Sarkozy recusa aliar-se ao PS para travar a extrema-direita
"Escolham o vosso bairro", lê-se num cartaz de campanha do candidato da Frente Nacional (FN) pela região de Ile-de-France. Na imagem por baixo do slogan, duas fotografias de uma mesma rapariga: numa com um gorro vermelho, de cara destapada e pintada com as cores da bandeira francesa, noutra usando um niqab de cor preta e apenas com os olhos descobertos.
"Temos uma jovem fresca e livre, que usa um gorro vermelho, uma alusão à republicana Marianne. E depois temos a mesma rapariga cujo rosto foi coberto pela submissão ao islamismo radical, o qual se desenvolve, infelizmente, cada vez mais nos nossos bairros problemáticos", explicou Wallerand de Saint-Just, citado pelos media franceses.
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Com este discurso islamofóbico, da formação de extrema-direita liderada por Marine Le Pen, com os atentados deste ano em Paris muito frescos na memória, os eleitores franceses são hoje chamados a votar em eleições regionais. Em seis de 12 regiões em jogo (excluindo Córsega e Ultramarinas), a Frente Nacional surge em primeiro lugar nas intenções de voto para a primeira volta de hoje, revelou na quinta-feira uma sondagem Ipsos-Sopra Steria, realizada para o Science Po e o jornal 'Le Monde'.
Nord-Pas-de-Calais-Picardie e Provence-Alpes-Côte d"Azur - onde as candidatas da FN são Marine e Marion Le Pen - a par de Grand Est, Languedoc-Roussillon-Midi-Pyrénées, Centre-Val de Loire e Bourgogne-Franche-Comté, são as regiões francesas em que a extrema-direita lidera, o que não quer dizer que vença à primeira volta e dispense disputar a segunda , já no dia 13, com candidatos de outros partidos.
Neste inquérito de opinião, realizado junto de um total de 23 061 pessoas através da internet, entre os dias 20 e 29 de novembro, a FN surge também em primeiro lugar na votação a nível nacional, à frente da direita e dos socialistas. O partido de Marine Le Pen tem 30% das intenções de voto, Os Republicanos de Nicolas Sarkozy e seus aliados de centro-direita aparecem creditados com 29%, o Partido Socialista do presidente e do primeiro-ministro franceses, François Hollande e Manuel Valls, surge em terceiro com 22%.
"A reconquista começa aqui... Em frente até à vitória", declarou Le Pen no seu último comício, posicionando-se para roubar a região de Nord-Pas-de-Calais-Picardie à esquerda que a domina desde o final dos anos 80. Líder da Frente Nacional desde 2011, a eurodeputada de 47 anos tentou reduzir o impacto das divergências que teve com o pai e fundador do partido, Jean-Marie Le Pen - o qual acabou por ser expulso da formação. Defensora de medidas extremas, como o encerramento de fronteiras ou a retirada da nacionalidade a alguns jovens de origem estrangeira já nascidos em França, por causa dos atentados de janeiro e de 13 de novembro em Paris Le Pen viu os franceses começarem a concordar com tais ideias e a considerá-las menos radicais.
A sonhar há muito com o Eliseu, Le Pen espera que se conseguir uma boa prestação nas regionais isso seja um carimbo no seu passaporte para um bom resultado nas presidenciais de aqui a dois anos. "[Uma vitória nas regionais] será uma alavanca formidável para Marine Le Pen para 2017", disse à Reuters o especialista em sondagens Frederic Dabi. A região que a líder da FN poderá conquistar tem seis milhões de habitantes e uma superfície semelhante à da Bélgica. Não é coisa pouca.
"Avançamos passo a passo, estamos a construir credibilidade... dando garantias aos cidadãos franceses e rompendo com o argumento do medo, que é frequentemente usado contra nós", declarou numa entrevista recente àquela mesma agência a deputada Marion Maréchal- Le Pen, candidata Provence-Alpes-Côte d"Azur, que fará 26 anos no dia 10, ou seja, entre a primeira e a segunda volta.
Para ganhar à primeira um candidato tem que ter mais de 50%. Para passar à segunda uma lista tem que ter pelo menos 10%. Isso faz com que haja por vezes eleições triangulares na segunda volta, pois significa que mais do que uma lista conseguiu ir além dos 10%. Alarmados com a subida da FN, vários setores têm alertado para a falácia da extrema-direita, entre os quais alguns jornais franceses. Mas se do lado dos socialistas, Manuel Valls disse que "tudo deve ser feito" para afastar Le Pen do poder, incluindo alianças com Os Republicanos, o líder destes, o ex-presidente Sarkozy, explicou já porque não alinha: "Não tenho nada a ver com a FN, mas também estou a combater as políticas dos socialistas."