Primeira mulher mayor de Amsterdão propõe fim da prostituição no Red Light District
A câmara vai lançar uma consulta pública sobre a situação das prostitutas e quer combater o tráfico humano e a pressão turística naquela parte da cidade
Femke Halsema é a primeira mulher a presidir à câmara de Amsterdão. E uma das suas propostas, detalhada numa entrevista que deu ao jornal holandês Het Parool, é combater o tráfico humano e as condições a que estão sujeitas as prostitutas do icónico bairro do centro da cidade, conhecido como Red Light District.
"O tráfico de seres humanos ocorre na parte mais bonita e antiga da nossa cidade", acrescentou Halsema. "Ao longo de centenas de anos, surgiram situações que não são aceitáveis." Por isso, a ex-líder dos Verdes que agora lidera a autarquia quer lançar, já na próxima semana, um debate público aberto, no Compagnietheater, um teatro no centro da cidade.
"Durante muito tempo, houve um sentimento de marinheiros sobre o Red Light District porque, após meses de navegação, queriam encontrar uma holandesa 'robusta'. A situação agora é diferente. As mulheres são predominantemente estrangeiras, muitas das quais não sabemos como vieram parar aqui, e são ridicularizadas e fotografadas".
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Por isso, propõe Halsema, a cidade "deve atrever-se a pensar o Red Light District sem prostituição".

Os bordéis, que mostram prostitutas na montra, são polémicos há muito tempo. Uma das tentativas de os "normalizar" foi a criação de um "dia aberto" em que os cidadãos (não clientes) podem visitar o interior destes estabelecimentos.
© Reuters
Há dois objectivos "inegociáveis", esclarece a autarca: resolver o problema do tráfico de mulheres e, também, reduzir o número de turistas que circulam nas ruas apertadas do bairro do centro histórico, onde há 330 montras de vidro que exibem - agora também como atração turística - centenas de mulheres.
"Riem-se delas, chamam-lhes nomes, fotografam-nas contra a vontade delas", descreve a autarca. E não é só uma questão de princípio, sobre a situação das mulheres e os negócios ilícitos que se fazem em torno do tráfico humano - como a lavagem de dinheiro - é também uma proposta que visa reduzir "os inconvenientes causados aos moradores e empresários" da zona, acrescenta. "Tem de ser uma área mais calma, limpa e agradável do que é hoje."
Na proposta concreta da câmara pode vir a estar a proibição das montras dos bordéis ou a sua limitação a uma área muito mais pequena do que a atual. Depois dos debates no Compagnietheater, a câmara quer que, até ao final do verão, sejam escolhidas duas propostas para decisão final.
Os Verdes, que lideram a câmara, têm apenas 10 dos 45 lugares do parlamento local, e contam com o apoio do partido liberal D66 e dos socialistas. Por isso, além de lançar o debate, Halsema garante que quer ter uma posição "pragmática", sem revelar qual é a sua escolha preferida para resolver o problema.
Desde logo, a autarca pede que não vejam neste debate uma tentativa de limitar o acesso à prostituição às mulheres que escolhem fazê-lo.

Mariska Majoor, ex-prostituta, é uma das organizadoras do "dia aberto" do Red Light District em Amsterdão.
© Reuters
"A liderança moderna serve, não é ditatorial", explica. "O debate sobre prostituição é agora muito polarizado e moralista. A prostituição é um fenómeno histórico no centro da cidade. É preciso tempo, e dinheiro, para fazer qualquer coisa. É necessário um consenso para isso, mas a decisão final será do parlamento. Eu lidero a discussão."
Se a decisão for a de fechar o Red Light District à prostituição, a autarquia pode conceder licenças para bordéis noutras zonas da cidade. Essa mudança pode provocar protestos, admite Halsema, que conta, ainda assim, com a conhecida "tolerância" de Amsterdão para que o tema não se torne impossível de gerir.