Marcelo falou com Paulo Rangel e diz estar "mais descansado" em relação a navio
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou-se hoje "mais descansado" em relação às informações dadas pelo Governo sobre o navio que alegadamente tem um histórico de transporte de armas para Israel e que atracou em Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa, que no sábado recusou falar do assunto por não ter informação suficiente sobre o caso, explicou hoje, em Vila Viçosa, no distrito de Évora, que falou ao telefone durante a tarde com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que lhe garantiu que na sequência de uma pesquisa ao navio não foi encontrado qualquer pormenor relacionado com armamento.
"O que se passa [segundo informações de Paulo Rangel ao PR] é que foi pesquisado tudo em pormenor e não se encontrou nada relacionado com armamento naquilo que foi descarregado em Lisboa, não houve carregamento em Lisboa", disse.
"Há sim algum trânsito, mas é para os Estados Unidos, não é para Israel e, naquilo que foi descarregado não havia traço de arma, nem houve carregamento de arma", acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda que Paulo Rangel explicou que o mesmo navio "parou em vários portos" de Espanha e Marrocos, países cuja posição "é muito conhecida" relativamente ao que se passa em termos de conflitos internacionais.
"Não há, daquilo que puderam detetar, nenhuma prova, nenhum elemento, nenhum dado quanto a este navio, neste momento, relativamente ao transporte de material militar, portanto, armamento", disse.
O chefe de Estado, que falava no final das celebrações do dia do Estado Maior General das Forças Armadas e do seu patrono, manifestou-se por isso "mais descansado" em relação a este tema.
"Mais descansado, obviamente, pois essa é a preocupação, para o Governo ter passado tudo isso a pente fino durante estes dias, acho que fez o que devia fazer", defendeu.
O Presidente da República recordou ainda que, em relação a esta matéria, "é possível" a Portugal controlar aquilo que passa por Portugal, mas não é possível saber "se há um ano, há dois anos, há ano e meio, há três anos, quatro anos" o navio fez ou não outro tipo de transporte.
"Sabe-se que ele para cá carregou o que não era armamento e foi isso que o Governo me explicou, agora o que vai fazer daqui a três dias, a dez dias, a um ano, dois anos, três anos no âmbito da atividade da empresa, isso Portugal na altura devida, se encontrar razões para estar preocupado e considerar que é censurável, pode então tomar medidas, neste momento o que me foi dito é que não havia justificação para tomar", acrescentou.
Em comunicado enviado às redações no sábado, o Governo português justificou a autorização dada para a acostagem do navio com o facto de não transportar "qualquer carga militar, armamento ou explosivos" e descreve detalhadamente a carga, em que se incluem "três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA".
Apesar disso, já hoje, o PCP pediu esclarecimentos adicionais ao Governo sobre o navio, considerando que o comunicado "deixa vários problemas sem resposta".
Dezenas de pessoas concentraram-se no sábado à noite, em frente ao Porto de Lisboa, em protesto contra a atracagem do navio.
A denúncia partiu da campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) a Israel, que indica que o navio fez, nos últimos meses, centenas de transportes ilegais de armas para Israel, através do porto espanhol de Algeciras.