Bill Gates. O homem que previu a pandemia doa mais 250 milhões de dólares para o combate à covid-19
A Fundação Bill e Melinda Gates anunciou, esta quinta-feira, a doação de 250 milhões de dólares (cerca de 206 milhões de euros) como um financiamento adicional para a campanha global de combate à pandemia do novo coronavírus.
Parte dos fundos será canalizada para a distribuição de doses vitais de vacinas contra a covid-19 em zonas da África Subsaariana e Sul da Ásia.
"Temos novos medicamentos e mais potenciais vacinas do que poderíamos esperar no início do ano", disse Bill Gates em comunicado. "Mas estas inovações só vão salvar vidas se forem distribuídas no mundo", referiu o fundador da Microsoft que, desde 2010, tem vindo a afirmar que o mundo não estava preparado para uma nova pandemia.
O financiamento é um dos maiores obstáculos para o continente africano, onde estão localizados os países mais pobres do mundo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a meta de vacinar 3% dos africanos até março de 2021 e 20% até o final do próximo ano. Afirmou, no entanto, que apenas cerca de um quarto dos 47 países de África têm planos suficientes para recursos e financiamento.
O coordenador da resposta covid-19 da Fundação Gates em África, Solomon Zewdu, disse que parte do financiamento anunciado esta quinta-feira irá ajudar a garantir que as vacinas cheguem a cerca de 780 milhões de pessoas no continente africano.
É fundamental garantir que as vacinas "sejam efetivamente financiadas para chegar ao continente e aos cantos menos apreciados de África", disse Zewdu à AFP durante uma entrevista por videoconferência.
"O foco agora é dizer... como é que podemos levar estas vacinas para além das pistas de aeroportos específicos como o aeroporto de Addis Ababa, Kinshasa, Lagos, nas comunidades e imunizar as pessoas. A menos que isso seja feito, então não fizemos o trabalho. "
A OMS estima que levar a vacina para grupos "prioritários" da população em África irá exigir 5,7 mil milhões de dólares, mais 15/20% para entrega, seringas e outro material de injeção.
A África registou mais de 2,3 milhões de casos, dos quais 54 800 foram fatais.
"Todos, em todos os lugares, merecem beneficiar da ciência desenvolvida em 2020", afirmou Melinda Gates, copresidente da Fundação Bill e Melinda Gates.
Este novo financiamento surge numa altura em que o mundo está a preparar-se para a complexa operação de logística de vacinação contra a covid-19 - O Reino Unido começou esta terça-feira a administrar a vacina da Pfizer/BioNTech. "A próxima fase do combate será muito mais cara do que o desenvolvimento inicial de vacinas seguras e eficazes. O nosso compromisso de hoje é só uma fração do que é necessário e foca-se nas áreas em que a filantropia pode acrescentar valor", afirmou Mark Suzman, o CEO da fundação de Bill Bates, citado pela Europa Press.
Suzman sublinha que todos, desde organizações multilaterais a governos nacionais, "devemos investir para garantir que os testes, tratamentos e vacinas cheguem ao maior número de pessoas possível".
É esse o objetivo da nova contribuição de Bill Gates, o magnata da tecnologia que tem vindo a alertar para uma pandemia desde 2010.
Em 2014, durante uma conferência em Vancouver, no Canadá, quando discursava sobre a epidemia do Ébola, Gates falou sobre a próxima doença mortal, numa palestra intitulada "O Próximo Surto? Não estamos prontos". "Se algo matar mais de 10 milhões de pessoas nas próximas décadas, é mais provável que seja um vírus altamente infeccioso do que uma guerra", afirmou Bill, que, em 2016 se referiu à nova pandemia como "uma grande gripe".
Já em 2018 disse: "Se a História nos mostrou alguma coisa, é que haverá outra epidemia global mortal". Dois anos depois o mundo deu-lhe razão.
A mais recente previsão de Bill Gates tem a ver com as vacinas. A 15 de setembro, garantiu que a primeira vacina disponível seria a da norte-americana Pfizer. Aliás, nesse dia, durante a entrevista à CNBC, o bilionário chegou a adiantar a data em que a farmacêutica solicitaria a licença de comercialização.
"Acho que assim que entrarmos em dezembro ou janeiro, pelo menos dois ou três laboratórios pedirão a aprovação. Temos estudos de fase 3 em andamento. A única vacina que, se tudo der certo, poderia solicitar a licença de uso no final de outubro seria a Pfizer ", disse Gates em setembro.
Mas Gates o norte-americano desconfia que "não seja esta primeira geração de vacinas" a resolver o problema.
Na mesma entrevista, o cofundador da Microsoft foi questionado sobre quando, na sua opinião, a normalidade seria de novo uma realidade. "A única maneira de voltarmos completamente à normalidade é ter, talvez não a primeira geração de vacinas, mas outra vacina que seja super eficaz e chegue a muita gente de forma a eliminar a doença rapidamente a um nível global", respondeu.
Mais recentemente, Bill Gates, estimou numa entrevista no programa Today da NBC que os Estados Unidos poderiam "estar na estrada" para o velho normal na primavera de 2021.
"Os próximos quatro ou cinco meses parecem bastante sombrios, a não ser que possamos reforçar o nosso comportamento", comentou.
Além das várias vacinas, Bill Gates está otimista em relação aos avanços dos tratamentos como os que são feitos com anticorpos monoclonais (que atuam ao imitar a capacidade do sistema imunológico de combater os vírus).