Novos hábitos em Lisboa. Há cada vez mais alunos a ir a pé para a escola

O relatório do projeto "Mãos ao Ar Lisboa", relativo a 2021, mostra que em oito freguesias lisboetas as viagens a pé já são as preferidas. Uso do automóvel nas deslocações para escolas privadas é mais do dobro em relação aos estabelecimentos de ensino público.
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Há cada vez mais alunos a deslocarem-se a pé para a escola, de acordo com o relatório de 2021 do projeto "Mãos ao Ar" da Câmara Municipal de Lisboa. Ainda assim, o automóvel continuou a ser o principal meio de transporte nas deslocações dos alunos do 1.º até ao 12.º anos, em Lisboa, sendo que o peso mais substancial de quem se desloca de carro é dos alunos que frequentam estabelecimentos de ensino privados: mais do dobro em relação ao público.

Neste projeto participaram 179 escolas, das quais 123 escolas públicas e 56 privadas. De referir ainda que 56 estabelecimentos de ensino participaram em todas a edições deste estudo criado em 2018, e 13 participaram agora pela primeira. "Relativamente ao número de alunos, participaram neste ano 38 078 alunos (46% da população escolar do 1.º ao 12.º ano), correspondendo a 26 316 alunos do ensino público (49%) e 11 762 do ensino privado (41%)", pode ler-se no relatório ao qual o DN teve acesso.

De acordo com estes dados, relativos ao ano passado, um em cada quatro alunos (25,8%) vai para a escola a pé, o que representa uma subida de 1,6 pontos percentuais em relação a 2020 e de 2,4 quando comparado com 2019. Por outro lado, o número de alunos que usam o carro desceu no ano passado para 48,20%, menos 3,2 pontos em relação ao ano anterior e menos 0,4 se tivermos em conta os resultados de 2019.

"No ano de 2020, após o primeiro confinamento, havia um grande receio de espaços fechados, nomeadamente da utilização dos transportes públicos, repercutindo-se numa maior utilização do automóvel. O modo a pé tem vindo a aumentar a sua percentagem desde 2019. Acreditamos que poderá ter a ver com uma maior consciência da população para a necessidade de adotar outros meios de transporte mais sustentáveis e que contribuem para uma vida mais ativa e saudável e que a escolha no modo de transporte tem impacto no planeta", refere ao DN fonte da equipa do projeto "Mãos ao Ar Lisboa". "Outro fator prende-se com o facto de em 2020 e 2021 grande parte dos pais estarem em teletrabalho, aumentando a disponibilidade para levarem os filhos à escola a pé, uma vez que não seguiam viagem para outro destino e a localização das escolas é, normalmente, mais perto da área de residência", acrescenta a mesma fonte.

Ainda sobre a questão da utilização do automóvel em comparação com as restantes formas usadas nas deslocações entre casa e a escola, é de notar que, se tivermos em conta o grau de ensino dos alunos, quanto mais velhos eles são menor é a dependência do carro - a única exceção é na passagem do 1.º para o 2.º ciclo onde os valores se mantêm. "No caso dos alunos do secundário, a utilização dos transportes públicos nas deslocações para a escola é superior à utilização do carro", explica o relatório do projeto "Mãos ao Ar".

Os dados de 2021 mostram também que houve um aumento do uso do autocarro (14,10%), do metro (4,90%) e do comboio (2,20%) nas deslocações para a escola em relação ao ano anterior, com a bicicleta (1,50%) e o elétrico (0,40%) a manterem o mesmo registo. "Quanto ao uso das bicicletas, o valor médio de todas as escolas manteve-se de 2020 para 2021. No entanto, verifica-se que o valor aumenta nas escolas públicas (de 1,20 para 1,40), com alguns níveis a atingirem um valor de 1,8%", explica fonte da equipa do projeto "Mãos ao Ar Lisboa". "Relativamente às escolas privadas, verifica-se um grande aumento no 1º ciclo, no entanto, os restantes níveis escolares têm uma diminuição acentuada. Esta alteração é justificada pelo facto de, apesar do número de estabelecimentos que participaram em 2021 ser idêntico ao de 2020, as escolas poderão não ser as mesmas, levando a variações que, para distribuições modais na ordem dos 1,5%, têm um grande impacto."

O automóvel é claramente o meio de transporte de eleição nas viagens para a escola quando o destino é um estabelecimento de ensino privado, sendo usado por 78,9% dos alunos. Seguem-se as deslocações a pé a uns distantes 11,7%, o autocarro, o transporte escolar e o metro (todos com 1,9%) e a bicicleta (1,7%).

O cenário dos alunos do ensino público é mais equilibrado: o automóvel é também o meio de transporte mais usado (34,5%), mas a uns escassos 2,4 pontos das idas a pé (32,1%). Em terceiro lugar surge o autocarro (19,6%), seguido do metro (6,3%), do comboio (3%) e da bicicleta (1,4%).

Olhando para o mapa de Lisboa, salta logo à vista que em três freguesias, durante o ano de 2021, nenhum dos alunos envolvidos neste projeto usou a bicicleta como meio de transporte para a escola: Ajuda, Estrela e Santa Maria Maior. De notar também que só em oito das 24 freguesias de Lisboa as deslocações a pé foram o método mais utilizado: Areeiro (a maior percentagem), Arroios, Carnide, Misericórdia, Penha de França (a única em que o autocarro surge em segundo lugar em vez do automóvel), Santa Maria Maior, Santo António e São Vicente.

O Beato é um caso peculiar em Lisboa, pois o meio de transporte mais usado nesta freguesia é o autocarro, seguido das deslocações a pé, aparecendo o carro apenas em terceiro. Nas restantes 15 freguesias, o automóvel é o transporte preferencial.

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