Especialista defende redução do tempo das aulas para evitar infeções
Aulas de meia hora com intervalos de quinze minutos para ventilar as salas de aula é a proposta controversa de Martin Kriegel, especialista em qualidade ambiental em edifícios, mas que assegura ser essencial para um desafio iminente: a preparação do regresso dos estudantes ao ensino presencial nas escolas ainda em plena pandemia de covid-19.
Kriegel é diretor do Instituto de Engenharia Hermann Rietschel (HRI), um departamento da Universidade Técnica de Berlim, fundado em 1885, o mais antigo do mundo dedicado à pesquisa de ventilação, energia e qualidade ambiental em edifícios. Atualmente, o HRI está envolvido no estudo da transmissão vírus de através de partículas suspensas no ar.
"A transmissão do SARS-CoV-2 por via aérea foi subvalorizada", diz Kriegel. "Já havia surtos bem documentados da doença na primavera que sugeriam que a transmissão de aerossóis era extremamente plausível". Aerossóis são pequenas gotículas de partículas, sólidas ou líquidas, que permanecem suspensas no ar por longos períodos de tempo. Somente em 9 de julho a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu gotículas humanas - principalmente saliva - como uma das fontes potenciais de infeção para a covid-19. Essa opção havia sido relativizada pela OMS até então.
A comunidade científica ainda precisa de determinar qual o risco de contágio pelo ar e quanto tempo o vírus se mantém ativo em suspensão e o tempo de exposição para o contrair. Existe já o consenso que a gripe é de mais fácil transmissão por esta via. Faheem Younus, chefe do departamento de doenças infecciosas da Universidade de Maryland, exemplificou em junho passado no EL PAÍS a menor virulência desse coronavírus em comparação com outras doenças que se espalham pelo ar: "Se o sarampo voa como uma águia, o O SARS-CoV-2 voa como uma galinha."
Reduzir o risco em espaços fechados requer ventilação adequada, de acordo com Kriegel, porque máscaras não são a solução. "Máscaras para uso diário praticamente não param aerossóis. Os aerossóis emitidos por humanos têm menos de 5 mícrons e seguem a corrente de ar. Estes escapam quase completamente das bordas da máscara.
Dados do Instituto Hermann Reitschel indicam que 90% de nossos aerossóis saem da máscara. Respirar pelas narinas praticamente não liberta essas micropartículas. As máscaras são essenciais, diz Kriegel, para evitar a propagação de gotas maiores de saliva quando espirramos ou tossimos.
Uma única pessoa infetada pode encher uma sala de aula com partículas carregadas de vírus em alguns minutos, de acordo com as projeções do HRI. Além de usar máscara, lavar as mãos e manter distância entre as pessoas, existem outra duas medidas fundamentais que devem ser levadas em consideração, sublinha: "Preencher o espaço com ar fresco e reduzir ao mínimo o tempo de exposição das pessoas". É aqui que entra a equação que Kriegel apresenta para o ano letivo: limitar o tempo das aulas por meia hora com intervalos de quinze minutos para ventilar a sala abrindo janelas.
O risco nas escolas é maior em relação a escritórios, cinemas ou restaurantes, acredita Kriegel, porque nesses espaços existem sistemas de ventilação que não são comuns nas escolas. Os índices que seu departamento está a considerar indicam que a "dose crítica" a ser espalhada pelo ar é de 3000 partículas com carga viral. "Teríamos que reduzir o tempo que as aulas duram nas escolas para ficar abaixo de 3000 partículas, para limitar a exposição ao vírus. É um desafio organizacional, mas uma opção seria aulas de 30 minutos e intervalos de 15 minutos. "