Farage nega ter usado fundos europeus para tentar ser deputado

Verba utilizada de forma indevida pelo UKIP nas eleições gerais de maio de 2015 e no referendo do brexit ronda os 500 mil euros, segundo uma auditoria do Parlamento Europeu
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"Isto é pura vitimização. Eu sou o eurodeputado mais investigado da história. Olhem para o que os grupos pró-UE estão a gastar", disse ontem Nigel Farage à Sky News, negando ter usado fundos europeus para tentar ser eleito deputado por Thanet nas últimas eleições gerais britânicas, que tiveram lugar em maio de 2015. Eleição que o líder do UKIP falhou.

Uma auditoria do Parlamento Europeu a que a Sky News teve acesso, revelou que o UKIP gastou indevidamente quase meio milhão de euros de fundos europeus em sondagens em locais chave que o partido liderado por Farage queria conquistar nas eleições gerais, mas também em estudos de opinião antes do referendo sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. Fundos que tinham sido atribuídos à Aliança para a Democracia Direta na Europa (ADDE), um partido político europeu criado por Nigel Farage em 2014, composto por eurodeputados de vários países e dominado pelo UKIP.

O documento divulgado ontem pela Sky News refere que o financiamento de sondagens feito pela ADDE no Reino Unido entre fevereiro e dezembro do ano passado é considerado "financiamento indireto de um partido político nacional" e de uma "campanha de referendo", ambos proibidos pelas regras do Parlamento Europeu.

"Os círculos eleitorais selecionados para muitas das sondagens sublinham que eram feitas no interesse do UKIP. Muitos dos círculos eleitorais podem ser identificadas como sendo essenciais para alcançar uma representação significativa na Câmara dos Comuns nas Eleições Gerais de 2015 ou para um resultado positivo da "campanha pela saída"", pode ler-se no documento, citado pela televisão britânica.

Contas feitas, segundo a auditoria do Parlamento Europeu, os fundos gastos de forma indevida pela ADDE perfazem um total de 500 615,55 euros. Um porta-voz da União Europeia adiantou à Sky News que a maior fatia - 450 mil euros - foi usada pelo UKIP.

Em declarações à Sky News, Nigel Farage garantiu que o partido não usou fundos da União Europeia "em Thanet ou em qualquer outro local durante as eleições gerais" e que todas as sondagens feitas foram pagas pelo UKIP. Mas admitiu que foram usadas verbas da ADDE para os estudos de opinião feitos antes do referendo do brexit, mas que tal está dentro das regras. "Estávamos à espera disto há anos. Vivemos num ambiente no qual as regras são deliberadamente interpretadas de acordo com as conveniências", declarou o eurodeputado do UKIP.

Esta questão poderá agora ser investigada pela Comissão Eleitoral do Reino Unido, que terá sido informada há semanas das conclusões da auditoria do Parlamento Europeu. A Mesa do Parlamento Europeu deverá tomar uma decisão final sobre este assunto na segunda-feira. Se concordar com as conclusões da auditoria, a ADDE poderá ser obrigado a devolver 173 mil euros e ficará impedido de receber 501 mil euros de fundos europeus, escrevia ontem o The Guardian.

Um porta-voz da ADDE garantiu que irão levar esta questão a tribunal e que a definição de "despesas de apoio a um partido político" tinha sido alterada. "Respondemos às suas questões com informações e explicações massivas, justificando as nossas atividades e despesas. Eles simplesmente ignoraram as nossas apresentações e, em muitos casos, essas apresentações foram feitas de forma repetida a pedido deles", sublinhou a mesma fonte.

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