Paulo Rangel e Esteban Gonzalez Pons, vice-presidentes do Partido Popular Europeu (PPE), que tinham partido na quinta-feira para a Colômbia numa missão política e humanitária - que terminará domingo - com o objetivo de "pressionar o regime de Nicolás Maduro", conseguiram encontrar-se com o autoproclamado presidente interino da Venezuela. Juan Guaidó arrisca-se a ser impedido de entrar no seu país ou até a ser detido, por ter cometido um ato formalmente ilegal, depois de ter violado a proibição do Supremo Tribunal de viajar para fora da Venezuela.."Fiquei muito impressionado com Juan Guidó", disse ao DN Paulo Rangel, a partir da Colômbia. O eurodeputado português teve a oportunidade de se reunir durante 10 minutos a sós com o autoproclamado presidente interino da Venezuela e constatou que está "extremamente sereno perante uma situação complexa". Rangel garantiu que se mostrou "muito conhecedor dos assuntos internacionais" e que se recusou a "politizar" a ajuda internacional, depois de ter estado presente no concerto "Venezuela Live Aid", para recolha de fundos destinados à ajuda humanitária..O eurodeputado português não sabe qual será o desfecho da presença de Guaidó na Colômbia e como regressará à Venezuela, após Nicolás Maduro ter mandado fechar a fronteira. Existe a hipótese do autoproclamado presidente interino regressar e ser preso, o que causaria forte impacto internacional.."Estamos numa encruzilhada muito grande", admite Paulo Rangel, que estará hoje com a delegação do Parlamento Europeu na fronteira, em Táchira, às 13.30 locais (18.30 em Portugal), para ajudar a tentar fazer entrar na Venezuela ajuda humanitária internacional, apesar do governo venezuelano ter anunciado que encerrava parcialmente a fronteira com a Colômbia..Numa publicação divulgada na rede social Twitter, na sexta-feira (madrugada de hoje, em Lisboa), a vice-Presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, afirmou que o Governo vai "fechar temporariamente" as pontes Simón Bolívar, Santander e Unión. A medida surgiu depois do Presidente, Nicolás Maduro, ter encerrado a fronteira com o Brasil, onde, no mesmo dia, confrontos entre o exército e uma comunidade indígena deixaram pelo menos dois mortos..A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos pelos Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais nos últimos dias do braço-de-ferro entre o autoproclamado Presidente interino, Juan Guaidó, e Nicolás Maduro..O Governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país, afirmação que contradiz os mais recentes dados das Nações Unidas, que estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões..Maduro encara a entrada desta ajuda humanitária como o início de uma intervenção militar por parte dos norte-americanos e tem justificado a escassez com as sanções aplicadas por Washington.."Ambiente impressionante"."O ambiente na fronteira é absolutamente impressionante", descreveu à Lusa Rangel, em declarações via telefone, e que confirmou este sábado ao DN, relatando que se encontrava na zona da Ponte Internacional Simón Bolívar, estrutura que tem testemunhado a passagem, por dia, de 35 mil pessoas oriundas da Venezuela.."É uma situação do ponto de vista humanitário extremamente difícil. Só ontem [quinta-feira] (...) o tráfego de pessoas chegou aos 50 mil", prossegue o também vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE), que integra uma delegação desta família política do Parlamento Europeu que chegou na quinta-feira à Colômbia..Com 300 metros de cumprimento, a Ponte Internacional Simón Bolívar é a que tem o maior trânsito de pessoas entre a Colômbia e a Venezuela.."Está totalmente aberta, mas só dá para passar peões, não é para passar ajuda humanitária", indica o político, observando que as pessoas que atravessam a ponte "normalmente não trazem muitas coisas", levam consigo "pequenos sacos" e "saem em condições muito difíceis"..La Parada, uma das primeiras paragens na Colômbia dos migrantes e refugiados venezuelanos quando atravessam a fronteira, é descrita pelo eurodeputado social-democrata como uma zona de "condições muito deploráveis"..É aí, segundo Paulo Rangel, que estão as organizações não-governamentais (ONG) a fazer "um enorme esforço para dar a primeira comida, os primeiros medicamentos, a primeira assistência".."Muitas destas pessoas ficam por aqui. A situação é realmente terrível. Há pessoas a vender a cabelo, a prostituição aumentou imenso", prossegue.."[Nicolás] Maduro condenou o seu povo realmente a uma situação absolutamente degradante. É uma coisa que é evidente nesta zona", lamenta..Antes de chegar à zona de fronteira, Paulo Rangel esteve na capital colombiana, Bogotá, onde manteve contactos políticos, nomeadamente com o Presidente da Colômbia, Iván Duque Márquez..Ainda hoje, mas já na cidade colombiana de Cúcuta, a cerca de 10 a 15 quilómetros da zona de fronteira, estão previstos novos encontros, designadamente com o Presidente do Chile, Sebastián Piñera. Também existe a possibilidade de um encontro com o Presidente da Argentina, Mauricio Macri.."Grande aparato militar".Sobre o ambiente em Cúcuta, onde tem estado armazenada ajuda humanitária internacional (alimentos e medicamentos) que tem sido recusada pelo governo do Presidente Nicolás Maduro, o eurodeputado português descreve uma cidade onde é visível "um grande aparato militar" e percetível uma agitação associada ao concerto solidário promovido hoje pelo milionário e filantropo britânico Richard Branson, mas também associada à preparação das questões logísticas para as ações de sábado..As atenções estarão concentradas no sábado nesta cidade, uma vez que a oposição venezuelana, liderada pelo presidente da Assembleia Nacional (parlamento) e autoproclamado Presidente interino venezuelano, Juan Guaidó, espera fazer entrar na Venezuela a ajuda humanitária que está armazenada em Cúcuta..Sobre as posições defendidas por Nícolas Maduro, particularmente a recusa de receber ajuda proveniente dos Estados Unidos, mas aceitar a assistência de outros atores internacionais, como a Rússia, Paulo Rangel frisa que "a ajuda humanitária não tem nacionalidade, nem tem cor".."Ou é necessária ajuda humanitária ou não é (...) Isso foi uma das coisas que aqui as pessoas mais se queixaram, (...) que de facto não compreendem porque é que seja qual for a cor política, não se aceita ajudar as pessoas", conclui..A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro..Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres..Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos..A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou mais de 40 mortos e cerca de mil detenções, incluindo menores, de acordo com várias organizações não-governamentais e o parlamento venezuelano..A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes..Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes..Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões..Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar proteção ou melhores condições de vida..*Com Lusa