O dia 18 de julho marcou o início de uma nova etapa para aqueles que lutam por preservar a integridade do bosque centenário da Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, pois foi a data em que a Câmara Municipal de Cascais deu luz verde para a execução das obras do plano de urbanização que prevê a construção naquele local de vários empreendimentos reduzindo a área verde de mais de 50 hectares para cerca de oito..As primeiras reações foram o lançamento de uma nova petição e a realização de uma marcha de protesto no dia 5 de outubro pelas ruas de Carcavelos, mas em cima da mesa está agora, entre outras medidas, o recurso aos tribunais para anular esta decisão da autarquia. "Estas novas iniciativas surgem fundamentalmente pela iminência da entrada das máquinas no terreno e pela destruição que pode acontecer a qualquer momento daquele património verde e único", explicou ao DN Pedro Jordão, do movimento SOS Quinta dos Ingleses.."A Câmara de Cascais, no dia 18 de julho, deliberou em sessão camarária proceder à execução do contrato para a realização de infraestruturas com a Alves Ribeiro e o colégio Saint Julian"s School, que são os proprietários e, portanto, as obras podem avançar a qualquer momento", acrescenta..Em causa está o Plano de Pormenor de Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS) aprovado em 2014, que prevê a reestruturação urbanística de uma área de 54 hectares, onde se situa o colégio, com a criação de um parque urbano, a "preservação e valorização do conjunto edificado da Quinta dos Ingleses" e um empreendimento de "usos habitacionais, de comércio, de serviços, hoteleiro e outros". O promotor da obra é a empresa Alves Ribeiro.."Trata-se de uma área superior a 50 hectares de zona verde, o que equivale a 50 campos de futebol. Se a construção for avante, ficará reduzida a menos de oito campos de futebol, ficará com uma área inferior ao Terreiro do Paço", alertou Pedro Jordão, recordando: "Está prevista a construção de 850 apartamentos, cerca de 150 unidades turísticas, hotéis, um gigantesco centro comercial com zonas de escritórios, e alguns equipamentos públicos, nomeadamente uns campos de futebol que a câmara considera integrados na área verde, certamente porque são de relva e a relva é verde, é a única razão para a câmara os poder integrar como área verde do espaço que vai ser pouco mais do que um jardim mais alargado rodeado de prédios até oito andares a toda a volta.".De acordo com a SOS Quinta dos Ingleses, a importância deste local não se limita à sua importância ambiental, mas também histórica e cultural, pois ali existe uma parte da muralha de defesa da linha da costa integrada nas Linhas de Torres contra as invasões napoleónicas, mas também por ali ter sido instalado o cabo submarino que fazia a ligação telegráfica entre Portugal, Inglaterra e o resto do mundo, havendo o interesse do museu existente em Inglaterra sobre este assunto com o objetivo de fazer um núcleo museológico.."Além disso, esta urbanização implicará praticamente uma privatização da praia de Carcavelos, porque a área de estacionamento ficará muito mais reduzida e, sendo aquela a praia mais concorrida da zona de Lisboa, deixará de poder ser fruída por tanta gente", garantiu Pedro Jordão, alertando ainda para o facto de a impermeabilização dos solos, decido à construção, levará a que a zona deixe de servir de proteção à subida do nível do mar e do depósito de areias..Este assunto já chegou a ser debatido na Assembleia da República, tendo, em maio de 2021, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, garantido na Comissão Parlamentar do Ambiente, Energia e Ordenamento do Território que a autarquia não consegue travar este projeto de urbanização, pois tal implicaria o pagamento de uma "indemnização incomportável", já que os promotores da obra "têm direito adquirido sobre aqueles terrenos"..Um argumento que não convence os defensores da Quinta dos Ingleses e que os levou, no passado dia 4, a apresentar um requerimento à Câmara de Cascais a pedir o acesso a documentos administrativos e aos processos judiciais que envolvam a Alves Ribeiro. Caso a autarquia não responda a este requerimento avançarão para uma intimação judicial. Lembram ainda uma resolução da Assembleia da República, aprovada a 18 de junho de 2021, que classifica a Quinta dos Ingleses como uma "paisagem protegida de âmbito local", mas não só. "No seguimento, o anterior ministro do Ambiente [João Pedro Matos Fernandes] enviou uma carta à Câmara de Cascais a frisar que, no entendimento do ministério, a autarquia deveria reanalisar o processo porque poderiam estar caducados ou não existirem sequer quaisquer direitos de construção por parte da Alves Ribeiro, o que anula a argumentação camarária de que terá de pagar uma indemnização milionária no caso de impedir agora a construção", refere Pedro Jordão..A petição "Pela proteção da mata da Quinta dos Ingleses", lançada em agosto, já conta com mais 2700 assinaturas, o suficiente para o assunto voltar a ser discutido em comissão parlamentar. O movimento tenciona avançar também esta semana com uma intimação judicial caso não recebam resposta da autarquia ao seu requerimento. Nessa altura deverá também divulgar uma carta aberta ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, em conjunto com outras associações ambientais de âmbito nacional. "Além disso, é provável que avancemos com uma ação judicial para impugnar a deliberação da câmara de 18 de julho", garante o representante do movimento de defesa da Quinta dos Ingleses..ana.meireles@dn.pt