Hollande brinda com Raúl Castro e pede fim do embargo a Cuba

Visita de Estado do líder cubano com honras militares e jantar no Eliseu. Paris vai converter parte da dívida cubana num fundo para acelerar os projetos de desenvolvimento na ilha
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"É preciso apoiar o povo cubano até ao fim e dizer a verdade sobre a desumanidade do embargo, mas também sobre o regime de Cuba. Os dois são injustificáveis." As palavras são de um artigo de opinião, publicado no Le Nouvel Observateur em 2003, assinado pelo então secretário do Partido Socialista francês, François Hollande. O mesmo que, agora presidente de França, recebeu ontem o homólogo cubano, Raúl Castro, com pompa e circunstância no Palácio do Eliseu, repetindo as críticas ao embargo norte-americano a Cuba, mas já não contra o governo da ilha. Paris quer hoje ser o "primeiro parceiro" político e económico europeu de Havana.

Hollande foi, em maio de 2015, o primeiro líder europeu a viajar para Cuba desde o anúncio do reatar das relações entre Havana e Washington. Nessa ocasião aproveitou para visitar o líder da revolução cubana, Fidel Castro, que há 21 anos esteve em Paris (reunindo no Eliseu com François Mitterrand) e que em 2006 entregou o poder ao irmão Raúl. Esta é a primeira visita de Estado do presidente cubano a um país europeu, tendo noutras ocasiões estado no velho continente para se encontrar com o Papa Francisco, no Vaticano.

Hollande, que esteve reunido durante uma hora com Castro, pediu na conferência de imprensa ao homólogo norte-americano, Barack Obama, para que "vá até ao fim" e levante o embargo a Cuba, que considerou um "vestígio da guerra fria". O embargo foi instaurado em 1961 e só o Congresso pode levantá-lo. "Este embargo, este bloqueio, deve ser apagado para que Cuba retome plenamente o seu lugar e esta é a vontade desde país, a vontade da comunidade internacional", disse Hollande. Castro agradeceu essas palavras.

Quanto aos direitos humanos, pelos quais Cuba é muitas vezes criticada, Hollande limitou-se a dizer: "Não ignorámos nenhum assunto no plano político ou económico, incluindo os direitos humanos." Na área económica, Hollande recordou o acordo do Clube de Paris para perdoar o pagamento de 7,7 mil milhões de euros da dívida de Havana, anunciando ainda que França vai anular "progressivamente" os juros da dívida cubana, à medida que forem efetuados os pagamentos em atraso. E convertê-los num fundo franco-cubano de 212 milhões de euros para "acelerar os projetos de investimento franceses em Cuba".

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Honras militares e jantar de Estado

Castro, que chegou no sábado para uma visita privada, começou ontem a agenda oficial depositando uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, sob o Arco do Triunfo. Ao lado do presidente cubano, que foi recebido com honras militares, estava a ministra da Ecologia e número dois do governo francês, Ségolène Royal. Seguiu-se um desfile pelos Campos Elísios, decorada com as cores dos dois países.

À noite, houve jantar de Estado no Eliseu com cerca de 200 convidados - alguns improváveis como Jean-Luc Mélenchon ou David Guetta. O primeiro é líder do Partido da Esquerda, sendo há muito admirador da revolução cubana e crítico do presidente francês: numa entrevista ao Le Journal de Dimanche , neste fim de semana, disse que "Hollande é o nome de todas as nossas misérias". O segundo, um dos mais famosos DJ do mundo, está a preparar um concerto em Havana e namora com uma cubana de 22 anos, a modelo Jessica Ledon.

Entre os convidados estava ainda Nathalie Cardone, que nos anos 1990 fez sucesso com uma versão da música Hasta Siempre de homenagem ao comandante Che Guevara, assim como o realizador Constantin Costa-Gavras e a atriz Virginie Efira, envolvidos na realização do festival de cinema francês em Cuba.

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