Combate ao covid-19. Testam-se medicamentos para o VIH ou ébola. Vacina nunca antes de abril

Redobram-se esforços para uma futura vacina. Estados Unidos iniciam testes em abril, enquanto alguns medicamentos aprovados para outras doenças virais, como o VIH ou o ébola, já estão em ensaios clínicos.
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Com o número de novos casos de covid-19 agora a aumentar mais fora da China do que neste país, onde tudo começou em dezembro do ano passado, multiplicam-se os esforços para conter a progressão da doença nos diferentes países e também para tentar encontrar soluções terapêuticas específicas contra a nova doença.

Medicamentos já aprovados para outras infeções virais, como as causadas pelo ébola ou pelo VIH, estão neste momento já em ensaios clínicos na China, onde há o maior número de doentes, para se perceber se poderão ser eficazes contra o novo coronavírus.

Os resultados preliminares desses ensaios clínicos já em curso deverão ser conhecidos dentro de poucas semanas, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A outra frente de combate terapêutico passa pelo desenvolvimento de uma futura vacina. Sendo um caminho potencialmente mais eficaz, já que permite evitar o surgimento da própria doença, este é também um caminho mais moroso.

A OMS estimou há dias que não deverá ser possível dispor de uma vacina eficaz contra o covid-19 antes de ano e meio. No entanto, os testes em humanos de uma primeira vacina experimental deverão começar já em abril, nos Estados Unidos. A antecipação fica sobretudo a dever-se a procedimentos técnicos que permitem a criação mais rápida de vacinas.

O anúncio do teste de uma primeira vacina experimental a começar dentro de pouco mais de um mês foi feito nesta terça-feira por uma empresa americana de biotecnologia, a Moderna Therapeutics, que em apenas 42 dias após a divulgação da sequência genética do novo coronavírus pelos cientistas chineses conseguiu criar um primeiro protótipo de vacina para a covid-19.

Esse protótipo, afirmou a empresa, já foi enviado ao National Institute of Allergy and Infectious Dieseases, que é parte dos National Institutes of Health dos Estados Unidos, e os primeiros testes, sob a supervisão daquele instituto, poderão iniciar-se muito brevemente.

O tempo recorde para a criação desta vacina experimental tem que ver com a forma como foi produzida: em vez de se desenvolverem enormes quantidades de vírus (para a vacina), o que levaria mais tempo, o processo passa por usar o mARN (o ARN mensageiro), o material genético que deriva do ADN e contém a informação para produção de proteínas - neste caso proteínas do coronavírus.

Este produto é depois injetado no organismo do doente, esperando-se que as células do sistema imunitário se familiarizem com a marca do vírus e desencadeiem uma resposta imunitária quando estiverem perante a sua presença - é esse, afinal, o princípio da vacina.

Até agora, este tipo de vacinas não se mostrou muito eficaz noutros casos. Resta saber se em relação ao novo coronavírus vai ser diferente. Nos próximos meses, os resultados dirão. Entretanto, outros laboratórios e outros grupos continuam a desenvolver esforços para chegar a uma futura vacina.

Testados medicamentos contra VIH e malária

Na China, onde existe de longe o maior o número de doentes, já se iniciaram entretanto, com a colaboração da OMS, dois ensaios clínicos para testar a eficácia contra o coronavírus de medicamentos usados contra outras infeções virais - neste caso, as causadas pelo ébola e o VIH.

Assim, pelo menos, 200 doentes na China foram tratados durante um dos ensaios clínicos com uma combinação de dois antirretrovirais, o lopinavir e o ritonavir, que são utilizados na terapia contra o vírus da sida, aguardando-se para breve os seus resultados.

Outro dos ensaios clínicos está a testar uma outra droga, o remdesivir, que foi desenvolvida pelo laboratório Gilead e que mostrou resultados encorajadores no tratamento de infeções por outros dois coronavírus: o que causou a epidemia de SARS em 2002 e 2003, e o que provocou a MERS em 2012. Já contra o ébola, aquando da grave epidemia na República Democrática do Congo, em 2018, o remdesivir revelou-se pouco eficaz.

Os resultados preliminares do ensaio clínico que está agora a decorrer na China, com 308 participantes (doentes e não doentes), para testar a eficácia do remdesivir contra o coronavírus, serão conhecidos a partir de 10 de abril.

Esta estratégia de testar medicamentos já aprovados para outras doenças tem a grande vantagem de não serem necessários os morosos ensaios clínicos para determinar a segurança dos medicamentos, uma vez que eles já são usados na prática clínica. Se agora se mostrarem eficazes contra o coronavírus, tanto melhor.

Ainda sem vacina ou tratamento específico para a covid-19, os médicos tentam assim diferentes estratégias para tentar ajudar os doentes que sofrem formas mais agressivas da doença e que necessitam de internamento hospital e esforço terapêutico intensivo.

Nesse sentido, outro dos medicamentos cuja eficácia está a ser testada num grupo restrito de 30 doentes na China é a hidroxicloroquina, comummente usada contra a malária.

Testes laboratoriais indicam que este velho conhecido dos especialistas em doenças tropicais pode ser eficaz contra o novo coronavírus, mas os resultados do ensaio clínico que está a decorrer em doentes chineses só serão conhecidos dentro de alguns meses.

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