OMS: "Podemos só estar a ver a ponta do iceberg"
Já são oito os infetados com o vírus no Reino Unido. O país declarou o surto uma "ameaça séria e iminente" à saúde pública. Diretor-geral da OMS diz que casos de contágio em pessoas que nunca estiveram na China podem revelar que há maiores motivos de preocupação.
O governo do Reino Unido declarou o coronavírus uma "ameaça séria e iminente" à saúde pública, e anunciou novos poderes para combater a disseminação do vírus. Entre as medidas adotadas poderá estar a quarentena forçada. Entretanto, uma equipa de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) voou para Pequim esta segunda-feira para ajudar a avaliar o último surto.
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Depois da declaração do governo, o Reino Unido atualizou o número de cidadãos britânicos infetados com o vírus: são agora oito, um número que duplicou no fim de semana.
As autoridades britânicas informaram que entre os novos casos de infeção pelo novo coronavírus dois são profissionais de saúde. "Estamos a trabalhar rapidamente para identificar todos os pacientes e outros profissionais de saúde que possam ter tido contacto próximo. Nesta fase, acreditamos que esse seja um número relativamente pequeno", afirmou, em comunicado, Yvonne Doyle, a diretora da Saúde Pública de Inglaterra.
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Embora seja na China que se registou a grande maioria dos casos confirmados e quase todas as mortes relacionadas como coronavírus, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que houve "alguns casos preocupantes" de transmissão entre pessoas que não estiveram no país.
"A deteção de um pequeno número de casos pode indicar uma transmissão mais difundida em outros países; podemos estar só a ver a ponta do iceberg ", disse Ghebreyesus no Twitter.
Xi Jinping aparece em público pela primeira vez em semanas
Esta segunda-feira Xi Jinping fez a primeira aparição pública em semanas. A emissora estatal CCTV postou um pequeno vídeo de Xi a visitar um bairro em Pequim e onde o líder chinês é visto de máscara cirúrgica, a medir a temperatura e a cumprimentar os moradores da zona.
Xi Jinping tinha sido visto publicamente pela última vez durante uma reunião com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a 29 de janeiro, e não tinha conversado com médicos ou visitado hospitais ou pacientes e nem sequer a província de Wuhan, onde teve origem o surto do vírus. Em seu lugar, foi sempre enviado o primeiro-ministro, Li Keqiang.
Observadores externos, citados pelo Guardian, dizem que Xi pode estar a isolar-se das consequências públicas da crise, o que tornará mais fácil culpar as autoridades locais pela forma como o país lidou com o início do surto.
A semana que pode mudar tudo
Com o fim das celebrações do Novo Ano chinês, o povo volta ao trabalho - e o risco de agravamento do coronavírus acentua-se. Especialistas em assuntos chineses falam também de riscos políticos para o Partido Comunista Chinês.
Frédéric Lemaître é o correspondente do jornal francês "Le Monde" em Pequim. Num artigo publicado este domingo, o jornalista não hesita: esta segunda-feira começa "a semana em tudo pode mudar". Por um lado, correndo-se um risco de agravamento da epidemia, com muitos milhões de chineses a regressar ao trabalho depois das celebrações do Ano Novo. Só que, acrescenta, "o risco também é político" já que "as críticas às autoridades estão a aumentar".
Fala mesmo num "vulcão prestes a acordar". "Tanto os empregadores quanto os funcionários precisam de retornar ao trabalho por razões económicas óbvias". Shenzhen, Cantão, Xangai e Pequim são cidades gigantes, cada uma com mais de 20 milhões de habitantes - e vão emergir agora da sua letargia". Só em Pequim, há oito milhões de chineses a regressar de uns dias de descanso na província. Tudo isso coloca pressão extra sobre as autoridades sanitárias e, claro está, sobre as autoridades políticas que as tutelam.
No South China Morning Post , um jornal em inglês sedeado em Hong Kong, sucedem-se as vozes dizendo que o coronavírus põe em causa o sistema político na China - e sobretudo a sua difícil relação com a transparência, com a necessidade de manter o povo informado, e com opiniões que alertam para situações potencialmente graves em desenvolvimento.
Entretanto, num comunicado divulgado esta segunda-feira (10 de fevereiro), o secretário de Saúde britânico, Matt Hancock, disse que o Hospital Arrowe Park, no Wirral, e o centro de conferências Kents Hill Park, em Milton Keynes, foram designados como instalações de "isolamento" no Reino Unido.
