Sangue-frio de quatro militares evitou ataque terrorista no Louvre

Suspeito, um egípcio de 29 anos, estava armado com duas facas de mato e foi baleado cinco vezes na zona do ventre. França vive em estado de emergência desde janeiro de 2015 e tem, atualmente, sete mil militares nas ruas
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As cerca de mil pessoas que estavam ontem de manhã no Museu do Louvre, em Paris, viram a sua visita ser interrompida de forma abrupta quando um homem, armado com duas facas de mato, entrou no local e se dirigiu a quatro militares de forma ameaçadora, tendo um deles respondido com cinco disparos, que deixaram o suspeito, egípcio, em estado grave. Um incidente que foi classificado por François Hollande como um ato terrorista.

Cerca das 09.50 locais (08.50 em Lisboa), nas escadas do lado das Tulherias que dão acesso ao Carrousel du Louvre - centro comercial subterrâneo situado entre o Louvre e a praça do Carrousel, onde fica a pirâmide de vidro invertida, e que dá acesso ao museu, antes dos controlos de segurança - um homem "com uma mochila e uma T-shirt com uma caveira, uma faca do mato em cada uma das mãos, os braços levantados, ele precipitou-se" para quatro militares da força Sentinela, disse ontem ao final do dia o procurador de Paris, François Molins. De acordo com o chefe da polícia da capital francesa, o homem estava a proferir "ameaças" e gritando "Allah Akbar" (Deus é grande).

"O militar mais próximo, ao que parece, disparou para se defender da agressão", cinco balas, "ferindo gravemente o agressor", especialmente no ventre, acrescentou a mesma fonte policial. A meio do dia, o suspeito estava a ser operado, em perigo de vida, adiantou ao Le Figaro fonte próxima do inquérito.

Um militar, ligeiramente ferido no couro cabeludo, foi levado para um hospital militar . O ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, afirmou que "o militar agredido está bem e juntar-se-á à sua unidade esta noite". Segundo Benoît Brulon, porta-voz da operação Sentinela, o "soldado ferido não foi o que disparou".

Na altura do incidente estavam cerca de 1000 pessoas no museu, que foram mantidas em zonas seguras do Louvre. E lá ficaram cerca de três horas. Não há registo de feridos. "Percebemos logo que era algo sério", contaram à BFMTV pessoas que estavam dentro do museu. Foi estabelecido um perímetro de segurança em volta dos jardins, do Carrousel e do Museu do Louvre, que reabre hoje ao público.

"A identidade do autor não está totalmente estabelecida. Mas as investigações permitem saber que é um indivíduo de 29 anos e de nacionalidade egípcia", afirmou o procurador de Paris, adiantando que "tudo indica que o autor estava muito determinado".

François Molins informou que o suspeito comprou duas facas do mato no dia "28 de janeiro, às 17.31", numa armaria em Paris, tendo pago por elas mais de 600 euros. "A 30 de outubro, este homem fez um pedido de visto no Dubai. A 26 de janeiro de 2017, chegou ao Charles-de-Gaulle, vindo do Dubai. Instalou-se por uma semana, por uma renda de 1700 euros, no 8.º bairro", disse ainda o procurador.

As buscas feitas na rua de Ponthieu - artéria paralela aos Campos Elísios conhecida pela concentração de estabelecimentos noturnos e um elevado número de desacatos durante a noite - foram feitas na morada indicada no visto.

Nos dois últimos anos, a França viveu uma onda de ataques terroristas que causaram 238 mortos, entre os quais o ataque contra o Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, os atentados de 13 de novembro do mesmo ano em Paris e o atropelamento em Nice, a 14 de julho de 2016.

Os atentados de 13 de janeiro de 2015 levaram o governo a declarar o estado de emergência, mecanismo que foi prolongado várias vezes desde então e que se encontra em vigor até 15 de julho. Na sequência dos mesmos ataques, o governo acionou a chamada operação Sentinela, que colocou nas ruas de Paris e do resto de França cerca de 10 mil militares para garantir a segurança dos franceses. Atualmente estão mobilizados sete mil militares, quase metade deles na capital.

O presidente francês elogiou os soldados que estavam no Louvre, evitando o que François Hollande disse parecer um ato terrorista. "Esta operação evitou um ataque cuja natureza terrorista deixa poucas dúvidas", declarou o chefe de Estado. A "rápida capacidade de reação" dos militares também foi elogiada pelo primeiro-ministro Bernard Cazeneuve.

François Fillon, o candidato da direita às presidenciais, seguiu o mesmo discurso, enaltecendo o "sangue frio das forças de segurança". Já Benoît Hamon, o candidato dos socialistas, evocou a "ameaça" que "está sempre presente", elogiando a "coragem do militar ferido".

Emmanuel Macron, outro candidato presidencial, lembrou que o país "está em estado de emergência. A ameaça está presente. Ela é forte". A candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, elogiou o "sangue frio" dos militares" e aproveitou para fazer campanha, ao dizer que "este evento confirma que o veneno do terrorismo islamita está longe de estar erradicado e que a gravidade do problema ainda não foi tida em conta pelos decisores políticos".

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