Realizaram-se 336 milhões de abortos desde 1971
A política do filho único teve um custo alto para as famílias.
A política de filho único, que durante mais de 30 anos proibiu os casais chineses de terem mais do que uma criança, teve "um custo alto", admitiu hoje a porta-voz do órgão máximo legislativo da China.
"Ajudou a controlar o forte crescimento da população, mas teve um custo alto para as famílias e para os indivíduos", reconheceu Fu Ying, durante uma conferência de imprensa na véspera do início da sessão anual da Assembleia Nacional Popular.
Pelas contas do Governo, sem aquela política, em vez de cerca de 1.370 milhões de habitantes, a China teria hoje quase 1.700 milhões.
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Por outro lado, dados oficiais chineses revelam que, desde 1971, os hospitais do país executaram 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações.
Em 2050, um terço da população chinesa terá 60 ou mais anos e haverá menos trabalhadores para sustentar cada reformado.
Fu, que já foi vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, assinalou que esses "efeitos negativos" obrigaram a uma flexibilização daquele rígido controlo da natalidade, a partir do início deste ano, permitindo às famílias chinesas terem um segundo filho.
A política "um casal, um filho" "terá o seu espaço na história", afirmou, indicando que "algumas preocupações que despertou durante as décadas em que esteve em vigor se dissiparão com o tempo".
"Muitos estavam preocupados com a chegada de uma geração de pequenos 'imperadores', crianças egoístas, mas o que vemos é uma geração de jovens cheia de amor e vigor, porque não tem de se preocupar com a falta de alimentos", apontou.
Pequim defende que aquela política possibilitou o aumento do Produto Interno Bruto 'per capita', da esperança média de vida (agora em 75 anos) ou do nível de escolaridade da população.
Mas admite também que teve efeitos negativos, como o envelhecimento da população, o aumento de abortos seletivos (quando o feto é do sexo feminino) e o abandono de recém-nascidas porque as famílias querem um rapaz.