Doug Emhoff: o marido de Kamala também quer fazer história

O advogado casou em 2014 com a atual candidata a vice-presidente dos EUA e pode tornar-se no primeiro a ocupar o cargo de "segundo-cavalheiro" caso os democratas vençam a corrida à Casa Branca. E quem sabe, dentro de quatro anos, chegar a "primeiro-cavalheiro".

"Pai, maridão da Kamala Harris, advogado, aspirante a jogador de golfe, advogado pela justiça e a igualdade." É assim que Douglas (ou simplesmente Doug) Emhoff, de 55 anos, se descreve no Twitter, onde demonstra que é mais um membro do KHive, como são conhecidas as legiões de fãs da candidata a vice-presidente dos EUA -- uma referência a BeyHive, os superfãs da cantora Beyoncé.

"Tenho tanto orgulho em ti! Fizeste história esta noite. Agora vamos ajudar o Joe [Biden] a ganhar esta coisa", escreveu depois de a mulher ter feito o discurso de aceitação da nomeação na convenção democrata da semana passada, partilhando uma foto dos dois.

Kamala Harris é a primeira mulher negra (e também a primeira de ascendência indiana) candidata ao cargo de vice-presidente e caso ganhe volta a fazer história, como a primeira mulher a ocupar tal posição.

Mas, se Kamala e Biden vencerem a 3 de novembro, também Emhoff fará história. Casado desde 2014 com a senadora da Califórnia, será o primeiro homem nos EUA a ter o título de "segundo-cavalheiro" -- informalmente a mulher do vice-presidente recebe o título de segunda-dama, por comparação à primeira-dama que é a mulher do presidente.

A atual segunda-dama é Karen Pence, mulher de Mike Pence, que apesar de não ter deveres oficiais, se tem dedicado a temas relacionados com famílias dos militares. Pence foi formalmente nomeado candidato à reeleição durante a convenção republicana que começou esta segunda-feira, tal como Donald Trump, renomeado para candidato à Casa Branca.

Outros homens já tiveram a oportunidade de ser os primeiros "segundo-cavalheiro" dos EUA, mas as suas mulheres acabaram por não ser eleitas: John Zaccaro era o marido da democrata Geraldine Ferraro, a primeira mulher a concorrer a vice-presidente, em 1984. Todd Palin ainda era casado com a republicana Sarah Palin quando esta concorreu, em 2008 (divorciaram-se já este ano).

Contudo, Emhoff pode aspirar a mais. Como Biden terá 78 anos numa eventual tomada de posse em janeiro e já disse que quer ser o presidente da transição, há quem aposte que só ficaria um mandato na Casa Branca. Nesse caso, a aposta lógica dos democratas para as eleições de 2024 seria Kamala Harris e Emhoff podia vir a tornar-se no "primeiro-cavalheiro".

Um cargo que podia ter sido do ex-presidente Bill Clinton, caso a antiga primeira-dama Hillary Clinton tivesse ganho as eleições de 2016 a Trump. Assim sendo, EUA tiveram mais uma primeira-dama desde janeiro de 2017: Melania.

Mas quem é Emhoff?

Doug nasceu a 13 de outubro de 1964 em Brooklyn, Nova Iorque, uma semana antes de Kamala Harris, que nasceu do outro lado do país, em Oakland, na Califórnia. Tinha 17 anos quando a família se mudou para a Costa Oeste dos EUA, mais precisamente para os subúrbios de Los Angeles, acabando por estudar Direito na Universidade Estadual da Califórnia em Northdridge e na Escola de Direito Gould, da Universidade do Sul da Califórnia.

Não foi na universidade que conheceu Kamala -- ela estudou Direito em São Francisco, tirando o mestrado em Washington. De facto, os dois só se conheceram há sete anos, quando ela já era procuradora-geral da Califórnia, e ele trabalhava como advogado no setor do entretenimento e já estava divorciado da primeira mulher, com quem esteve casado durante 25 anos e teve dois filhos.

Numa entrevista no YouTube com Chasten Buttigieg, marido de Pete Buttigieg (que também foi candidato à nomeação democrata à Casa Branca), Emhoff contou que conheceu a futura mulher num encontro às cegas, em 2013, organizado por uma cliente. No final de uma reunião, ela perguntou-lhe do nada se ele era solteiro, porque achava que seria perfeito para a amiga.

A cliente deu o número de telemóvel pessoal de Kamala e Doug escreveu uma mensagem logo naquela noite, à qual a procuradora respondeu. No dia seguinte, ligou-lhe muito cedo e deixou uma mensagem no voice mail, que por estar nervoso saiu bastante estranha e um pouco idiota.

"Ele achava que a mensagem tinha sido desastrosa e que nunca mais iria ouvir nada de mim. Teve que se controlar para ligar outra vez e deixar outra longa mensagem a tentar explicar a primeira", contou Kamala no seu livro de memórias lançado em 2019, "The Truths We Hold" (as verdades que agarramos, numa tradução livre). Mas ela gostou e ainda hoje guarda a mensagem, que ouvem todos os anos no aniversário de casamento.

No final do primeiro encontro, já Emhoff estava a enviar um email a sugerir possíveis datas para outro (viviam em cidades diferentes) e a dizer que já era demasiado velho para estar com brincadeiras e que gostava dela. No final do segundo já queria que ela conhecesse os filhos dele, mas sendo Kamala filha de pais divorciados achou melhor esperar. Conheceu-os ao fim de dois meses.

O pedido de casamento surgiu em março de 2014, quando estavam a discutir que comida tailandesa pedir para entregar em casa, enquanto faziam as malas para ir de férias a Florença, Itália. Ela conta no livro que chorou. "Não eram lágrimas graciosas de Hollywood a escorrer pelo rosto brilhante", escreveu. "Não, eu estava a resfolgar e a grunhir, com o rímel a sujar-me o rosto", acrescentou.

Os dois casaram a 22 de agosto de 2014, numa cerimónia oficializada pela irmã de Kamala, Maya Harris. Na cerimónia, homenagearam as culturas de ambos. Assim, Doug partiu um copo, como é tradicional nos casamentos judaicos, e Kamala colocou-lhe um colar de flores ao pescoço, para lembrar as raízes hindus (a mãe era indiana).

O aniversário de casamento foi no último sábado. Para assinalar a data, Emhoff publicou uma foto no Twitter. "Querida Kamala: parabéns a nós, à nossa família, amigos e à nossa linda vida juntos. Não mudaria nada. Feliz Aniversário! Com amor, D.", escreveu.

Os filhos de Doug, Cole e Ella, tratam Kamala de "Momala" -- um trocadilho entre a palavra "mom", mãe, e o seu nome. "Tive muitos títulos na minha carreira e com certeza que vice-presidente será incrível, mas 'Momala' será sempre aquele que me é mais querido", disse a candidata durante um evento de campanha.

Por causa da candidatura da mulher, Emhoff que é sócio da empresa de advogados DLA Piper e dividia o seu tempo entre Los Angeles e Washington, pediu uma licença sem vencimento.

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