Le Pen diz-se "candidata do povo contra o dinheiro"

Líder da Frente Nacional sublinhou os principais pontos do seu programa: mais protecionismo, menos UE e fronteiras mais fechadas
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Quando os tribunais nos EUA parecem revoltar-se contra o presidente norte-americano, as palavras de apoio a Donald Trump chegam a Washington vindas de Lyon. "Ele respeita as promessas e atua com rapidez e firmeza em defesa do seu povo", proclamou ontem Marine Le Pen, no discurso de encerramento da reunião da Frente Nacional (FN) que marcou o início da campanha para as presidenciais francesas - de 23 de abril e 7 de maio.
A líder dos populistas franceses, à frente nas intenções de voto para a primeira volta, voltou a sublinhar os pontos principais do seu programa: mais protecionismo económico, fronteiras mais fechadas, não ao euro e cada vez menos UE. "Contra a esquerda do dinheiro e contra a direita do dinheiro, eu sou a candidata do povo", lançou Marine Le Pen.
Ontem também, Jean-Luc Mélenchon, esquerdista e candidato presidencial pelo movimento França Insubmissa, apresentou-se em comício. Também aconteceu em Lyon e, ao mesmo tempo, em Paris. Graças às novas tecnologias, o holograma de Mélenchon, projetado na capital, foi repetindo aquilo que o verdadeiro ia dizendo. "O coração do nosso programa é a passagem à VI República", afirmou o candidato, que há muito reclama uma nova Constituição "escrita pelo povo". Na mais recente sondagem, Mélenchon aparece em quinto lugar, com 10% das intenções de voto.
Outro momento a marcar o noticiário político foi a entrevista de François Bayrou, presidente do Movimento Democrático (MD) e habitual candidato presidencial, à RTL. Para Bayrou, François Fillon - tendo em conta o escândalo de utilização indevida de fundos públicos que envolve a sua mulher e os seus filhos - "não tem outra solução" que não seja retirar-se da corrida. O líder do MD, que ainda não excluiu a hipótese de voltar a apresentar-se como candidato, afirmou também que Os Republicanos deveriam virar-se para Alain Juppé (derrotado por Fillon nas primárias da direita). Se isso acontecesse, Bayrou daria o seu apoio ao ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac (1995-97) e atual presidente da Câmara de Bordéus.
Quem saiu em defesa de Fillon foi Ségolène Royal. A socialista e ministra da Ecologia e da Energia disse que Penelope Fillon, a mulher de François, "terá sido vítima de um dispositivo que ela ignorava". Segundo o Le Figaro, Royal tem assumido o papel de conselheira estratégica do independente Emmanuele Macron. "Não podes deixar Le Pen respirar. É preciso que constantemente te posiciones contra ela, golpe contra golpe, comício contra comício", ter-lhe-á dito a candidata presidencial em 2007 e ex-mulher de Hollande.
Macron surge em algumas sondagens como o mais forte adversário da líder da FN. Para Guillaume Tabard, editor de política do Le Figaro, um possível confronto na segunda volta entre os dois "representará a implosão do quadro que estrutura a paisagem política francesa desde há décadas". Olhando para trás, seria a primeira vez - desde que François Mitterrand deu sustentação ao PS francês no início da década de 1970 - que nem os socialistas nem a direita tradicional estariam representados na segunda volta.
Para Tabard, Le Pen e Macron são a antítese um do outro - apesar de ambos se apresentarem como candidatos antissistema que não se reveem na dicotomia entre esquerda e direita. "De certa maneira precisam-se mutuamente. E os seus melhores aliados são a esquerdização do PS e a tentação suicida da direita", escreve o analista.
Também ontem, François Hamon, que venceu as primárias da esquerda derrotando o favorito Manuel Valls, foi investido formalmente como o escolhido do Partido Socialista. "Há 15 dias diziam que estávamos mortos e agora vejam, é o exército de sombras que se levanta num domingo de manhã", disse o candidato às cerca de três mil pessoas que marcaram presença na Mutualité de Paris. Hamon, a subir nas sondagens, sublinhou que quer "unir a esquerda e os socialistas" e fez questão de elogiar o trabalho do presidente Hollande no combate ao terrorismo: "Ele salvou vidas." Para o adversário e ex-socialista Emmanuel Macron, Hamon reservou a ironia: "Não acredito em criaturas do sistema que, por uma qualquer graça, de repente se transformam em grandes transformadores."

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