SADS-CoV. Há mais um coronavírus que pode infetar humanos

Depois do SARS-CoV-2 foi agora identificado o SADS-CoV que tem causado doenças em suínos. O que os cientistas descobriram é que também tem potencial para infetar humanos
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Há outro coronavírus com potencial para atingir os humanos. Chama-se SADS-CoV - o que está a causar a pandemia de covid-19 é o SARS-CoV-2 - e afeta os porcos, por isso, é designado de síndrome da diarreia suína.

O que investigadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, anunciaram esta semana é que a cepa de um novo tipo de coronavírus afeta os porcos e pode ser replicado em células do fígado e dos intestinos humanos, bem como em células das vias aéreas. Como não há casos reportados em humanos, desconhecem-se quais podem ser os efeitos da doença. Avança-se que a maior probabilidade de passar dos animais para os humanos será através do contacto - os tratadores e criadores de porcos são assim quem corre maior risco.

O vírus Sads-CoV começou a infetar criações de suínos na China em 2016. A diarreia e os vómitos são os sintomas mais frequentes nos animais, sendo que os leitões são mais afetados que os adultos - o vírus causou a morte a 90% das crias que o contraíram.

O estudo, publicado esta semana no Proceedings of the National Academy of Sciences, refere que o vírus é da mesma família do Sars-CoV-2, que causa o Covid-19. No ano passado o grupo 14 epidemiologistas, imunologistas e microbiologistas da UNC-Chapel Hill, liderado por Caitlin Edwards e Rachel Graham, estudaram o Sads-CoV para descobrir se o vírus poderia saltar espécies e infetar humanos.

E concluíram que há essa possibilidade, apesar de não haver casos registados nesse sentido. Para chegar a esta conclusão, os investigadores infetaram vários tipos de células com uma fórmula sintética do SADS-CoV. Os resultados apontam que uma grande quantidade de células de mamíferos, incluindo de humanos, são suscetíveis de ficar infetadas. Essas células foram encontradas sobretudo no fígado, nos pulmões e nos intestinos.

"É impossível prever se este vírus poderia emergir e infetar populações humanas. No entanto, a ampla gama de hospedeiros do SADS-CoV, juntamente com a capacidade de se replicar no pulmão humano e em células entéricas, demonstra risco potencial para eventos futuros de emergência em populações humanas e animais", afirma Caitlin Edwards, citada pela Exame brasileira.

Já Rachel Graham acrescentou ao The News & Observer que a "a parte complicada é que não sabemos que tipos de doenças se manifestariam" se o vírus passasse para os humanos. Embora o vírus cause problemas gastrointestinais nos suínos, nos humanos pode causar problemas respiratórios ou outros.

Segundo os investigadores, este é um vírus diferente do que já matou milhões de animais na China e se espalhou pelo resto do mundo - esse era um vírus da família Asfarviridae, que infeta apenas porcos e javalis, sem qualquer parentesco com o coronavírus e que não atinge os humanos. Ao que tudo indica, também é diferente de outro já encontrado em porcos e derivado do H1N1.

"Enquanto muitos investigadores se concentram no potencial emergente dos betacoronavírus como o SARS e o MERS, os alfacoronavírus podem ser igualmente preocupantes para a saúde humana", afirmou Ralph Baric, professor de Epidemiologia e de Saúde Pública Global da Universidade da Carolina do Norte.

"Se esse vírus ocorresse nos Estados Unidos, a principal preocupação seria a indústria suína", acrescentou Rachel Graham. Depois da China e da União Europeia, os EUA são o principal produtor mundial de suínos.

Caitlin Edwards e Rachel Graham disseram ao The News & Observer que a equipa de investigadores enviou as suas descobertas para publicação no início de 2020, antes de ser declarada a pandemia. Mas travar a escalada da covid-19 tornou-se uma prioridade dos cientistas. Que não têm mãos a medir com os coronavírus.

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