Junta questiona produção da Netflix que vai mexer com a baixa lisboeta

Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior revela que gravações implicam fecho de quarteirões, alterações ao trânsito e que mexem com a tranquilidades dos moradores.

Uma filmagem noturna com a duração de uma semana para uma produção da Netflix está a deixar em sobressalto a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa. Em causa está a tranquilidade dos moradores desta zona da baixa lisboeta, já que as filmagens englobam colisões entre automóveis e motociclos, perseguições, e outro tipo de cenas de ação, para além de quarteirões fechados.

As filmagens da produtora portuguesa Ready to Shoot estão previstas acontecer entre 11 e 20 de julho durante oito noites seguidas, entre as 18.00 e as 8.00, e dois dias de gravações diurnas. Segundo a Junta, irá recorrer-se a efeitos de fogo, armas de fogo, colisões entre automóveis e motociclos, perseguições pelas escadas e escadinhas do bairro e outros efeitos especiais. As gravações estão previstas acontecer nas zonas da Baixa, Chiado e Mouraria.

"O que me preocupa é o plano intensivo destas gravações noturnas, que é algo que sempre fui contra e nunca dei um parecer positivo. Estou disponível para fazer parte da solução mas não posso simplesmente aceitar", disse o presidente da Junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, ao DN.

No centro das preocupações estão os moradores. Miguel Coelho refere que já houve produções anteriores com filmagens noturnas na freguesia em que os moradores se queixaram de não conseguir dormir e de terem a sua tranquilidade perturbada. "Sei que estamos num centro histórico e que esta produção possa ser relevante para a freguesia, mas não podemos esquecer os moradores. Temos de encontrar uma solução melhor", acrescentou.

Esta produção implica o fecho de quarteirões, ruas inteiras e alterações de tráfego que vão afetar a vida de quem mora naquela zona, além do direito ao descanso e à tranquilidade que também vão estar em causa. O uso de holofotes e de outros materiais também é outra das preocupações que o presidente da Junta diz ter e que pode afetar as vidas dos moradores

Segundo Miguel Coelho, a competência legal de proibir ou alterar as dimensões desta produção é da Câmara Municipal de Lisboa. E por isso lamenta que Carlos Moedas "tenha já manifestado o seu entusiasmo pela sua realização, sem primeiro conhecer a opinião ou parecer da Junta de Freguesia".

A junta propõe assim uma reunião com a Câmara de Lisboa e com a produtora de forma a encontrar um ponto de encontro que permita redimensionar o projeto sem impedir a sua realização. Entre as possibilidades está repensar o tempo de filmagem e uma maior distribuição das filmagens pela cidade.

"Não digo não às filmagens, percebo que é uma circunstância excecional, certamente que haverá retorno financeiro muito grande para a autarquia de Lisboa, para a câmara, mas mão posso de maneira nenhuma aceitar que na freguesia na qual eu sou o primeiro responsável haja oito noites consecutivas, praticamente, de filmagens noturnas. Não posso aceitar isso", disse Miguel Coelho.
Não se sabe se se trata de uma produção portuguesa ou internacional, apenas que terá cenas de ação. O DN contactou a produtora Ready to Shoot para obter uma reação e saber mais pormenores sobre as filmagens, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.

Outras produções em Portugal

Esta não é a primeira vez que filmagens para plataformas de streaming causam indignação. Em 2021, entre outubro e novembro, a rodagem da prequela da "Guerra dos Tronos" deixou a aldeia histórica de Monsanto, em Idanha-a-Nova, com acesso condicionado. A preparação para a filmagem de "House of the Dragon", série da HBO, levou ao bloqueio do largo da aldeia.

Também o acesso ao castelo esteve interditado, o que impediu turistas de o visitar, mesmo por caminhos alternativos.

Os responsáveis do Posto de Turismo de Monsanto disseram na altura que as filmagens iriam beneficiar o turismo em Monsanto. No entanto, os moradores queixaram-se de não terem sido avisados dos condicionalismos a que a aldeia iria ser sujeita. O município tinha publicado no Facebook o aviso do condicionamento do trânsito na localidade, mas muitas pessoas não tiveram acesso.

Em 2020, a Netflix também filmou algumas cenas da quinta temporada da série "Casa de Papel" em Lisboa. Houve filmagens no Elevador da Bica, com a recriação de uma festa de Santos Populares no Bairro Alto, e também na Margem Sul, no restaurante Ponto Final em Cacilhas. Todas estas cenas diziam respeito a um flashback de uma das personagens antes de se juntar ao Professor. No entanto, estas filmagens foram mais discretas tendo sido detetadas apenas por fãs que reconheceram os atores.

A série "Glória", primeira produção portuguesa na Netflix e que se estreou em 2021, foi gravada na aldeia de Glória do Ribatejo, na região do Ribatejo, e em Lisboa.

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