O caso sucedeu em 2016 e só nesta sexta-feira foi conhecida a sentença, de que cabe ainda recurso para um tribunal de segundo instância de El Salvador..Residente na pequena localidade de Los Vásquez, Evelyn Beatriz Hernandez Cruz foi acusada no dia 6 de abril do ano passado de ter lançado o nado-morto numa fossa sética junto de sua casa, antes de ser levada por familiares para um hospital na cidade de Cojutepeque, onde a situação foi identificada como parto extra-hospitalar pelo pessoal médico e denunciada às autoridades. Isto por que a jovem se negou a explicar onde estava o bebé e dizia não saber que estava grávida e que tinha abortado..Após a ser conhecida a sentença, os advogados da jovem consideraram a sentença reflexo de "preconceitos" e que os peritos responsáveis pelo estudo patológico e pela autópsia não estabeleceram de forma incontroversa a causa da morte da bebé. Ainda que, durante o julgamento, um dos peritos tenha afirmado que a bebé nascera vivo..Os advogados da jovem salientaram ainda que o corpo da bebé foi lavado pela polícia antes de ser entregue aos técnicos de medicina legal. "Os agentes de autoridades que tiraram o corpo da fossa levaram-no em seguida, o que é obviamente uma contaminação do local do crime. Nenhum cadáver é lavado"..No julgamento, a jovem disse ter sido violada e declarou que "não queria matar" a filha..A Amnistia Internacional denunciou a decisão, considerando-a um resultado das "leis anti-aborto de El Salvador, que são causa de dor e sofrimento para inúmeras mulheres, jovens e suas famílias". A atual legislação salvadorenha todas as formas de aborto, incluindo o terapêutico, penalizando as mulheres e os médicos que o pratiquem com penas de prisão entre os dois e os cinco anos. Em caso em que se conclua pela existência de homicídio agravado, como sucedeu com Evelyn, as penas podem situar-se entre os 30 e os 50 anos de prisão..Para Sara Garcia, de um coletivo feminista salvadorenho, nestas circunstâncias não se leva em consideração que as mulheres grávidas vivem em situação de pobreza, como sucede com Evelyn, e que muitas das situações de gravidez resultam de abusos e casos de violação. Segundo a mesma ativista, em cada ano, há 25 mil mulheres engravidadas em resultado de violações..El Salvador, em conjunto com a Nicarágua, Honduras, República Dominicana e Chile, é um dos cinco países da América do Sul onde se proíbe o aborto sem qualquer exceção.