Suécia ultrapassa as 5000 mortes e a imunidade ainda não está à vista

Autoridades suecas defendem que a estratégia não foi errada e que o vírus irá voltar a circular rapidamente nos países que fizeram confinamento. Mas a imunidade de grupo parece difícil de alcançar. Testes em Estocolmo revelam que só 14% tem anti-corpos à Covid-19.
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A Suécia ultrapassou esta quarta-feira a marca de 5.000 mortes causadas pelo novo coronavírus, quando começaram a surgir divergências no consenso político que o governo desfrutava até agora com a sua abordagem mais suave.

A Agência de Saúde Pública informou que registou 5.041 mortes de Covid-19, o que representa a quinta maior taxa de mortalidade do mundo, com 499,1 por milhão de habitantes.

Anders Tegnell, epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública, que se tornou o rosto da estratégia da Suécia, insistiu repetidamente que os confinamentos não funcionam mas agora admite que os números de imunidade estão a progredir de forma lenta, embora mantenha a confiança na estratégia

"Quando os países levantarem as restrições e as rotinas normais forem retomadas, o vírus começará a circular novamente", apontou. "Não se pode eliminar o vírus inteiramente a longo prazo", disse a jornalistas na terça-feira.

Um estudo publicado na terça-feira indicou que 14% dos habitantes de Estocolmo que fizeram um teste voluntário a um custo de 750 coroas suecas (80, 71 euros) apresentaram resultado positivo para anticorpos Covid-19. As amostras foram recolhidas entre 27 de abril e 14 de junho.

Tegnell reconheceu que estes números são baixos mas realçou que provavelmente serão mais altos atualmente, já que "a maioria dos 14% foi recolhida há duas ou três semanas e hoje já serão mais certamente."

Alguns críticos sugeriram que as 50.000 pessoas testadas não representam uma amostra científica. Dado o alto custo do teste, aqueles que optaram por fazer o teste podem tê-lo feito porque suspeitavam ter apanhado o vírus, argumentam.

Outro estudo científico publicado agora pela Agência de Saúde Pública mostrou que a taxa de mortalidade por infeção em Estocolmo para aqueles com 69 anos ou menos era de 0,1% e 4,3% para aqueles com 70 anos ou mais. Este estudo examinou 1.667 pessoas infetadas com o vírus entre 21 e 30 de março.

Consenso político desfaz-se

O primeiro-ministro sueco Stefan Lofven, social-democrata, insistiu numa entrevista televisionada no fim de semana que as hospitalizações caíram acentuadamente e que a estratégia da Suécia de não entrar em confinamento "não foi um fracasso".

A grande parcela de mortes em lares de idosos "não tem nada a ver com a estratégia", afirmou. "Tem a ver com as falhas na sociedade que estamos a corrigir", incluindo deficiências básicas de higiene em muitos lares, acrescentou.

Os círculos políticos da Suécia apoiaram amplamente a decisão de não confinar, assim como a população em geral. Mas tem havido críticas crescentes nas últimas semanas sobre as lutas do governo para retirar os testes em massa do terreno, que só começaram a serem feitos esta semana.

Os partidos à direita também acusaram o governo de se esconder atrás de especialistas em saúde pública e de deixar de assumir a responsabilidade na crise. "Um líder precisa dar um passo à frente, mas Lofven deu um passo atrás", disse Ebba Thor, líder dos democratas-cristãos, durante um recente debate com líderes partidários.

O líder parlamentar dos liberais, Johan Pehrson, disse que a abordagem mais suave da Suécia "pode ​​ter contribuído para o alto número de mortos", enquanto o chefe do Partido Moderado conservador, Ulf Kristersson, pediu que uma comissão fosse nomeada imediatamente para investigar o tratamento do governo da crise.

Melhoria da situação

As autoridades suecas enfatizaram que a situação melhorou bastante nas últimas semanas, apesar do terrível número de mortos.

A Agência de Saúde Pública disse que o país de 10,3 milhões tinha 54.562 casos confirmados esta quarta-feira, uma alta taxa de infeção, mas disse que a grande maioria dos novos casos foram leves, registados depois de os testes terem aumentado há várias semanas.

O número de hospitalizações e doentes em cuidados intensivos caiu drasticamente desde que atingiu o pico em abril, disseram as autoridades.

De acordo com o Registo de Terapia Intensiva sueco, há nesta quarta-feira um total de 218 pacientes com Covid-19 em unidades de cuidados intensivos, em comparação com um pico de 558 nos dias 25 e 26 de abril.

Os médicos entrevistados pela AFP confirmaram que as unidades Covid-19 tinham passado o pico. "O número de doentes diminuiu drasticamente", disse à AFP Lars Falk, chefe da unidade de ECMO no Hospital Karolinska, em Estocolmo.

"Há muito menos doentes que precisam de cuidados na UCI do que há algumas semanas", disse.

Karin Hildebrand, médica da UTI no hospital de Sodersjukhuset, na capital, disse que a situação era semelhante no seu local de trabalho. "Os números caíram. É uma grande diferença relativamente a mais de dois meses. Temos muito menos doentes agora do que em abril", disse à AFP.

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