O Ministério das Relações Exteriores fretou dois voos de repatriamento de cidadãos britânicos que saíram de Wuhan, a cidade onde o novo coronavírus surgiu. No domingo, cerca de 200 britânicos e estrangeiros foram evacuados no último voo de resgate do Reino Unido. Vão ficar em quarentena durante 14 dias.
Os britânicos evacuados no voo anterior estão atualmente em quarentena no Hospital Arrowe Park.

Grupo de britânicos que foram evacuados de Wuhan estão isolados no hotel Kents Hill Park, no norte de Londres, onde estão a ser monitorizados devido ao coronavírus. Governo britânico fretou aquele que disse ser "o segundo e último" voo para retirar cidadãos da China. Avião chegou a Inglaterra no domingo.
© Isabel Infantes/AFP
Oito casos de britânicos infetados
Um porta-voz do Departamento de Saúde britânico disse que estavam a ser revistos os regulamentos para que possam manter as pessoas "em apoiado para sua própria segurança e porque os profissionais de saúde pública consideram que podem correr o risco de espalhar o vírus".
São atualmente oito os britânicos infetados com o coronavírus.
Segundo o Guardian, os quatro novos casos - três homens e uma mulher - foram transferidos, este fim de semana, de onde foram diagnosticados em Brighton para Londres para receberem atendimento especializado.
As autoridades de saúde do Reino Unido tinham confirmado este domingo o quarto caso de infeção com o novo coronavírus no país, indicando que se trata de um caso de transmissão de pessoa para pessoa.
O diretor-geral da Saúde britânico, Chris Witthy, precisou que o paciente em questão esteve em contacto com outra pessoa infetada identificada no Reino Unido e que a transmissão do vírus, que foi detetado pela primeira vez na China, aconteceu em França.
Os especialistas de saúde britânicos "continuam a trabalhar afincadamente para identificar as pessoas que entraram em contacto com os pacientes dos casos identificados no Reino Unido", prosseguiu Chris Witthy.
"Identificaram com sucesso este indivíduo e garantiram que ele está a receber o apoio adequado", acrescentou.
O paciente em questão foi transportado para o Royal Free Hospital em Londres, um centro especializado que possui "medidas robustas de controlo de infeções para impedir qualquer possível propagação do vírus", concluiu o responsável.
França informou no sábado que tinha identificado cinco cidadãos britânicos, quatro adultos e um menor, infetados com o novo coronavírus na região francesa de Alta Sabóia.
Sobe para cerca de 130 número de infetados em cruzeiro no Japão
Entretanto, o número de infetados pelo coronavírus chinês sob quarentena no porto de Yokohoma, Japão, subiu para cerca de 130, depois dos testes feitos a mais 60 pessoas terem dado positivo, informaram esta segunda-feira os media nipónicos.
O navio chegou há uma semana ao porto de Yokohama, a sudoeste de Tóquio, transportando 3.700 passageiros e tripulantes.
As pessoas infetadas já foram levadas para centros médicos de Tóquio e de outras localidades próximas, onde estão a receber tratamento.
As autoridades sanitárias continuam a realizar exames médicos aos passageiros e tripulantes do "Diamond Princess", que transportava 3.700 pessoas. O navio está sob quarentena desde passada segunda-feira e por um período de duas semanas.
A Organização Mundial da Saúde pediu na sexta-feira ao Japão que tomasse todas as medidas necessárias para acompanhar os passageiros da Diamond Princess confinados a bordo, incluindo medidas de apoio psicológico.
As autoridades chinesas elevaram esta segunda-feira para 908 mortos e mais 40 mil infetados o balanço do surto de pneumonia na China continental causado pelo novo coronovírus (2019-nCoV) detetado em dezembro, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).
No domingo, segundo dados divulgados pela Comissão Nacional de Saúde da China, foram registadas no território continental chinês 97 mortes e detetados 3.000 novos casos de infeção.
O número total de mortes ascende a 910, contabilizando as duas registadas fora da China continental, uma nas Filipinas e outra em Hong Kong.
O balanço ultrapassa o da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), que entre 2002 e 2003 causou a morte a 774 pessoas em todo o mundo, a maioria das quais na China, mas a taxa de mortalidade permanece inferior.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 350 casos de contágio confirmados em 25 países. Na Europa, o número chegou no domingo a 39, com duas novas infeções detetadas em Espanha no Reino Unido.
Uma missão internacional de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) partiu no domingo para a China. A OMS, que declarou em 30 de janeiro uma situação de emergência de saúde pública internacional, indicou no sábado que os casos de contágio revelados diariamente na China estão a estabilizar, mas sublinhou que era cedo para concluir que a epidemia atingiu o seu pico.
(Notícia atualizada às 18:09).