Sanders apoia Clinton: "Vamos derrotar Trump"
A duas semanas da convenção democrata, senador desiste e apoia a ex-secretária de Estado para presidente dos EUA
Após 14 meses de embates políticos e diferenças de opinião, Bernie Sanders decidiu finalmente apoiar a rival, Hillary Clinton, como candidata dos democratas às eleições presidenciais de 8 de novembro nos Estados Unidos. O apoio do senador surge duas semanas antes da convenção democrata, que está marcada para os dias 25 a 28 em Filadélfia.
"A secretária Clinton ganhou o processo de nomeação democrata. Felicito-a por isso. Será a candidata democrata a presidente e tenciono fazer tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que será ela a próxima presidente dos EUA. Vim aqui para deixar claro porque apoio Hillary Clinton e porque ela tem de ser a nossa presidente", declarou o senador do Vermont, num comício realizado no ginásio de um liceu em Portsmouth, no estado do New Hampshire.
Foi nesse estado precisamente que Bernie Sanders, de 74 anos, conquistou a sua primeira vitória nas primárias democratas, esmagando a ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama dos EUA. Foi também nesse estado que, durante a campanha de 2008, Clinton e Barack Obama apareceram pela primeira vez juntos, depois da vitória do atual presidente na corrida das primárias. Para que não restassem dúvidas, o comício realizou-se na cidade de Unity (que significa unidade em português).
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Ontem houve também prova de unidade, sim, mas em Portsmouth. Sanders e Clinton entraram juntos no ginásio daquele liceu, deram as mãos, abraçaram-se, permanecendo unidos em frente a uma gigante bandeira dos EUA. Na dianteira do púlpito a partir do qual falaram aos apoiantes lia-se o slogan "Stronger Together" (juntos somos mais fortes em português). Após a manifestação de apoio, foi altura de Clinton, de 68 anos, falar.
"Você é fantástico. Obrigada. Muitíssimo obrigada", disse a mulher de Bill Clinton a Sanders, que no passado lhe dirigiu duras críticas e até acusações de estar ao serviço dos interesses de Wall Street. Depois dirigiu-se aos apoiantes, sobretudo os do senador. "Com a vossa ajuda vamos unir forças e derrotar Donald Trump, ganhar em novembro e construir um futuro no qual possamos acreditar (...). É agora chegada a altura de estarmos todos juntos."
Numa reação à desistência de Sanders em prol de Clinton, o presumível candidato dos republicanos, Donald Trump, emitiu uma declaração cheia de críticas. "Hoje, Bernie Sanders apoiará uma das candidatas mais pró-guerra e mais pró-Wall Street da história do Partido Democrata. O candidato que concorria contra os interesses instalados está agora a apoiar a candidata que defende esses mesmos interesses instalados", disse ontem Stephen Miller, conselheiro político de Trump. A declaração da campanha do republicano (pouco consensual no seu partido) sublinhou que Sanders "tornou-se parte de um sistema viciado". Os republicanos realizam a sua convenção em Cleveland, do dia 18 ao dia 21.
Com o apoio de Sanders, Clinton espera poder agora contar com os apoiantes do senador. Mas a avaliar pelas sondagens, o desafio não se apresenta fácil. Um inquérito de opinião recente Reuters/Ipsos revelou que apenas 40% dos apoiantes do senador do Vermont estão dispostos a apoiar a ex-secretária de Estado de Obama. "Estou certo de que não votarei Hillary, disse ontem Gale Bailey, uma designer gráfica desempregada oriunda de Rochester e que ontem foi ao comício com um T-shirt de apoio a Sanders. "Ela é uma trapaceira e não vou votar nela", acrescentou a militante ouvida pela reportagem da Reuters, sublinhando que no dia 8 de novembro, quando chegar a altura de escolher o sucessor de Obama na Casa Branca, escreverá no boletim de voto o nome de Bernie Sanders. Clinton não terá, por isso, a vida facilitada.