Pandemia pode durar de 18 meses a dois anos

Estudo norte-americano recomenda que nos preparemos para um cenário mais grave do que aquele que estamos a viver já para o outono e inverno.
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A pandemia do novo coronavírus deverá continuar, pelo menos, por mais 18 meses a dois anos. Só nessa altura, 60 a 70% da população estará infetada com covid-19, situação que permitirá a imunidade de grupo, revela um estudo norte-americano divulgado quinta-feira que junta a assinatura de especialistas em crises pandémicas.

As conclusões e recomendações do estudo são dirigidas aos Estados Unidos - o país a viver a situação mais grave com mais de um milhão de casos e cerca de 64 mil mortes - mas numa era global não podem deixar de ser aplicadas a nível mundial. Recomenda-se, por exemplo, que nos preparemos para um cenário pior do que aquele que estamos a viver para o outono e inverno. Até no cenário mais otimista, continuará a registar-se mortes pelo novo coronavírus. A descoberta de uma vacina, dizem, poderá influenciar os três cenários traçados, mas os especialistas lembram que levará cerca de um ano a estar pronta.

"Isto não vai parar até infetar 60 a 70% das pessoas", disse à CNN Mike Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infeciosas (CIDRAP) da Universidade do Minnesota, sublinhando que "a ideia de que isso será feito em breve desafia a microbiologia".

Segundo a CNN, Osterholm escreve sobre o risco de pandemias há 20 anos e foi conselheiro de vários presidentes. Neste estudo, contou com a participação do epidemiologista da Escola de Saúde Pública de Harvard, Marc Lipsitch, também um dos principais especialistas do país em pandemias; de Kristine Moore, ex-epidemiologista do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças e atual diretora médica do CIDRAP e ainda do historiador John Barry, que escreveu o livro de 2004 "The Great Influenza" sobre a pandemia de gripe de 1918.

As previsões destes especialistas são diferentes dos modelos apresentados por especialistas como os do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington ou os modelos produzidos pelo Imperial College London, cujo relatório que previa milhões de mortes nos Estados Unidos e no Reino Unido ajudou a galvanizar as respostas destes governos.

"Eu já disse há algum tempo que, quando se tenta perceber como as doenças infecciosas se vão desenvolver, devemos confiar na história e nos modelos", disse Lipsitch à CNN. E acrescentou que infeções por pandemia não tendem a desaparecer no verão, como ocorre com a gripe sazonal - a equipa liderada pelo CIDRAP usou dados históricos sobre pandemias.

"Devido a um período de incubação mais longo, propagação mais assintomática e um R0 mais alto, o covid-19 parece espalhar-se mais facilmente que a gripe", refere o estudo agora divulgado. O R0 é o número médio de outras pessoas infectadas por cada paciente.

"Um R0 mais alto significa que mais pessoas precisarão de ficar infetadas para se tornarem imunes antes que a pandemia possa terminar", acrescentam.

No documento, também há referências críticas ao governo que, no entender destes especialistas, deveria estar a preparar a comunidade para uma crise sanitária longa em vez de dizer que a pandemia está a terminar.

Tendo por base "as mais recentes pandemias de gripe, esse surto provavelmente durará de 18 a 24 meses", o que levou os cientistas a projetarem três cenários possíveis divulgados pela CNN.

Cenário 1:
A primeira onda de Covid-19 na primavera de 2020 é seguida por uma série de ondas menores e repetitivas que ocorrem durante o verão e depois consistentemente durante um período de um a dois anos, diminuindo gradualmente em 2021.

Cenário 2:
A primeira onda do Covid-19 é seguida por uma onda mais forte no outono ou no inverno e uma ou mais ondas menores em 2021. "Esse padrão exigirá a reinstituição de medidas de mitigação no outono, na tentativa de diminuir a propagação da infeção e impedir que os sistemas de saúde sejam sobrecarregados." Um padrão, refere o estudo, semelhante ao observado na pandemia de 1918-19".

Cenário 3:
É a chamada transmissão em andamento. Neste cenário, provavelmente não exigiria a reinstituição de medidas de mitigação, embora continuem a ocorrer casos de infeção e mortes.

Perante estes cenários, o estudo recomenda que os estados desenvolvam planos concretos no sentido de reintegrar medidas de mitigação de forma a estarem preparados para os picos de doença que venham a ocorrer - ou seja, que se preparem para o pior, o cenário 2.

Lipsitch e Osterholm aproveitaram para dizer à CNN que estão surpreendidos com as decisões que muitos estados estão a tomar no sentido de suspender as restrições impostas.

"É uma experiência. Uma experiência que provavelmente vai custar vidas, disse Lipsitch.

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