O passado secreto de Adriana, a ama chilena que foi torturadora

Colaboradora da DINA, no auge da ditadura de Pinochet, Adriana Rivas é acusada de torturar opositores. É, também, há 40 anos, uma pacata ama na Austrália, o país que vai agora decidir se aceita extraditar esta mulher de 66 anos
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Adriana Rivas era uma estudante de secretariado quando as tropas fiéis a Augusto Pinochet tomaram o Palácio de La Moneda, em Santiago do Chile, no dia 11 de Setembro de 1973. Morto Salavdor Allende, o presidente, o golpe triunfou. E a ditadura teve início.

A estudante, que falava bem inglês, não acabou o curso. Em rigor, ela queria mesmo ser veterinária, mas o pai não a deixou inscrever-se na universidade. Em 1974, o ministério da Defesa da ditadura de Pinochet contratou-a. Para fazer traduções, garante Rivas. Ou para uma carreira muito diferente, como alega o Supremo Tribunal do Chile, que a acusa de ter torturado sete pessoas, que desapareceram, em 1976 e 1977.

Essa é a grande questão em aberto hoje, mais de 40 anos depois dos factos, que levará o tribunal central de Sidney, na Austrália, a decidir se avança com a extradição, pedida pelo Chile, desta ama e trabalhadora de limpezas, de 66 anos, que vive na Austrália desde 1978.

Ouvida esta quarta-feira pelo tribunal australiano, Rivas não se fez acompanhar por advogados. Por isso o seu caso está adiado até dia 1 de março.

Está, na verdade, adiado há bastante mais tempo. Essa é a história que a sua sobrinha, Lissette Orozco, conta no documentário El Pacto de Adriana, de 2017. A "tia Chany", que trazia prendas boas da Austrália, pode ser uma torturadora, responsável pela morte de pelo menos um dirigente do Partido Comunista do Chile?

"Todas as famílias têm ao menos um segredo. E a minha não é diferente", anuncia a voz da realizadora, mostrando a sorridente "tia Chany", ou a Tenente Lautaro, da DINA (serviços secretos políticos da ditadura), os dois nomes que mostram o cara ou coroa do passado de Adriana Rivas.

Segundo a acusação chilena, Rivas era a colaboradora mais próxima do chefe dos serviços secretos da ditadura, o condenado Manuel Contreras. Ambos trabalhavam no número 8630 da Avenida Simon Bolívar, onde entraram vivos, e nunca mais apareceram, vários opositores da ditadura de Pinochet.

Por isso, o Chile pede há vários anos a extradição de Adriana Rivas. A ama chilena na Austrália, que considera ter vivido os melhores anos da sua vida quando a ditadura assassinava os seus opositores, mas que nega ter cometido qualquer dos crimes de que é acusada.

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