Milhares nas ruas de Hong Kong para dar uma "última oportunidade" ao governo
Milhares de manifestantes regressaram este domingo às ruas de Hong Kong, seis meses depois do início da onda de protestos da região chinesa, iniciados em junho, e duas semanas após a vitória da pró-democracia na eleições locais de 24 de novembro. A mobilização tem como objetivo dar uma "última oportunidade" à chefe do executivo, Carrie Lam, para que aceite as sua reivindicações. A organização da manifestação estima que haja cerca de 800 mil participantes, a polícia aponta para 183 mil, segundo a BBC.
Desde junho que a antiga colónia britânica atravessa uma crise grave com ações quase diárias para exigir reformas democráticas e pedir uma investigação sobre o comportamento da polícia. "Esperamos que o governo não cometa o erro de acreditar que a população desistiu dos seus pedidos nas últimas semanas", dizia Jimmy Sham, um dos responsáveis da Frente Civil dos Direitos Humanos (FCDH), aos jornalistas. "Esta é a última oportunidade dada pela população a [Carrie] Lam", acrescentou Sham.
A Frente Civil dos Direitos Humanos é um movimento que defende a não-violência e que organizou as principais manifestações de junho e julho. A polícia tomou a decisão, pela primeira vez, de permitir que a FCDH organizasse esta manifestação.
A marcha deste domingo segue um percurso, já usado várias vezes, a partir do Victoria Park e e atravessando zonas comerciais. Esta deverá ser a manifestação mais participada desde o início dos protestos.
O movimento marcará na segunda-feira os seis meses da sua mobilização, que começou com uma manifestação em 9 de junho, contra um projeto de lei que pretendia autorizar extradições para a China, mas que, entretanto, já foi retirado formalmente pelo Governo de Hong Kong.
Nos fóruns online usados pelos manifestantes, muitos apelam a marcar os seis meses de protestos com uma nova ação, em larga escala, de bloqueio dos transportes públicos na segunda-feira.
Um dos representantes da Frente Civil dos Direitos Humanos (FCDH), Jimmy Sham, apelou aos manifestantes e à polícia para evitarem qualquer violência. A polícia também pediu aos manifestantes pacíficos a dissociarem-se dos mais radicais. "Por favor, cortem as ligações com desordeiros e criminosos e ajudem-nos a colocar Hong Kong no caminho certo", salientou Kwok Ka-chuen, alto responsável da polícia, à imprensa.
Mas a marcha já resultou em pelo menos 11 detenções e apreensão de armas, incluindo uma pistola, pouco antes de a manifestação ter começado. Numa entrevista coletiva na televisão, o superintendente do departamento de combate ao crime organizado, Li Kwai-wah, explicou, citado pela agência de notícias espanhola EFE, que a intenção dos detidos "era usar a pistola para criar o caos" durante o protesto. E isso podia incluir "disparar contra os nossos agentes ou responsabilizá-los por atos contra cidadãos inocentes", afirmou o superintendente.
É a primeira vez que uma arma de fogo é apreendida nos seis meses de protestos na cidade. Além da pistola semiautomática de nove milímetros, a polícia também apreendeu 105 balas, facas, sabres, cassetetes, gás pimenta e petardos.
O superintendente informou que os detidos são oito homens e três mulheres, entre os 20 e os 63 anos, e que todos fazem parte de um grupo com ligações a um outro, procurado pelo lançamento de 'cocktails molotov' contra a esquadra policial do distrito de Mong Kok, em 20 de outubro.