Antigo embaixador em Moscovo condecorado agradece em russo
Uma galeria dos embaixadores russos e soviéticos em Portugal foi inaugurada esta terça-feira na embaixada da Rússia em Lisboa, no âmbito das celebrações dos 240 anos das relações diplomáticas bilaterais, iniciadas em 1779, durante os reinados de D. Maria I e da czarina Catarina a Grande. A cerimónia presidida por Mikhail L. Kamynin, embaixador chegado no ano passado e que se expressou em português, teve como convidados de honra um antigo embaixador russo em Lisboa, Pavel Petrovskiy, e também Manuel Marcelo Curto, que em 1974, com apenas 25 anos, foi um dos diplomatas enviado para Moscovo, logo depois do restabelecimento das relações a seguir ao 25 de Abril. O português, que esteve colocado mais duas vezes em Moscovo, numa delas assistindo à desagregação da União Soviética em 1991 e na outra, como embaixador, assistindo ao reermergir da potência russa já com Vladimir Putin no Kremlin, foi condecorado pelo contributo para o desenvolvimento das relações entre os dois países e agradeceu falando vários minutos em russo.
"Portugal e a Rússia nunca estiveram em estado de guerra um com o outro", sublinhou o embaixador Marcelo Curto, falando já em português. Relembrou que as relações são muito antigas, mas estiveram suspensas desde a revolução bolchevique até ao fim do Estado Novo (nem a Primeira República nem o regime salazarista-marcelista reconheceram a União Soviética). E sobre a sua chegada à Rússia em 1974, esclareceu que foi, de facto, para a primeira embaixada portuguesa em Moscovo, pois antes a legação portuguesa estava em Sampetersburgo, capital nos tempos finais do Império Czarista. A assistir estava Irina, sua mulher, uma russa.
O diplomata português relembrou como em 1991-1992 as duas diplomacias cooperaram no processo de paz em Angola, disse ainda que por duas vezes teve de ajudar a preparar visitas do presidente Putin a Portugal, e, agradecendo a condecoração assinada por Serguei Lavrov, contou como um dia o ministro russo dos Negócios Estrangeiros o desafiou a deixar à porta o intérprete e assim estiveram sozinhos, durante uns 45 minutos, a conversar. Lavrov esteve no final do ano passado em Portugal para contactos com Augusto Santos Silva.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve no ano passado em Moscovo, onde reuniu no Kremlin com Putin e o convidou a voltar a Portugal. Não há ainda qualquer indicação que essa visita venha a ocorrer em 2019, apesar das celebrações dos 240 anos de relações.