A morte do primeiro médico em França. "Podia estar aposentado mas deu a vida pelos outros"
Podia estar estar já aposentado, mas Jean-Jacques Razafindranazy era um médico "apaixonado pelo trabalho" e estava de forma voluntária a cuidar doentes de covid-19 no norte de França. Acabou por morrer da doença, no fim de semana, sendo a primeira morte de um profissional de saúde em França, país que está enfrentar um surto crescente da doença.
O médico de 68 anos trabalhava no hospital Compiegne, norte de Paris, disse o autarca da cidade à AFP. Philippe Marini disse que Razafindranazy "sabia que estava a arriscar a vida, veio voluntariamente, deu a vida pelos outros".
O médico Jean-Jacques Razafindranazy era natural de Madagáscar, de onde tinha, em fevereiro, regressado de férias. Apresentou-se logo ao trabalho perante a situação no país. Não tinha nenhum problema de saúde e sentiu os primeiros sintomas do coronavírus há três semanas. Foi primeiro hospitalizado em Compiègne, onde trabalhava. No entanto, o seu estado degradou-se e o médico foi transferido para o Hospital Universitário de Lille, no norte da França, onde morreu.
A sua mulher, uma médica de família, também está infetada com o vírus e está de quarentena em casa.
O filho do casal postou uma mensagem emocionada no Facebook, descrevendo Razafindranazy como "meu pai, o herói". "Ele era apaixonado pelo seu trabalho e optou por não se aposentar. Deixou uma família para trás que nunca o esquecerá", acrescentou.
O filho agradeceu aos profissionais que cuidaram do pai nos seus últimos dias no hospital de Lille e alertou que "esta doença é extremamente grave e não deve ser encarada de ânimo leve".
O ministro da Saúde, Olivier Veran, afirmou que, daquilo que conhecia, foi o "primeiro médico do hospital a ser atingido" pela doença.
O autarca Marini disse que o médico tinha tratado alguns dos primeiros casos no departamento de Oise, a primeira área na França a ser seriamente atingida pelo covid-19. Foi infetado no início de março, acrescentou Marini.
Colegas de trabalho do médico testemunharam que, no início da epidemia, tiveram que trabalhar sem as "precauções mínimas e com proteções não adaptadas" à doença.
O ministro Olivier Veran garantiu que a proteção das equipas médicas da linha de frente é "absolutamente indispensável". Mas a França está a enfrentar uma escassez de equipamentos de proteção para profissionais de saúde em algumas regiões do país, o que está a gerar alguma revolta na opinião pública francesa.
O covid-19 já matou 562 pessoas em França. Outras 6172 estão infetadas, um quarto delas hospitalizada em estado grave.