Entre ser detido e os ataques, Salah Abdeslam foi ouvido só uma hora

Tese de que suspeito dos atentados de Paris estava a planear operação semelhante em Bruxelas ganha cada vez mais consistência. Irmãos El Bakraoui vigiaram responsável pelo programa nuclear belga para atingir centrais
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Salah Abdeslam, detido na passada sexta-feira, estava a planear para Bruxelas um ataque que combinava tiroteios e bombistas suicidas semelhante aos atentados de novembro em Paris, nos quais também esteve envolvido. O que mostra que estaria a ser planeada uma operação numa escala muito maior do que veio realmente a acontecer na terça-feira na capital belga, onde morreram 31 pessoas e cerca de 270 ficaram feridas.

A notícia foi avançada ontem pela televisão pública belga VRT que, citando fontes da investigação, disse que Abdeslam e outros dois terroristas, planeavam usar metralhadoras e armas antimotim para causar baixas em massa em Bruxelas, enquanto outros se fariam explodir. Outros media avançam que Mohammed Belkaïd, abatido pela polícia na semana passada em Forest, e Amine Choukri, detido ao mesmo tempo que Salah, fariam parte deste plano. No entanto, Sven Mary, o advogado de Abdeslam, garantiu que o seu cliente não sabia do plano para atacar o aeroporto e o metro de Bruxelas.
Ontem ficou-se também a saber que as autoridades belgas interrogam Abdeslam durante apenas uma hora nos quatro dias que passaram entre a sua detenção, na sexta-feira, e os atentados de na terça. A informação foi dada por Mary ao site de notícias Politico e confirmada por duas fontes próximas da investigação.

O interrogatório foi no sábado, depois do terrorista sair do hospital e ser levado para a prisão de Bruges, mas a possibilidade de um ataque a Bruxelas não foi levantada - apesar da descoberta de detonadores, armas e das impressões digitais de Abdeslam num apartamento - pois os interrogadores optaram por seguir uma ordem cronológica e concentrar-se na sua participação nos atentados em Paris. A curta duração do interrogatório, escreve o Politico, deveu-se ao facto de ainda estar a recuperar do internamento hospitalar. "Ele parecia muito cansado e tinha sido operado no dia anterior", disse uma das fontes da investigação, acrescentando que ele não voltou a ser ouvido antes dos ataques. "Eles não estavam a pensar na possibilidade do que veio a acontecer na terça-feira", referiu a outra fonte.

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Quer ir para França
Depois da sua recusa inicial, Abdeslam não irá contestar a extradição para França, com o advogado a garantir que ele quer regressar "para se explicar".

Mary disse ontem esperar que a extradição se concretize "o mais depressa possível", acreditando que será "uma questão de semanas". O terrorista francês, nascido em Bruxelas, será presente a um tribunal belga na quinta-feira para enfrentar o mandado de captura europeu emitido por França. Este mandado é um procedimento reservado aos países da União Europeia que acelera o tradicional processo de extradição ao evitar um eventual bloqueio da transferência por parte das autoridades nacionais.

Defender Abdeslam está a ter custos para Sven Mary, que foi agredido no seu escritório, horas após os atentados, por esse motivo. De 44 anos, este penalista é conhecido por ter participado do processo Fortis, que levou à demissão em 2008 do governo de Yves Leterme, e no caso Marcel Habran, conhecido como o patriarca do crime belga. Também defendeu Jelle F., o homem que confessou ter atacado com ácido, a 20 de fevereiro de 2015, uma empregada doméstica.

Segurança reforçada

Outra indicação de que o plano original para Bruxelas era um ataque numa escala muito maior está no facto de os irmãos El Bakraoui, que se fizeram explodir na terça-feira, terem filmado a casa e a rotina diária do responsável pelo programa nuclear belga.
Fonte policial disse ao Dernière Heure que foi encontrado em dezembro um vídeo com dez horas destas gravações e que sugeriam que o objetivo era atacar instalações nucleares. Coincidência ou não, no início do mês as autoridades destacaram 140 militares para guardar as três centrais nucleares do país.

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Bom aluno

Najim Laachraoui,um dos suicidas desta terça-feira, foi um estudante modelo num liceu católico em Bruxelas. "Najim Laachraoui era muito bom aluno", disse à Reuters Veronica Pellegrini, diretora do Instituto da Sagrada Família de Helmet, uma escola católica no bairro de Schaerbeek. "Nunca falhava uma aula", prosseguiu esta responsável falando sobre o terrorista, que frequentou aquela escola durante seis anos, até terminar o secundário em 2009.
Um dos irmãos de Najim quebrou ontem o silêncio, naquela que foi a primeira reação de um familiar dos bombistas de Bruxelas. "O senhor Mourad Laachraoui condena as ações do seu irmão mais velho e os ataques nos quais ele esteve envolvido na Bélgica e em França", refere um comunicado divulgado pela Associação Belga Francófona de Taekwondo, modalidade que pratica.

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