Nigéria, onde ser professor de geografia é uma profissão de alto risco
O grupo terrorista Boko Haram é conhecido por atacar escolas e matar professores, privando uma geração de acesso à educação
O grupo terrorista Boko Haram tem entre os seus principais alvos o exército nigeriano, altos dirigentes políticos e professores, especialmente de geografia. Os últimos podem parecer uma escolha estranha, mas o significado do nome do grupo, Boko Haram, pode dar uma pista para as razões por detrás do perigo de ser professor de geografia na Nigéria, a principal área de influência deste grupo.
Segundo um novo relatório da organização de direitos humanos Human Rights Watch, o grupo extremista Boko Haram já matou mais de 600 professores desde 2009, e mais de 19 mil professores e funcionários escolares deixaram o seu trabalho por receio de serem atacados pelos terroristas. O relatório acrescenta: "Os insurgentes do Boko Haram têm um especial desagrado por certas disciplinas, como geografia".
Boko Haram é frequentemente traduzido como "Educação ocidental é proibida" ou "é pecado". O grupo extremista islâmico tem uma doutrina muito particular que inclui acreditar que a Terra é plana e que as chuvas são resultado da vontade de Deus - crenças que são contraditas pelo que se aprende na aula de Geografia, ou seja, que a Terra é redonda e que a chuva é resultado do funcionamento do ciclo da água, recorda o correspondente do jornal britânico The Telegraph na Nigéria. Também os professores de ciências naturais são vistos como responsáveis por transmitir conhecimento que vai contra os ensinamentos do Corão.
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O relatório da Human Rights Watch destaca o impacto extremo que a atuação do grupo terrorista Boko Haram tem tido na educação das crianças nigerianas. O relatório foi lançado para coincidir com o segundo aniversário do rapto de mais de 200 raparigas nigerianas de uma escola em Chubok pelo Boko Haram. O grupo é conhecido por pegar fogo a salas de aula e atacar professores, alunos e transporte escolar. Em muitas províncias da região mais afetada pelo Boko Haram, não existe nenhuma escola em funcionamento.
A Human Rights Watch destaca a importância dada aos professores de geografia no seu relatório de mais de 75 páginas. "Não sabíamos que os insurgentes andavam a rondar a escola", relembra uma professora citada no documento. "Eu estava ao portão com a professora de geografia Malam Anjili Mala, para repreender os alunos que chegavam atrasados. Por volta das 7.15 voltei-me para ir para dentro quando ouvi os tiros. Tentei proteger-me mas os atiradores tinham-se limitado a disparar seis balas sobre a professora [de geografia] e foram-se embora calmamente. Mais ninguém foi afetado".