Almada está a celebrar o meio século de elevação a cidade, um marco importante com certeza. Mas, para a sua autarca, Inês de Medeiros (eleita pelo PS), "Almada é muito maior do que 50 anos", lembrando que a sua longa história já vem desde os fenícios, "algo que é pouco conhecido e que queremos valorizar". Mas o caminho é para a frente, com Inês de Medeiros a garantir que "o futuro da Área Metropolitana de Lisboa, neste momento, faz-se deste lado do rio, a começar por Almada" e que esta "tem todas as condições para ser uma referência da cidade do século XXI". Uma garantia que dá tendo em mente projetos como o Arco Ribeirinho Sul, o Innovation District e até o Cais do Ginjal.."Eu considero que Almada deve ser o grande motor do projeto do Arco Ribeirinho Sul, porque é o município que está mais próximo de Lisboa. Mesmo ao nível de investimento nós sentimos muito isso, os grandes investimentos querem estar o mais próximo possível de Lisboa. Se a Margueira e o Ginjal, por fim, avançarem e agora com o novo projeto ali à volta da universidade que é o Innovation District, Almada tem todas as condições - porque ainda tem espaço para crescer, coisa que poucos municípios já têm - para ser uma referência da cidade do século XXI, uma cidade sustentável, baseada na inovação, onde a qualidade de vida é o fator essencial", refere ao DN a presidente da Câmara de Almada..O Almada Innovation District é um projeto que deu os seus primeiros passos em 2019, com um investimento previsto de 800 milhões de euros, e que terá uma área de intervenção de 420 hectares, onde se incluem 110 hectares de áreas verdes. Entre os principais números que definem a sua dimensão contam-se a chegada de 4500 novos habitantes, a criação de 1000 novos fogos habitacionais, uma área de 250 mil m2 para a implementação de novas atividades económicas que irão contribuir para a criação de 17 mil postos de trabalho e, ainda, 86 mil m2 de infraestruturas turísticas. Esta "nova" cidade, que terá como ponto central o campus da Faculdade e Ciências e Tecnologia, e irá do Monte da Caparica ao Porto Brandão, é promovida pela Universidade Nova de Lisboa em conjunto com vários promotores como a Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz e a Santa Casa da Misericórdia de Almada..Outra grande obra que será feita em Almada nos próximos anos, parte do projeto Arco Ribeirinho Sul, foi apresentada pelo governo em março - incluirá 38 quilómetros de área pedonal e ciclável que ligará esta cidade a Alcochete, mas também o arranque da reabilitação dos antigos estaleiros da Lisnave, na Margueira..Mais complicada parece estar a reabilitação do Cais do Ginjal, que se encontra num avançado estado de degradação, cujo plano de pormenor foi aprovado pela autarquia em novembro de 2020 e onde o grupo AFA pretende implementar um projeto imobiliário de 300 milhões de euros (contempla a a construção de 300 fogos habitacionais, equipamentos sociais, um hotel, entre outras valências). "Tivemos agora uma notícia terrível do tribunal administrativo relativamente ao reconhecimento de propriedade e aquilo que era de domínio público ou não. Depois de uma primeira decisão, ainda não para a totalidade, que reconhecia a titularidade ao privado, agora tivemos um revés horrível quando o Estado decidiu recorrer. Não percebemos o que o Estado pretende com aquilo, não sei se pretende fazer a reabilitação. Para nós não faz sentido nenhum, ficámos sem entender qual é o racional da decisão, é promover a ruína", desabafa a autarca, lembrando que a câmara não tem qualquer envolvimento direto neste projeto, bem como na zona da antiga Lisnave, "ao contrário do Innovation District, onde a autarquia foi motor da criação do projeto"..O desenvolvimento destes três grandes projetos tem de ser acompanhado por algo que Inês de Medeiros considera ser um grande desafio para Almada: a mobilidade. "Nós defendemos uma nova travessia entre Almada e Lisboa, mas também um grande reforço da ligação por barco", começa por dizer, lembrando que também já foram dados passos importantes nesta área, como a criação do passe Navegante e da Carris Metropolitana. "Os efeitos desta nova rede de transportes públicos rodoviários, que ainda não está implementada a 100% em Almada (faltam umas dez a doze carreiras), já estão a ser sentidos pelos almadenses. Tínhamos zonas do território que eram autênticos desertos de transporte público, nomeadamente aquela que é agora a nossa maior e mais populosa freguesia, a Charneca de Caparica/Sobreda"..Em termos de mobilidade suave, Inês de Medeiros diz que a autarquia tem estado a criar novas zonas cicláveis estruturantes que serão ligadas às já existentes, que estão a ser reabilitadas, como a ligação à Trafaria e aos barcos e uma outra entre a Avenida do Mar e o Seixal. Quanto aos meios, o concelho tem um protocolo com cinco operadores privados de bicicletas e trotinetas. "Não excluímos a hipótese de criar um serviço municipal como a GIRA em Lisboa, mas é preciso ver a afluência e a implementação deste serviço"..Inês de Medeiros admite que nem tudo é bom em Almada, dizendo ter encontrado no concelho "situações sociais inaceitáveis" e que ainda não conseguiu resolver na totalidade desde a sua eleição, em 2017. Uma delas é o facto de existirem grandes zonas do município que ainda precisam de infraestruturas básicas, como na freguesia da Charneca de Caparica/Sobreda que ainda não tem um sistema de saneamento consolidado..Mas "o lado mais negro", palavras da autarca, é a ainda existência do Segundo Torrão, "um dos maiores bairros de abarracamento do país", e do bairro Terras da Costa. No caso do Torrão, o primeiro processo de realojamento ocorreu em outubro e a forma como foram feitas as demolições e os realojamentos foi alvo de críticas. "Há 150 pessoas que já foram realojadas por questões de segurança da vala do Segundo Torrão", afirma Inês de Medeiros. "Nas Terras da Costa temos, neste momento, graças ao PRR, uma candidatura para a reabilitação de todas aquelas terras, com a criação de um agroparque e, em simultâneo, estamos a lançar a construção de mais de uma centena de fogos para tentar resolver o problema deste bairro"..ana.meireles@dn.pt