Pai de família e líder de comunidade confessou 40 violações

Violador em série, procurado há mais de 30 anos, é um homem de 56 anos, pai e avô de família e muito ativo na pequena comunidade francesa de Pont-sur-Sambre, onde morava e era treinador do clube de futebol
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Era procurado desde 1996 - altura em que a polícia francesa abriu a investigação - mas as violações começaram muitos anos antes. Confessou os crimes - os que a polícia registara e outros que desconhecia - num total de 40 violações cometidas em França e na Bélgica. O homem, de nacionalidade francesa, pai de três crianças e visto como um líder pela sua comunidade, foi detido esta segunda-feira na Bélgica.

A polícia francesa até lhe tinha arranjado uma alcunha: era "o violador de Sambre", por causa da zona em que as violações tinham acontecido - em Pont-sur-Chambre, no norte de França. No país vizinho, onde também cometeu os crimes - era conhecido como "o violador do gorro", ou "o violador da corda" e também como "o violador da manhã". Todas estas alcunhas estavam relacionadas com a forma como praticava as agressões sexuais: amarravas as vítimas com uma corda, escondia o rosto com um gorro, usava luvas e costumava atacar as mulheres (e crianças) pelas costas e sempre no período da manhã.

Sabia-se que era a mesma pessoa porque foi encontrado o mesmo ADN em todas as vítimas, em ambos os países. Mas mesmo na posse desta prova crucial, a polícia nunca tinha detetado o paradeiro do criminoso. Agora os investigadores percebem porquê: Dino Scala tinha um cadastro limpo, o seu ADN não constava da base de dados de agressores sexuais dos dois países e levava uma vida absolutamente normal - um pai de três crianças, sem nenhum tipo de comportamento suspeito.

Scala está acusado de pelo menos 19 violações cometidas nos últimos 22 anos Dino Scala, apesar de, depois de ter sido detido, ter confessado 40 violações.

O violador em série, procurado há mais de 30 anos em França, é um homem de 56 anos, pai de família, recentemente avô e muito ativo na pequena comunidade francesa de Pont-sur-Sambre, com apenas 2.550 habitantes, onde morava e era treinador do clube de futebol local. Conseguiu agir com impunidade durante pelo menos duas décadas e provavelmente ainda mais - Scala disse nos interrogatórios que começou a atacar mulheres em 1988, oito anos antes da polícia começar a investigar - e confessou estar exausto.

Talvez tenha sido por isso que, na manhã do dia 5 de fevereiro, não foi tão cuidadoso quando atacou a última vítima: uma criança que estava a caminho da escola em Erquelinnes, uma pequena comuna belga a 26 quilómetros de Pont-sur-Sambre. O caso chamou a atenção da polícia do outro lado da fronteira, porque o modus operandi correspondia ao do "violador de Sambre".

"Agiu de manhã, muito cedo. Atacou a vítima por trás, usava luvas e tinha o rosto coberto por um gorro", revelou o promotor da cidade francesa de Valenciennes, Jean-Philippe Vicentin, citado pelo jornal francês Le Monde.

As imagens das câmaras de segurança no local do ataque permitiram identificar um veículo - um Peugeot 20 com matrícula francesa, ainda que incompleta - e imediatamente os agentes belgas alertaram os seus colegas do outro lado da fronteira. A pista levou a Scala, que foi preso na manhã de segunda-feira, quando estava prestes a a ir para o trabalho, precisamente no mesmo carro identificado pelas câmaras de segurança. Os testes de ADN confirmaram que era ele o "violador do gorro".

Durante os interrogatórios, Scala confessou esses e outros crimes que as autoridades desconheciam e explicou que agia devido a "impulsos que não conseguia controlar". Da longa lista de vítimas, contam muitas crianças menores de 13 anos. A polícia anunciou que irá agora rever outros casos não resolvidos na região para verificar se eles também foram cometidos por Dino Scala.

Em Pont-sur-Sambre, onde o violador morava com a mulher e os três filhos há cerca de vinte anos, a comunidade está em choque. Descrevem Scala como uma pessoa "sociável" e um "bom pai de família", disse o autarca local, Michel Détrait, citado pela imprensa francesa. "Ele era quase o genro ideal", disse Détrait, que tem dúvidas que seja ele o violardor em série procurado há vinte anos.

"Não se encaixa com a sua personalidade, ele foi muito amado. Estamos completamente chocados ", resumiu.

De acordo com o jornal La Voix du Nord, o homem, que tem netos, trabalhou como agente de manutenção numa empresa da região. Na cidade era conhecido por ser jogador, treinador e presidente da equipa de futebol de Pont-sur-Sambre. "Podíamos pedir-lhe qualquer coisa, ele sempre nos ajudou. Todos gostavam muito dele", disse o presidente atual do clube, Willy Lebrun, à AFP.

"Durante mais de vinte anos, a polícia escreveu mais de mil minutos [de relatórios], realizou centenas de revistas em muitos veículos. Nós tínhamos o ADN e, apesar das sobreposições entre vários casos, deparamo-nos sempre com as mesmas peças do quebra-cabeça", revelou Jean-Philippe Vicentin.


De acordo com a investigação, as primeiras vítimas eram mulheres com vários perfis, algumas menores, outras com quase 50 anos de idade, atacadas em 1988. "Ele teve um ritmo peculiar, às vezes parava durante vários anos", disseram os investigadores.

Desde 2012, a polícia francesa colocava a hipótese do violador ter morrido, porque não houve novos ataques identificados com o seu modus operandi. Na Bélgica, os investigadores desesperavam por uma pista concreta, apesar de, em 2006, traços de ADN do violador terem permitido estabelecer um vínculo com crimes cometidos na região do norte de França. Apesar da descrença da comunidade em que Dino Scala vivia, as buscas pelo "violador de Sambre" parecem ter chegado ao fim.

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