosto não é reconhecida pela União Europeia.
"Todos os países tiveram o seu caminho para a democracia e este é o nosso", disse Sviatlana no discurso na cerimónia de entrega do prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, no Parlamento Europeu, em Bruxelas. A oposição democrática da Bielorrússia foi a galardoada deste ano. "Estamos destinados a ganhar e vamos ganhar", afirmou.
Sviatlana pediu à Europa que apoie os bielorrussos. "Apelamos à Europa que nos apoie agora, não amanhã, não algures no futuro. Defender os direitos humanos e a democracia não é interferência, não é ingerência, é o dever de qualquer país que se autorrespeita", afirmou. "Por favor estejam do lado dos bielorrussos, nós estaremos do vosso no futuro".
A líder da oposição bielorrussa decidiu candidatar-se às presidenciais depois de o marido -- outro dos galardoados -- ter sido detido, além de outros candidatos terem sido impedidos de se candidatar. Depois das eleições, que sondagens independentes dizem que ganhou mas que Lukashenko reivindicou 80% dos votos, foi forçada a deixar o país, indo para o exílio na Lituânia. Desde as eleições que os bielorrussos protestam nas ruas contra Lukashenko, com as manifestações a ser alvo da repressão.
"Sou uma das milhares de bielorrussas que costumava ter medo. Foi criado um muro de medo que nos reteve durante quase três décadas. Mas este ano tudo mudou. Unimo-nos nas nossas aspirações para a mudança. Acrediámos que este muro podeia ser derrubado, tijolo a tijolo", referiu.
Sviatlana disse que o seu desejo para 2021 é que todos os bielorrussos, quer os que estão na prisão quer os que foram forçados ao exílio, possam voltar a casa.
"Recebo este prémio em conjunto com vários bielorrusos, mas não estamos sozinhos. Ao nosso lado podemos contar com milhares de bielorrussos que nos inspiram, que nos dão força e esperança", disse a líder da oposição democrática. "É a eles que pertence este prémio".
O galardão de 2020 foi entregue em conjunto à oposição democrática da Bielorrússia, representada no Conselho de Coordenação. Além de Tsikanouskaya e do marido, o vídeo bloguer Siarhei Tsikhanouski (que está detido), o prémio Sakharov vai para a jornalista Nobel da Literatura Svetlana Alexievich, para a música e ativista política Maryia Kalesnikava, as ativistas políticas Volha Kavalkova e Veranika Tsapkala. Também ao fundador da organização de direitos humanos Viasna, Ales Bialiatski, ao sindicalista Siarhei Dyleuski, ao fundador do canal de Telegram NEXTA, Stsiapan Putsila, e ao prisioneiro político e candidato presidencial em 2010, Mikola Statkevich.
É a terceira vez que o Parlamento Europeu chama a atenção para a situação na Bielorrússia com o prémio Sakharov. Em 2004 foi galardoada a Associação de Jornalistas da Bielorrússia e, dois anos depois, Alaksandar Milinkievič, candidato da oposição às presidenciais de 2006.
Na apresentação do prémio, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, disse que nos últimos meses os bielorrussos souberam demonstrar ao mundo o que significa não se render. "Defenderam os vossos direitos e nunca renunciaram à luta, apesar da dor e do medo. Prestamo-vos homenagem pela vossa resistência e preserverança", indicou, dizendo que o mundo tem plena consciência do que está a acontecer na Bielorrússia.
Ambos citaram Nelson Mandela, o ex-presidente sul-africano e o primeiro galardoado com o prémio Sakharov, em 1988 (junto com o dissidente soviético Anatoly Marchenko, que recebeu o prémio postumamente): "A coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre o medo."