A queda do Governo Regional da Madeira, decorrente da aprovação da moção de censura do Chega, abre caminho a um novo ciclo político, na medida em que põe em causa a continuidade no poder de Miguel Albuquerque, que sucedeu a Alberto João Jardim em 2015, como líder do PSD-Madeira e da Região Autónoma..A dissolução da Assembleia Regional e realização de eleições antecipadas, no início de 2025, é o cenário mais provável, embora o representante da República, Ireneu Barreto, vá reunir com todos os partidos nesta quinta-feira, procurando uma improvável solução governativa. E o regresso às urnas dá a terceira oportunidade ao líder do PS-Madeira, Paulo Cafôfo, para tentar vencer Eleições Regionais, terminando meio século de hegemonia social-democrata, ainda que sem maioria absoluta desde 2019. Os socialistas ficaram então a 5000 votos dos sociais-democratas, elegendo 19 deputados, menos dois do que a lista de Albuquerque, forçado a coligar-se com o CDS-PP..Em 2023, com listas conjuntas, o centro-direita ficou a um mandato da maioria absoluta, governando com apoio do PAN até o envolvimento de altos dirigentes sociais-democratas em investigações judiciais provocar novas eleições em 2024, numa legislatura à beira do fim desde ontem, quando 26 eleitos do PS, Juntos pelo Povo, Chega, Iniciativa Liberal e PAN aprovaram a moção de censura, o que sucedeu pela primeira vez na Região Autónoma da Madeira..Além do risco de ser derrotado nas próximas Eleições Regionais, Albuquerque enfrenta oposição interna. Na tarde desta terça-feira, Manuel António Correia, que teve o voto de 45,7% dos militantes sociais-democratas nas diretas que antecederam as Eleições Regionais deste ano, revelou que pretende voltar a candidatar-se à liderança do PSD. Face à resistência de Albuquerque em demitir-se, dando início a um novo processo eleitoral, garantiu estar pronto a apresentar assinaturas no Conselho Regional para marcar um congresso extraordinário eletivo..Troca de acusações.O debate da moção de censura, justificada pelo líder regional do Chega, Miguel Castro, com a necessidade de derrubar um Governo que “chegou ao fim da linha”, ficou marcado pela troca de acusações entre Albuquerque e Cafôfo..Reduzindo a iniciativa a “mais um número circense de irresponsabilidade total”, no qual “prevalece a ambição desmedida de protagonistas políticos repetidamente derrotados nas urnas”, o social-democrata ouviu do socialista que “não tem ética para continuar a ser presidente”, respondendo-lhe que “não tem vergonha na cara”. Houve referências à queda da árvore que causou 13 mortes, quando Cafôfo presidia a Câmara do Funchal..Distante da Madeira, também o líder nacional do Chega, André Ventura, foi acusado - e não apenas por Miguel Albuquerque - de ser o verdadeiro mentor da moção de censura aprovada ontem.