Projeto Linhó Circular já deu três toneladas de trigo e quer ter hortas e pomares a partir de 2024

Programa junta autarquia e reclusos no aproveitamento dos terrenos circundantes à prisão. O investimento da câmara ronda os 300 mil euros. Há ainda o objetivo de melhorar a eficiência energética do edifício.
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O projeto Linhó Circular nasceu há três anos por iniciativa dos estudantes do Estabelecimento Prisional (EPL) daquela localidade, com o objetivo de valorizar os resíduos, explorar a agricultura e a pecuária, formar reclusos e tornar aquela infraestrutura mais eficiente em termos energéticos. E para isso conta desde início com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e do Ministério da Justiça.

Um dos primeiros passos foi a plantação de três hectares anexos ao EPL, que este verão deu origem à recolha de cerca de três toneladas de trigo barbela, entretanto transformados em mais de seis mil pães. Mas o objetivo é, já no próximo ano, alargar o programa, aumentando a área e apostando em hortas e pomares, bem como na criação de animais, sempre com a participação de reclusos do Linhó.

"Quando auscultámos os alunos do Linhó, através do programa municipal "Nós propomos", dedicado a estudantes do secundário, surgiu uma ideia dupla. Por um lado, eles constataram que o estabelecimento prisional podia fazer melhor a separação de resíduos. Por outro, verificaram que havia um terreno vastíssimo na envolvente do EPL que estava subaproveitado. O Linhó Circular surgiu porque eles ouviram falar do projeto Horta do Brejo, na prisão de Tires, que contou com o apoio das reclusas e tem agora um hectare cultivado", revelou Joana Balsemão, vereadora da autarquia de Cascais responsável pelas áreas do Ambiente e Cidadania, ao DN, explicando que este programa apontou ainda para "uma dimensão de energia renovável, porque havendo tanto espaço também havia margem para implementar um projeto de energia solar".

O primeiro passo foi o cultivo de trigo barbela em três hectares nos terrenos anexos ao Estabelecimento Prisional do Linhó que, no em meados deste verão, deram origem à colheita de três toneladas daquele cereal, transformado entretanto em mais de seis mil pães, vendidos na Quinta do Pisão, propriedade da autarquia. "As receitas da venda do pão serão sempre reinvestidas neste projeto. E o objetivo é que, quando a quantidade aumentar, o produto passe a ser também escoado para parceiros sociais locais, sempre na lógica da circularidade", refere a autarca.

Paralelamente, as cozinhas do EPL já começaram a fazer a separação dos resíduos orgânicos. "Isto significa que já podemos começar a fazer a compostagem, que irá depois, de forma circular, casar com o projeto agrícola, porque o composto vai ser usado na agricultura", explica. Foram colocados 145 contentores para a separação seletiva de resíduos - 68 ecopontos, 33 para recolha de beatas, 37 de lixo indiferenciado, 5 pilhões e 2 para lixo orgânico - e foram ministradas 11 ações de formação e sensibilização para toda a comunidade prisional.

A etapa seguinte que, segundo Joana Balsemão, arrancará a partir do próximo ano vai ter várias fases - "a breve trecho a expansão para uma área de 12 hectares e depois para 50" - e várias vertentes. Uma delas é a requalificação das duas linhas de água que passam no terreno, a renaturalização da vegetação das margens e o desenvolvimento das espécies autóctones.

De acordo com o documento de planificação do Linhó Circular a que o DN teve acesso, está prevista uma área de 3,12 hectares para a produção de culturas biológicas, que depois serão comercializadas através de venda direta e em mercados municipais, numa parceria com a empresa municipal Cascais Ambiente. Uma parcela destes produtos hortícolas serão também usados na confeção das refeições dos reclusos.

Os pomares irão ocupar uma área de 17,78 hectares e irão incidir na produção sustentável de frutos secos - aveleiras (11,55 ha), amendoeiras (1 ha), figueiras (2,37 ha) e nogueiras (2,86 ha), sendo que a sua venda será feita através de acordos diretos com empresas do concelho de Cascais.

Está também prevista a instalação de 50 colmeias, prevendo-se uma produção anual de mil quilos de mel, própolis, pólen e geleia, que será vendida diretamente ou em mercados municipais.

Outros 24,23 hectares serão destinados a culturas diversas, como pomares de citrinos (5,31 ha), o cultivo de rosmaninho e alecrim (6 ha), um prado permanente para caprinos (8,92 ha) e uma orla de cedros para construir uma barreira natural para impedir o acesso e a utilização indevida dos terrenos (4 ha).

No que diz respeito às energias renováveis, ainda não há números concretos, mas a proposta visa instalar painéis solares fotovoltaicos na cobertura do edifício do EPL para a produção de energia elétrica para autoconsumo e colocar painéis solares térmicos no mesmo local para o aquecimento de águas sanitárias. Pretende-se também instalar microgeradores eólicos para a produção de energia elétrica. O objetivo é aumentar em 70% a eficiência energética do Linhó.

A Câmara de Cascais ainda está a ultimar questões administrativas com a direção do Estabelecimento Prisional do Linhó para permitir o envolvimento dos reclusos em todos estes projetos, mas de acordo com Joana Balsemão, está prevista para já a participação de dez reclusos e três colaboradores da autarquia para dar início à produção hortícola.

"O investimento da câmara vai ser significativo, serão quase 300 mil euros. Cerca de 200 mil para o investimento inicial em equipamentos, sementeiras, etc.. Depois estima-se que sejam necessários mais de 50 mil numa fase de manutenção e mais 48 mil em recursos humanos", refere a vereadora.

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