Foram, esta semana, apresentados os primeiros resultados da prospeção arqueológica através de um método pioneiro, não-invasivo. A capital portuguesa foi escolhida pela necessidade de experimentar esta tecnologia num espaço urbano complexo, onde estivesse garantida a existência de realidades arqueológicas no seu subsolo, como é o caso de Lisboa. “É uma cidade com um vasto património arqueológico no seu subsolo e a intenção foi associar a prospeção pioneira no subsolo urbano e a realização, pela primeira vez, da Conferência Europeia em Tecnologias Quânticas na cidade de Lisboa”, disse ao DN Yasser Omar, presidente do PQI (Portuguese Quantum Institute) e professor no Instituto Superior Técnico (IST). .Esta conferência, coorganizada pelo PQI, pela Comissão Europeia e pelo programa europeu em Tecnologias Quânticas - a Quantum Flagship -, pretendeu igualmente dar visibilidade aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos da União Europeia (UE). Por iniciativa do PQI, revela Yasser Omar, “esta experiência pioneira foi organizada para combinar uma tecnologia emergente com a História de Lisboa, e trazer a cidade, e Portugal, para a frente da onda de investigação científica neste domínio”. .Muito satisfeito com as possibilidades que a tecnologia, testada no subsolo de Lisboa, apresenta para o futuro, o professor garante que foi obtido “um resultado histórico”, que abre a perspetiva de utilizar a gravimetria quântica para prospeção arqueológica sem escavações. “Tem aplicações não só na investigação histórica, mas também para a construção civil em zonas históricas”, salienta. .“Trata-se de uma tecnologia que permite essa leitura e que merece ser desenvolvida e integrada nas ferramentas atualmente disponíveis para este tipo de prospeções”, acrescenta António Marques, Coordenador do CAL - Centro de Arqueologia de Lisboa (Câmara Municipal de Lisboa) e arqueólogo. .Investigar sem escavar.Com esta nova abordagem científica, o objetivo é obter leituras preliminares que desvendem património arqueológico oculto, antes de realizar escavações arqueológicas e, desta forma, ter uma nova ferramenta de monitorização, que proporcione uma aproximação às realidades históricas existentes sob os atuais níveis de circulação da cidade, de uma forma não-invasiva..“Este método usa a interação entre átomos para detetar diferentes densidades de massa”, explica Yasser Omar que, exemplifica: “Uma rocha é mais densa que areia, que por sua vez é mais densa que o ar. Se estivermos em cima de um chão de areia, que está por cima de um túnel de pedra, este método permite identificar onde está a pedra, e a cavidade subterrânea. A força da gravidade relativa à massa destes diferentes materiais afeta o movimento dos átomos dentro do sensor de forma diferente, permitindo identificar onde estão.” .Questionados sobre a possibilidade de utilizar este método noutros locais, os investigadores assumem que essa é a meta num futuro próximo. Contudo, “este método tem de ser ainda apurado e desenvolvido recorrendo a outro tipo de realidades arqueológicas, eventualmente rurais também”, afirma António Marques..Uma opinião partilhada por Yasser Omar, que acrescenta a importância de “continuar e refinar esta investigação para identificar estruturas arquitetónicas, entre outras realidades”. .Já no que se refere a custos com a utilização desta tecnologia, o professor do IST revela que o equipamento tem um investimento elevado, até por se tratar de uma nova aplicação desta tecnologia, mas, defende: “O investimento deve ser avaliado não apenas pelo equipamento desenvolvido, mas também pelo seu impacto e retorno.”.Para já são apenas experiências científicas, embora estejam a ser desenvolvidos aparelhos comerciais, que poderão até ser usados noutras prospeções, através de aluguer. Mas o que importa, garante Yasser Omar, é que “sabemos que o impacto desta experiência no terreno se realizou em três dias, e não foi de forma alguma intrusivo, o que são excelentes notícias para a arqueologia e para a gestão cultural e urbana das cidades”.