"Ataque inspirado pelo Daesh, sem a ideologia do Daesh"

Entrevista ao especialista em segurança e terrorismo José Manuel Anes, ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT)

As autoridades canadianas dizem que este ataque não foi terrorismo. Afinal, qual é a definição de terrorismo?

O terrorismo tem uma ideologia, religiosa ou laica. E é preciso ver se se enquadra neste domínio, se há uma motivação ideológico e até ao momento ainda não encontraram. Poderá apenas haver uma dimensão pessoal. E nesse caso não há terrorismo. Embora seja um ataque inspirado pelos ataques terroristas do Daesh.

Quando vemos um carro ser lançado contra uma multidão pensamos logo no método do Estado Islâmico...

Claramente, mas temos que separar os dois casos. O método é claramente o do Estado Islâmico, mas a motivação até agora não terá surgido. Parece que é um cidadão canadiano, de origem Arménia, e a Arménia é um país cristão. O que também não quer dizer nada, aqueles dois irmãos que fizeram o ataque na maratona de Boston foram radicalizados por um arménio.

Se o suspeito fosse de origem árabe não seria mais rapidamente considerado terrorista?

Sim. Convinha depois ver se estava a ser seguido, se tinha sido monitorizado por expressões radicais. Não surgindo isso, é um ataque inspirado pelo Daesh mas sem a motivação ideológica do Daesh. As autoridades estão a ver se há algo que confirme ou infirme a dimensão terrorista. Senão, é um atentado não terrorista, é um atentado contra pessoas.

Este tipo de situações vai continuar a repetir-se?

Sim, porque o Daesh teve uma derrota extraordinária na Síria e no Iraque. Mas não está morto. Tem um conjunto de províncias, desde África ao Extremo Oriente. Mas, para além desta sobrevivência territorial, sobrevive a ideologia. E eles são mestres na ideologia e na propaganda dessa ideologia. Embora tendo atenuado um pouco devido à sua derrota recente, a verdade é que essa imagem permanece e contamina. Vai inspirar pessoas que às vezes não têm nada a ver com eles, mas que têm que fazer um ato deste tipo.

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