Presidente populista da Polónia enfrenta difícil reeleição na votação deste domingo
A Polónia vota este domingo em eleições presidenciais em que o populista Andrzej Duda é candidato a uma difícil reeleição, com as sondagens a preverem uma segunda volta em que, segundo as projeções, sairá derrotado pelo centrista Rafal Trzaskowski.
Andrzej Duda, 48 anos, pertenceu ao partido nacionalista eurocético no poder, o Lei e Justiça (PiS), do qual se desvinculou quando se candidatou pela primeira vez à presidência, em 2015, mas que o volta a apoiar nesta eleição pelo papel decisivo do Presidente para a sua agenda política.
Na campanha para estas presidenciais, inicialmente previstas para 10 de maio e que foram adiadas devido a dúvidas constitucionais, por se realizar exclusivamente por voto por correio devido à pandemia de covid-19, Duda procurou mobilizar a base conservadora do PiS contra o programa do candidato centrista, que retrata como uma ameaça aos valores tradicionais polacos.
Segundo as últimas sondagens, Andrzej Duda é o candidato favorito, com cerca de 40% das intenções de voto, contra cerca de 30% para Rafal Trzaskowki, apoiado pelo principal partido da oposição, Plataforma Cívica (PO, centrista).
Uma votação abaixo dos 50% mais um obriga à realização de uma segunda volta, prevista para 12 de julho e na qual os estudos de opinião apontam para uma vitória, embora por muito escassa margem, de Rafal Trzaskowki.
Duda e o PiS são especialmente populares junto da população mais conservadora, que vê neles políticos dispostos a defender a sua visão católica das questões sociais e a afirmar a soberania do país face à União Europeia (UE), à qual a Polónia aderiu em 2004.
Andrzej Duda tem promulgado a esmagadora maioria das leis do PiS, apoiando mesmo as mais controversas, como a que abre caminho ao controlo do Supremo Tribunal pelo poder político, razão pela qual é conhecido entre os críticos como "a caneta".
Mas outra parte importante da sociedade polaca não se revê nestas posições, acusando o Governo de atentar contra o Estado de Direito, de facilitar a corrupção e de incitar à homofobia e xenofobia, preferindo as propostas liberais, cosmopolitas e pró-europeias do presidente da câmara de Varsóvia, Rafal Trzaskowki, também de 48 anos.
Muitos dos que o apoiam veem estas presidenciais como a última oportunidade para impedir danos irreversíveis à democracia no país e travar o populismo, num contexto em que a governação do PiS tem estado em constante conflito com a União Europeia (UE), que condena as mudanças no sistema judicial como uma ameaça aos padrões democráticos.
Rafal Trzaskowki, que fala cinco línguas estrangeiras -- inglês, francês, italiano, espanhol e russo -, é assumidamente europeísta, tendo sido eurodeputado (2009-2013) e secretário de Estado dos Assuntos Europeus (2014-2015) do governo de Donald Tusk, que depois assumiu a presidência do Conselho Europeu.
A popularidade de Andrzej Duda e do PiS deve-se também muito ao cumprimento da promessa que fizeram há cinco anos de introduzir um programa social que passa nomeadamente por um abono de família de 500 zlotys (112 euros) por menor de 18 anos, independentemente do rendimento do agregado, a redução da idade de reforma dos 67 para os 65 para os homens e 60 para as mulheres, o aumento das pensões e a baixa de preço de alguns medicamentos.
As medidas são tão populares que Trzaskowski prometeu mantê-las, apesar de o partido que o apoia ter recusado aumentar prestações sociais quando esteve no governo, entre 2007 e 2015.
Em terceiro lugar nas sondagens, com cerca de 11%, surge Szymon Holownia, 44 anos, apresentador do programa de televisão "Polonia Got Talent", sem experiência política, crítico do sistema partidário vigente e que elegeu como temas a segurança, a inclusão social, o Estado de Direito e a luta contra as alterações climáticas.
Holownia venceria Duda numa segunda volta, segundo as sondagens, mas a maioria dos analistas vê como extremamente improvável que o apresentador, que se assume, tal como Duda, "profundamente católico", seja o segundo mais votado na primeira.
Outros oito candidatos recolhem intenções de voto inferiores a 10%.
Inicialmente fixada para 10 de maio, a eleição presidencial foi adiada à última hora após Governo e partidos da oposição terem divergido sobre as suas modalidades em plena pandemia e com Malgorzata Kidawa-Blonska, a candidata da PO entretanto substituída por Trzaskowski, a abandonar a campanha e apelar ao boicote eleitoral.
Com 38 milhões de habitantes, a Polónia não foi dos países europeus mais atingidos pela pandemia provocada pelo novo coronavírus, registando cerca de 33.000 casos e 1.400 mortes.
As assembleias de voto para as presidenciais de domingo vão estar abertas entre as 07:00 e as 21:00 (06:00-20:00 em Lisboa).
O mandato de Andrzej Duda termina a 6 de agosto.