Morreu o último marechal soviético, Dmitry Yazov

O marechal que participou no golpe falhado contra Gorbachov, em 1991, era uma das figuras militares mais controversas da Rússia. Tinha 95 anos.
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O último marechal da União Soviética, Dmitry Yazov, morreu em Moscovo esta terça-feira, aos 95 anos.

Yazov foi um dos 41 homens a ter o título de marechal da União Soviética, o mais alto posto militar da URSS. Outros detentores do título foram, por exemplo, Georgy Zhukov, que planeou a defesa da URSS contra a invasão nazi na Segunda Guerra Mundial, e o próprio Joseph Estaline. Yazov foi a última pessoa a receber o título de marechal, em 1990, antes do colapso da União Soviética, e era o último detentor do título ainda vivo.

Em 1991, Yazov, que era então o oficial militar de mais alto escalão da União Soviética, desempenhou um papel central na tentativa de golpe contra Mikhail Gorbachov e na sangrenta repressão dos ativistas pró-independência na Lituânia.

Apesar disso, permaneceu uma figura reverenciada na Rússia. Putin expressou pesar pela morte de Yazov, descrevendo-o como "um homem de excecional coragem e fortaleza" cujas "qualidades profissionais e pessoais lhe renderam inegável autoridade e respeito". Sem mencionar o papel do marechal na tentativa de golpe, Putin disse em sua homenagem que Yazov era "um destacado chefe militar e um grande representante de uma lendária geração de vencedores".

"Ele foi e continuará a ser uma lenda", disse o ministro da Defesa Sergei Shoigu, em comunicado, descrevendo Yazov como "um lutador corajoso e decisivo, sábio e um comandante responsável".

O ministério da defesa disse que Yazov morreu após uma "doença grave e prolongada". Será sepultado no Cemitério Memorial Militar Federal nos arredores de Moscovo em cerimónia a realizar-se na quinta-feira.

Herói para uns, criminoso para outros

Nascido na região de Omsk, na Sibéria, em 1924, Yazov alistou-se no Exército Vermelho em 1941 com 17 anos. Foi condecorado ainda durante a Segunda Guerra Mundial, onde esteve no cerco a Leninegrado e foi ferido duas vezes. Teve uma carreira militar brilhante e escreveu vários livros sobre estratégia militar e história.

Ministro da Defesa da União Soviética entre 1987 e 1991, Yazov era um comunista conservador e opunha-se à "perestroika". Integrou o "Grupo dos Oito", que organizou o golpe de agosto de 1991 contra Gorbachov. O golpe, liderado por comunistas radicais descontentes com as reformas liberais de Gorbachov, fracassou.

Os seus líderes foram presos três dias depois, mas a tentativa anunciou o colapso da União Soviética, que acabou por ser dissolvida em dezembro de 1991. Yazov foi libertado da prisão em 1993 e, depois, amnistiado pelo presidente Boris Yeltsin. Em entrevista ao jornal Komsomolskaya Pravda, no ano passado, explicou que foi a "ameaça de o país se desmembrar" que o levou a tentar derrubar o líder soviético. A sua morte deixa vivo apenas um líder do golpe fracassado, Oleg Baklanov, membro do comité central do Partido Comunista.

No ano passado, a Lituânia condenou Yazov à revelia, juntamente com mais de 60 ex-oficiais soviéticos por crimes de guerra durante o levantamento anti-soviético de 1991. Catorze pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas na repressão aos protestos.

"Demorou muito tempo, mas ele finalmente recebeu um veredicto adequado", disse à AFP o primeiro líder pós-comunista da Lituânia, Vytautas Landsbergis, justificando a pena de dez anos de prisão que lhe foi atribuída.

Yazov também foi ministro da Defesa durante repressão a manifestações pró-independência no Azerbaijão em janeiro de 1990, quando tropas soviéticas atiraram contra multidões de manifestantes em Baku, matando centenas.

Depois da prisão, a carreira militar de Yazov terminou mas ele continuou a servir o país exercendo outros cargos ligados à administração e ao governo. A 4 de fevereiro, Shoigu atribuiu Yazov a condecoração "Por mérito à pátria" pelo seu trabalho com os veteranos, depois de ter sido duas vezes condecorado por Putin nos últimos anos. As imagens desse evento mostram um Yazov idoso, em uniforme militar carregado de medalhas, mas incapaz de se levantar da cadeira ao receber o prémio. .

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