"A Europa é para os europeus" mas "deve acolher refugiados", diz Dalai Lama
"A Europa é moralmente responsável por ajudar os refugiados que fogem da guerra, da fome e da perseguição nos seus países e estão realmente em perigo de vida. (...) Mas os refugiados devem acabar por voltar para os seus países. (...) A Europa pertence aos europeus."
Os excertos pertencem a um discurso do líder espiritual dos budistas, o Dalai Lama, em Malmö, na Suécia, esta quarta-feira. Estão a espantar muita gente, atendendo à ideologia humanista do seu autor, mas a verdade é que já tinha dito o mesmo pelo menos há dois anos,
"A Europa, por exemplo a Alemanha, não pode tornar-se um país árabe", disse, em maio de 2016, numa entrevista a jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. "A Alemanha é a Alemanha. Há tantos árabes que na prática se torna complicado,"
Esta posição é tanto mais perplexizante quando o próprio, que visitou a Suécia a convite de uma ONG para dar uma conferência intitulada "A arte da felicidade e da paz", é um refugiado na Índia desde 1959, quando após uma sublevação dos tibetanos contra a presença chinesa fugiu com dezenas de milhares de compatriotas para aquele país. Neste momento, de acordo com o Washington Post, cerca de 120 mil tibetanos vivem na Índia.
Mas tanto no discurso de anteontem como na entrevista de 2016 o Dalai Lama deu sinais contraditórios. Se faz afirmações que coincidem com as dos grupos nacionalistas e de extrema direita que fazem da recusa dos refugiados e da defesa da "Europa para os europeus" o fulcro da sua linha política, também diz que "todas as nações europeias devem ajudar e educar os refugiados e assegurar que têm uma boa qualidade de vida." E que "quando olhamos para o rosto de cada refugiado, especialmente das mulheres e crianças, sentimos o seu sofrimento."
Porém, considera que toda a ajuda e acolhimento devem ter como fim que "eles voltem para os seus países e ajudem a reconstruí-los,"
Recorde-se que a esmagadora maioria dos refugiados que fogem da Síria não tem rumado à Europa, mas sim à Jordânia e ao Líbano, assim como à Turquia. A Alemanha, com oitenta milhões de pessoas, acolheu um milhão de refugiados. Já a Suécia, com um oitavo da população da Alemanha, é considerada um dos países da Europa que acolheu, proporcionalmente, mais refugiados.
Malmö, onde o Dalai Lama discursou, é a terceira cidade da Suécia e o ponto de entrada de refugiados no país que acabou de ter legislativas nas quais o partido Democratas Suecos, de extrema direita e anti refugiados, ficou em terceiro lugar.