Ex-chefe do Estado Maior do Exército de Zapatero é candidato do Vox

Fulgencio Coll, general que retirou as tropas espanholas do Iraque, passou por Bósnia, Moçambique e Angola, foi apresentado como candidato da presidente da Câmara de Palma de Maiorca pela Actúa-Vox, coligação que junta um partido saído da sociedade civil com o partido de extrema-direita que entrou no Parlamento da Andaluzia

Depois de anos e anos de uma ditadura militar liderada pelo generalíssimo Franco, a participação de militares de alta patente a entrar na política ativa em Espanha, já em democracia, era algo residual. Até agora. Na quinta-feira, o ex-chefe do Estado Maior do Exército espanhol Fulgencio Coll, de 70 anos, foi apresentado como o candidato a presidente da Câmara de Palma de Maiorca, nas ilhas Baleares, pela coligação Actúa-Vox, nas autárquicas de maio.

Actúa Baleares é um partido nascido da sociedade civil e o Vox é um partido de extrema-direita que foi notícia no início deste mês depois de conseguir eleger, de forma inesperada, 12 deputados para o Parlamento da Andaluzia. O líder do Actúa Baleares, Jorge Campos, anunciou a candidatura do general como sendo "de luxo" e recordou que Fulgencio Coll provém de uma família de ex-autarcas de Palma, como foi o seu avô, Juan Coll Fuster, que esteve na autarquia entre 1945 e 1952. O pai era um general de infantaria que foi presidente da deputação no tempo do franquismo.

Formado na Academia Geral Militar de Saragoça, Fulgencio Coll foi comandante militar da província de Badajoz, esteve em missões internacionais em Moçambique, em Angola, na Bósnia Herzegovina e no Iraque. Foi ele que se encarregou da retirada das tropas espanholas do Iraque, após os atentados de Madrid, por ordem do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero. Entre 2008 e 2012 foi chefe do Estado Maior do Exército de Espanha, nomeado pela falecida Carme Chacón, ministra da Defesa do governo socialista de Zapatero e a primeira mulher a ocupar o cargo.

Ao apresentar a sua candidatura à presidência da Câmara de Palma de Maiorca, a sua terra natal, o general afirmou que vai abdicar do salário de autarca, que vai baixar os impostos, eliminar o clientelismo na distribuição de cargos públicos e tornar a cidade num sítio mais limpo, mais acolhedor e mais turístico do que é hoje em dia. "Vou renunciar ao salário municipal e se não conseguirmos um grande resultado a culpa será minha".

A Actúa-Vox, dizem os media espanhóis, nem sequer aparece nas sondagens sobre as intenções de voto. Mas como sublinham os media espanhóis, o Vox, liderado por Santiago Abascal, surpreendeu na Andaluzia, no dia 2, por isso o melhor é esperar para ver até ao fim. Esperar pelos resultados. E ver se há surpresas. O Vox pode inclusivamente chegar ao governo da Junta da Andaluzia se vier a fazer uma coligação com o PP e o Ciudadanos.

"A decisão de poder participar [neste projeto político] é bastante sensível. Espanha está hoje num momento delicado, por isso, tenhamos 70 anos ou 20, temos que dar um passo em frente, defender a Constituição", declarou o general Coll, que defende a devolução de competências ao Estado central espanhol na área "da Educação e da Saúde".

Defensor das touradas, Fulgencio Coll, que fala maiorquino, espanhol, francês e inglês, é crítico da Lei da Memória Histórica. Classificou-a como "um fracasso" e pediu que se deixe "os historiadores fazerem o seu trabalho".

Sobre o Vox ex-chefe do Estado Maior do Exército declarou: "Os extremistas não estão no Vox, estão naqueles que apoiam os terroristas, os separatistas, aqueles que nos querem levar para um modelo neocomunista fracassado na Venezuela".

Esta não é, porém, a primeira vez que um militar de alta patente vai para um partido. Julio Rodríguez, que foi chefe do Estado Maior General de Espanha, entre 2008 e 2012, juntou-se ao Podemos de Pablo Iglesias em 2015. Foi candidato a deputado nas listas do partido nas eleições legislativas de 2015 e de 2016 e é, desde 2017, secretário-geral do Podemos na Câmara Municipal de Madrid. A autarquia é dirigida por Manuela Carmena, ex-jurista, ex-juíza, eleita em 2015.

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