O que sabe o Johnny Bananas de covid-19?
A 4 de outubro de 2020, Martin Kulldorff, professor de Medicina da universidade de Harvard e epidemiologista especialista em detetar e monitorizar surtos de doenças e infeciosas e em avaliação da segurança de vacinas, Sunetra Gupta, professora da universidade de Oxford, epidemiologista especialista em imunologia, desenvolvimento de vacinas e modelos matemáticos de doenças infeciosas e Jay Bhattacharya, professor da faculdade de Medicina da universidade de Stanford, médico, epidemiologista e especialista em economia da saúde e políticas de saúde pública em doenças infeciosas e populações vulneráveis abaixo-assinaram e lançaram uma carta aberta de sua autoria a que chamaram The Great Barrington Declaration, o lugar, nos Estados Unidos, onde a mesma foi criada.
Até ao momento, 193,124 pessoas de todo o mundo juntaram a sua assinatura à deles. A Sky News descobriu entre os quase 200 mil apoiantes um Dr. Johnny Bananas e outros nomes mais que provavelmente falsos.
Não é de estranhar. Aquilo que os três especialistas defendem - a estratégia de construção da imunidade de grupo - não reúne consenso e o facto de a declaração estar aberta a todo o mundo não exigindo mais do que um nome, uma morada, um grupo profissional e um e-mail, todos facilmente "falsificáveis", torna-a um alvo fácil a este tipo de boicote.
Mas se pensarmos bem talvez seja preciso mais do que chamar-se Johnny Bananas para contrariar o que três epidemiologistas de renome mundial defendem.
Há quem o tenha feito, vários cientistas, também de renome mundial, criticaram a abordagem, com argumentos válidos do ponto de vista científico. Nenhum deles se chamava Johnny Bananas e talvez seja de refletir sobre a importância de reduzir a discussão de questões tão importantes no momento histórico que vivemos aos Johnnys Bananas da vida.
Como epidemiologistas e especialistas em doenças infeciosas e saúde pública, Martin Kulldorff, Sunetra Gupta e Jay Bhattacharya sentiram que deviam partilhar as suas graves preocupações quanto aos impactos negativos na saúde mental e física das populações provocados pelas estratégias dominantes de combate à pandemia de covid-19 e recomendar uma abordagem a que chamaram de Proteção Focada.
Em síntese, o que defendem (e que não é novidade nenhuma) é que o confinamento generalizado e prolongado das populações terá efeitos devastadores de curto e longo prazo em temos de saúde pública, nomeadamente ao nível das taxas de vacinação infantil, que descerão, da saúde cardiovascular, que piorará, dos diagnósticos de cancro, que diminuirão, e da deterioração da saúde mental, que se agravará, levando a um excesso de mortalidade nos próximos anos, com as classes trabalhadores e os mais jovens a suportarem o fardo maior da crise.
Para estes três especialistas é inconcebível que medidas como o confinamento e o encerramento das escolas e de setores da economia considerados não essenciais se mantenham até ao aparecimento de uma vacina contra a covid-19. E argumentam que, com o conhecimento que já se tem do vírus, a estratégia mais correta passaria por proteger os grupos de risco e assumir esta questão como prioridade em termos de saúde pública e abrir o resto da sociedade, com medidas básicas como a lavagem das mãos, para construir a imunidade populacional.
É polémico? Sim. Do outro lado da barricada, argumenta-se que isso custará vidas, não só entre os grupos de risco e que as sequelas do vírus entre os que não pertencem a esses grupos podem ser graves e ainda não são totalmente conhecidas.
A discussão continuará. A investigação científica trará cada vez mais dados para que esta seja feita de forma elevada, clara e eventualmente deixe até de ser necessária. Mas não são os Johnny Bananas que contribuirão para o esclarecimento.