Explosão na Rússia ocorreu durante um teste com armamento nuclear

No acidente morreram cinco pessoas e o nível de radiatividade aumentou. Falha no teste é sintoma de uma escalada mais ampla das tensões nucleares EUA-Rússia, diz especialista britânico.
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A explosão que ocorreu na semana passada na Rússia, no extremo norte, pode ter acontecido durante testes de armamento nuclear. Cientistas russos admitiram que estavam a trabalhar em fontes miniaturizadas de energia nuclear quando um motor de um foguete explodiu. Esta admissão faz aumentar a possibilidade de o acidente ter ocorrido durante o teste de um míssil de cruzeiro experimental alimentado por um pequeno reator atómico.

A explosão na quinta-feira passada no campo de testes militar na região de Arkhangelsk, na Rússia, matou pelo menos cinco pessoas e fez com que as leituras de radiação nas cidades vizinhas aumentassem para 20 vezes o nível normal.

O Ministério da Defesa da Rússia disse que a explosão ocorreu durante o teste de um motor de foguete, mas a agência nuclear do país, Rosatom, confirmou mais tarde que vários dos seus funcionários morreram durante o teste de uma fonte de isótopos num sistema de propulsão líquida.

David Cullen, diretor do Serviço de Informação Nuclear no Reino Unido, disse esta segunda-feira que a opinião entre os especialistas independentes é de que a explosão parece ter sido causada pelo fracasso de um míssil experimental de cruzeiro nuclear conhecido na Rússia como o 9M730 Burevestnik e pela Nato como o SSC-X-9 Skyfall.

Anunciado em 2018 pelo presidente russo, Vladimir Putin, o míssil é teoricamente capaz de usar uma fonte de combustível nuclear e voar por períodos indefinidos. Moscovo realçou o alcance ilimitado do míssil e a capacidade potencial de penetrar nas defesas antimísseis dos EUA, mas dúvidas permanecem entre os investigadores sobre se a tecnologia principal é viável.

Especialistas do programa nuclear da Rússia também identificaram o navio Serebryanka, que transporta combustível nuclear, perto do local da explosão da semana passada, e acredita-se que esteja a participar nos trabalhos. O navio já havia sido avistado nas águas perto de Novaya Zemlya, onde a Rússia supostamente testou o míssil Burevestnik em 2017.

"A nossa suspeita é de que algo correu mal durante ou depois de um teste russo de míssil de cruzeiro movido a energia nuclear", escreveu Jeffrey Lewis, especialista em controlo de armas dos EUA no Middlebury Institute of International Studies. Acredita-se que a Rússia tenha transferido os testes de Burevestnik para o atual local no início deste ano.

Numa declaração em vídeo divulgada na noite de domingo, um elemento do centro nuclear russo, onde cinco funcionários morreram na explosão, disse que a agência trabalhava em várias tecnologias experimentais, incluindo "fontes miniaturizadas de energia."

Vyacheslav Solovyov, diretor científico do centro, disse que um trabalho semelhante em "reatores nucleares de pequena escala" também está a acontecer nos EUA. "Agora estamos a tentar perceber, trabalhando de perto com uma comissão do governo, analisando toda a cadeia de eventos, para avaliar a escala do acidente e entender as causas", disse Solovyov.

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