Dois portos franceses e três catalães disponíveis para acolher Aquarius. "É sobre salvar vidas"
Há quatro dias sem autorização para atracar, o navio Aquarius tem a bordo 141 imigrantes e já recebeu uma resposta negativa de Itália e Malta. Espanha argumenta que "não é o porto mais perto e, portanto, o mais seguro", afirmou fonte oficial do governo de Pedro Sánchez, segundo a agência francesa AFP. Mas Sète e Córsega, no Sul de França, já se disponibilizaram para acolher o navio humanitário gerido pelas organizações não-governamentais SOS Mediterrâneo e Médicos sem Fronteiras. A Catalunha segue o mesmo exemplo e oferece três portos.
"É sobre salvar vidas e não sobre política de imigração", justifica Jean-Claude Gayssot, o responsável pelo porto de Sète, em declarações à rádio Europe 1. Para o antigo ministro francês dos Transportes entre 1997 e 2002, a questão não pode ser económica nem política, porque, defende, o que importa é "a assistência a pessoas em perigo". Neste caso a imigrantes que foram resgatados na passada sexta-feira em frente à costa da Líbia.
Dos imigrantes que aguardam no Aquarius para desembarcar, a maioria (73) são menores de idade e 70% são naturais da Somália e da Eritreia, mas também há cidadãos do Bangladesh, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Marrocos e Egito.
Apesar de ainda não ter contactado o governo de Emmanuel Macron, o diretor do porto de Sète garante ter condições para acolher os 141 imigrantes e questiona a passividade dos países europeus face a este novo impasse. Recorde-se que em junho Aquarius viveu uma situação idêntica. Na altura seguiam a bordo 629 imigrantes e Espanha deu autorização ao navio humanitário para atracar no porto de Valência.
"Da última vez, Espanha salvou a honra da Europa", considera Gayssot. "Estamos à espera de ver uma imagem como a daquela pobre criança?", questiona referindo a Aylan, o menino sírio, de três anos, que morreu afogado e cujo corpo foi encontrado numa praia da Turquia. Uma imagem que correu mundo.
Com esta disponibilidade em ajudar os imigrantes a bordo do navio, Jean-Claude Gayssot pretende "encorajar as autoridades francesas a assumirem todas as suas responsabilidades". "Para que a honra da Europa, a honra da França, a honra da humanidade seja preservada", afirma.
Além de Sète, o porto de Córsega, também no sul de França, se disponibilizou a receber Aquarius. De acordo com o presidente da Assembleia de Córsega, há imigrantes a bordo do Aquarius doentes e que esta é uma situação urgente. "A Europa fracassou neste assunto e é a hora de todos assumirem as suas responsabilidades", argumenta, citado pelo jornal belga La Libre.
O presidente do governo Catalão, Quim Torra, também já assumiu a disponibilidade em acolher os 141 imigrantes. Através da rede oficial Twitter, o governante ofereceu esta terça-feira os portos que estão sob a alçada do governo da Catalunha. E são eles Palamós (Girona), Vilanova i la Geltrú (Barcelona) e Sant Carles de la Ràpita (Tarragona)
Apesar destas duas soluções, o impasse mantém-se com a presidente da SOS Mediterrâneo, Sophie Beau, a apelar a todos os países europeus a "assumirem as suas responsabilidades".
Aliás, a ONG promove esta terça-feira uma conferência de imprensa, que surge depois de Gibraltar retirar a bandeira do navio Aquarius. O governo do território britânico justifica a decisão pelo facto da embarcação estar registada como "navio de busca" e não para operações de salvamento. A tomada de posição surge depois de uma primeira advertência para a suspensão das atividades de resgate de imigrantes.