Cerca de 30 consórcios em todo o mundo procuram encontrar matéria escura, matéria que se sabe que existe (por cada quilo de todo o material que se conhece no universo deverão existir cinco quilos de matéria escura), mas que não se sabe o que é, sendo que a experiência internacional XENON, que decorre num laboratório em Itália, é aquela que continua a obter melhores resultados, disse à agência Lusa o investigador da Universidade de Coimbra José Matias Lopes, coordenador da equipa portuguesa que integra o projeto..Oitenta e cinco investigadores envolvidos neste projeto reúnem-se em Coimbra, entre 05 e 07 de setembro, para discutir os mais recentes dados da experiência, que indica que este consórcio está "três a quatro vezes à frente dos seus competidores diretos", afirmou José Matias Lopes à Lusa..Não tendo ainda encontrado matéria escura (um termo que, no entender do investigador, é uma tradução infeliz do alemão 'dunkel' e que remete para algo sombrio), a equipa mede o sucesso da experiência pela curva de sensibilidade que o aparelho com que estão a trabalhar atinge, ou seja a sua capacidade para poder encontrar partículas de matéria escura.."Nestas áreas em que se procura algo que não se conhece, na ausência da descoberta, aquilo que conseguimos mostrar, com cálculos demorados, é a sensibilidade do aparelho. Quanto mais sensível, mais perto estamos de ver alguma coisa", explica José Matias Lopes..Os resultados "dão ânimo para se continuar a fazer o que se está a fazer". E os investigadores sentem que estão cada vez mais próximos de poder encontrar matéria escura, frisou..Para José Matias Lopes, encontrar a matéria escura é quase como "encontrar uma agulha num palheiro, só que a agulha não está num palheiro, está em mil"..Usando a analogia, o trabalho para lá chegar implica reduzir a "palha" que se encontra no palheiro - ou seja eliminar o ruído, neste caso radiação - e também aumentar a área em que se procura dentro desse palheiro.."É como se tivéssemos um alvo, como o dos dardos. Neste momento, com as nossas curvas de sensibilidade, conseguimos acertar nos três ou quatro primeiros centímetros do alvo. Falta-nos o resto. Mas estamos a conseguir melhorar e a testar numa área cada vez maior desse alvo", salientou o investigador..Apesar dos progressos, conseguir uma curva de sensibilidade que permita cobrir todo o alvo ainda vai demorar "uns anos", admitiu..Segundo José Matias Lopes, as consequências da descoberta e estudo da matéria escura "são quase inimagináveis hoje"..A matéria escura, sendo uma percentagem tão significativa do universo e comportando-se de "maneira completamente diferente de tudo" o que é conhecido pelo ser humano, vai "abrir, literalmente, novos mundos de conhecimento", referiu..A reunião que decorre em Coimbra tem lugar no ISEC/Coimbra Engineering Academy e decorre na sequência do anúncio dos novos resultados da experiência internacional, refere a Universidade de Coimbra, em nota de imprensa enviada à agência Lusa..A experiência internacional decorre debaixo de 1.300 metros de rocha por forma a diminuir a radiação, consistindo a instalação numa tanque com 10 metros de diâmetro e 10 metros de altura, onde está imerso o XENON1T - equipamento que utiliza o gás raro xénon como material para deteção da matéria escura, arrefecido a 95°C negativos para se tornar líquido, num total de 3,2 toneladas hiperpuras..De acordo com a Universidade de Coimbra, o consórcio XENON é constituído por 160 cientistas de 27 grupos de investigação dos Estados Unidos, Alemanha, Portugal, Suíça, França, Holanda, Suécia, Japão, Israel e Emirados Árabes Unidos..Portugal é parceiro do consórcio desde o seu início, em 2005, com uma equipa do Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física da Radiação (LIBPhys) do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.