Cérebro dos ataques ligado a pregadores já conhecidos

Khuram Butt, britânico de origem paquistanesa, ter-se-á inspirado em pregadores como Anjem Choudary e Ahmad Musa Jibril.

Khuram Butt, Rachid Redouane e Youssef Zaghba são os três terroristas que no sábado mataram sete pessoas em Londres, por esfaqueamento e atropelamento, até serem abatidos pela polícia. As autoridades acabaram ontem de confirmar as suas identidades. Em resultado do ataque terrorista, que foi reivindicado pelo Estado Islâmico, 48 pessoas ficaram ainda feridas.

Butt, de 27 anos, era um britânico de origem paquistanesa, pai de dois filhos e estava no radar da polícia apesar de esta e de o MI5 não o terem classificado como um caso de grande prioridade. O terrorista vivia em Barking, Leste de Londres, tendo sido descrito por vizinhos, amigos e membros da comunidade muçulmana britânica, citados pelos media do Reino Unido, como radical e violento. Adepto do Arsenal, praticante de kickboxing, era presença habitual no ginásio Ummah Fitness Centre.

Segundo o jornal The Times, Khuram Butt tinha ligações a Mohammed Siddique Khan, o mais velho dos quatro bombistas-suicidas que, a 7 de julho de 2005, fizeram 52 mortos em Londres. E também a Anjem Choudary. Este é um dos pregadores radicais mais conhecidos da Europa e encontra-se atualmente a cumprir uma pena de cinco anos e meio de prisão por pedir aos muçulmanos que apoiassem o Estado Islâmico nos seus sermões, sobretudo postos online, através do YouTube.

Choudary, de 50 anos, britânico de origem paquistanesa, criou o grupo Al-Muhajiroun ainda nos finais da década de 1980, juntamente com Omar Bakri Muhammad, natural da Síria. Este encontra-se atualmente preso no Líbano, por apoio a atividades terroristas. Outrora conhecido como Ayatollah de Tottenham, Omar Bakri inspirou vários seguidores: um deles foi Mohammad Shamsuddin, segundo confessou o próprio.

Shamsuddin é um dos radicais que aparecem no documentário The Jihadists Next Door, filmado em 2016 pelo Channel 4. Nele, Shamsuddin surge a dizer: "A Sharia está a chegar ao Reino Unido - esta bandeira ainda vai ondular sobre o n.º 10 de Downing Street." A bandeira era do Estado Islâmico, que ele e outros radicais tinham estado a mostrar em Regent"s Park. O documentário era centrado em Shamsuddin e Abu Haleema. Mas também incluía Butt. Shamsuddin e Abu Haleema tinham sido detidos, em 2014, com Choudary e Siddhartha Dhar, o qual fugiu depois para a Síria e, segundo relataram os media britânicos, terá substituído Mohammed Emwazi, conhecido por Jihadi John - como carrasco do Estado Islâmico. Os mesmos media afirmam, porém, que até agora Shamsuddin e Haleema não foram acusados de envolvimento no ataque de sábado. A ligar todos estes nomes está o grupo atrás referido.

O Al-Muhajiroun foi várias vezes ilegalizado no Reino Unido, assumindo várias metamorfoses (chamou-se desde Islam4UK até Need4Khilafah). Segundo o relatório "Islamist Terrorism: Analysis of Offences and Attacks in the UK (1998-2015)", publicado este ano pela The Henry Jackson Society, 25% dos ataques terroristas registados em território britânico durante aquele período foram levados a cabo por pessoas com ligações ao Al-Muhajiroun. Foi o caso de Mohammed Siddique Khan, um dos suicidas do 7 de julho de 2005 em Londres. E também de Michael Adebolajo e Michael Adebowale, convertidos, radicalizados por Choudary em 2007, que atropelaram e decapitaram o militar Lee Rigby a 22 de maio de 2013. O primeiro foi posteriormente condenado a prisão perpétua e o segundo a uma pena de 45 anos.

Seguidor também dos vídeos do pregador radical norte-americano Ahmad Musa Jibril, Khuram Butt, foi ontem noticiado, chegou a trabalhar no metro de Londres, até outubro de 2016, tendo acesso à estação de Westminster e aos túneis por baixo do Parlamento britânico. Circulou, aliás, uma fotografia sua na estação de West Kensington quando estava no estágio de reparação e manutenção da rede de metropolitano. Tudo isto fez que o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, ele próprio muçulmano, ontem instasse a polícia a analisar tudo aquilo que sabia sobre os terroristas.

Ao contrário de Butt, Rachid Redouane, de 30 anos, não era conhecido da polícia. Marroquino ou líbio, tinha passaporte da Irlanda, onde trabalhara como chef de pastelaria e casara com Charisse, de quem tem uma filha de 18 meses. Youssef Zaghba, de 22 anos, é natural de Fez, em Marrocos, filho de mãe italiana convertida ao islão e a viver em Bolonha. Aí foi ele detido em março de 2016, no aeroporto, quando tentava ir para a Turquia e depois para a Síria. As autoridades italianas dizem ter avisado as congéneres marroquinas e britânicas. Como não conseguiu o objetivo, após recuperar o passaporte, rumou então a Londres.

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