Lisboa. Estão a nascer mini-florestas no Areeiro
A área florestal vai ocupar 600 metros quadrados no Parque Urbano do Casal Vistoso, mas o terreno cedido pela câmara à organização não-governamental Urbem tem 2500 metros quadrados, pelo que há muito trabalho pela frente. Numa primeira fase foram plantadas mais de 1700 árvores, plantas e arbustos de 32 espécies diferentes.
Estão a nascer duas mini-florestas Parque Urbano do Casal Vistoso, junto ao Areeiro. Trata-se de uma iniciativa da organização não-governamental Urbem, que conta com a ajuda de dezenas de voluntários e com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. A primeira começou a ser plantada há um ano e a segunda arranca já este mês, num total, para já, de 600 metros quadrados.
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Este projeto começou em 2021, quando a autarquia lisboeta cedeu à Urbem um terreno de 2500 metros quadrados no Parque Urbano do Casal Vistoso. No âmbito da parceria, a autarquia fornece terra, sementes ou plantas e água para a rega, enquanto a organização não-governamental é responsável pelo planeamento e implementação das mini-florestas, bem como pela sua manutenção. "Em janeiro de 2022, selecionámos uma área de 300 metros quadrados como um protótipo de terreno de ensaio. Esta área tinha uma inclinação norte-sul desigual e continha uma flora escassa e subdesenvolvida, que proporcionava pouco habitat e recursos para a vida selvagem local", conta Fabio Brochetta, da Urbem, ao DN, recordando que a autarquia inicialmente lhes tinha comunicado a existência de "uma taxa de mortalidade de plantas de 90% nesta área".
Apesar de alguns desafios iniciais, os membros da Urbem contaram com a ajuda da comunidade para levar este projeto avante, incluindo mais de 140 voluntários que participaram na plantação inicial. Criaram também um grupo na plataforma Meetup para garantir voluntários para tarefas como remover ervas daninhas e reconstituir a cobertura vegetal numa base semanal. O que representa, durante a época de não plantação, mais de 120 horas de voluntariado por semana. "O primeiro relatório sanitário florestal mostrou que a taxa de mortalidade de plantas na parcela de teste foi de quase 32%. Como resultado do sucesso do nosso protótipo, a Câmara de Lisboa forneceu-nos uma parcela adicional de 2200 metros quadrados para o projeto", relembra Fábio Brochetta.
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Esta primeira mini-floresta, em modo de protótipo, ocupa atualmente 300 do total dos 2500 metros quadrados cedidos pela Câmara de Lisboa. De acordo com os biólogos da Urbem, foram plantadas 1793 árvores, plantas e arbustos de 32 espécies nativas diferentes, como carvalho, alfarroba, oliveira, medronheiro e alecrim, entre outras. "A densidade da mini-floresta segue o típico método Miyawaki, com cerca de seis plantas por metro quadrado, o que permite à espécie ativar a sua sinergia natural e criar um ecossistema diversificado e resiliente", explica.
Junta de Freguesia quer mais
A cerca de 400 metros do local deste primeiro espaço verde, perto das culturas comunitárias cedidas pela Câmara de Lisboa aos residentes da zona, vai ficar a segunda mini-floresta, cuja plantação tem início durante este mês de janeiro. Como fica numa planície, vai permitir à Urbem organizar mais eventos e promover uma maior interação com a comunidade local.
Numa primeira fase, esta segunda mini-floresta terá apenas 300 metros quadrados, a mesma dimensão da primeira, que servirá como piloto. "A seleção de espécies feita pelos nossos biólogos reflete a vegetação natural existente dentro da cidade de Lisboa, como oliveira, alfarroba, folhado, sobreiro ou capuz-de-frade", enumera Fabio Brochetta.
Para a plantação desta nova parcela, a Urbem lançou a sua segunda campanha de angariação de fundos para o cultivo de árvores chamada "Nomeia a Nossa Floresta", onde o doador que conseguir trazer o maior número de apoiantes terá a oportunidade de batizar a segunda floresta rápida do Parque Urbano do Casal Vistoso. A época de plantação começou no dia 13 de janeiro e todo o produto da campanha de angariação de fundos irá para a compra, plantação, cuidados e crescimento da nova área de plantação.
"Mini-florestas como as do Casal Vistoso podem melhorar a qualidade do ar, reduzir a poluição sonora, fornecer habitat para a vida selvagem e aumentar o valor estético e recreativo global do parque. Podem também ajudar a mitigar o efeito de ilha de calor urbana e a reduzir o risco de inundações. Um dos principais objetivos do projeto Urbem Forests é envolver a comunidade local como ator social chave e fomentar um sentimento de pertença às mini-florestas", defende o responsável da Urbem.
Depois do Casal Vistoso, esta organização não-governamental pretende replicar este projeto noutras zonas de Lisboa, sendo que já foram contactados pela Junta de Freguesia do Areeiro para que implementem o método Miyawaki em algumas zonas do bairro.
Este é o primeiro projeto do género desenvolvido pela Urbem em Lisboa, mas não é a primeira floresta Miyawaki na cidade, como conta Fabio Brochetta. "Em 2020, um dos nossos biólogos implementou com sucesso o primeiro exemplo de uma floresta Miyawaki no pátio da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Teve um impacto positivo na comunidade do campus ao melhorar o valor estético e ecológico da área e ao fornecer um habitat para a vida selvagem".
O projeto tem servido também como laboratório florestal para muitos alunos da faculdade, "oferecendo-lhes uma experiência de aprendizagem prática e a oportunidade de estudar e investigar diferentes espécies vegetais e o seu papel na criação de um ecossistema saudável", acrescenta o responsável da Urbem.
O que é o método Miyawaki?
As mini-florestas da Urbem seguem o método florestal Miyawaki, desenvolvido pelo botânico japonês Akira Miyawaki nos anos de 1970. Este método envolve a construção de uma floresta densa e multicamada que replica a estrutura e a biodiversidade de uma floresta natural. Para criar uma floresta com este método, uma variedade de espécies de árvores nativas são densamente plantadas de uma forma que cria um dossel multicamadas com base no clima e habitat locais, que é constituído por árvores altas e médias, arbustos e plantas de cobertura do solo. Um dos principais benefícios desta abordagem é que pode criar rapidamente um ecossistema diversificado e autossustentável.
"Ao plantar uma variedade de espécies nativas, estas florestas podem suportar uma gama diversificada de vida selvagem e fornecer vários serviços de ecossistema, como a purificação do ar, conservação do solo e retenção de água. Além disso, como este método é concebido para imitar o desenvolvimento natural de uma floresta, requer cuidados mínimos", explica Fabio Brochetta, sublinhando que "ficou demonstrado que as florestas de Miyawaki absorvem 65% mais carbono do que os métodos tradicionais de reflorestação devido à sinergia entre as plantas nativas".
ana.meireles@dn.pt
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